Page 53 - RBCE 162
P. 53

RBCE - A revista da



          sil após o ataque especulativo de 1999 e, mais recente-
          mente, como parece ter sido o caso ocorrido no  nal de   “
          2024, como especularemos nos resultados empíricos da      Somente as economias desenvolvidas,
          próxima seção.                                            que transacionam ativos denominados
                                                                    em moedas conversíveis com elevados
          Se as forças de mercado nem sempre são e cientes para
          promover o ajuste ou evitar expressivos desalinhamen-     prêmios de liquidez, podem se dar ao
          tos cambiais (especialmente, sobrevalorizações), a prin-  luxo de praticar um regime  utuante
          cipal implicação normativa é que os policy-makers  (no          quase puro, como o Brasil
          nosso caso, o Banco Central) devem envidar esforços
          não apenas para evitar volatilidade, mas também para                                              ”
          impedir que a taxa de câmbio nominal se desvie de seu
          nível real “ótimo”, situação em que se acumulam, por um
          lado, níveis de sobrevalorização ao longo do tempo, ou,   garitmos, sendo: RER, a taxa de câmbio real observada;
          por outro lado, excessiva subvalorização, que, por ser  C, o termo constante; Y, o PIB real per capita em dólares
          in acionária, tampouco é recomendável. Em outras pa-  norte-americanos  (proxy  para  o  efeito  Harrod-Balassa-
          lavras, em vez de um regime de  utuação pura ou “suja”,   -Samuelson); ToT,  os  termos  de  troca;  CC,  o  saldo  em
          o regime cambial mais apropriado é o de  utuação ad-  Conta  Corrente  do  Balanço  de  Pagamentos,  expresso
                                                                                    3
          ministrada, que é, segundo Aizenman et.al., 2010, o re-  como proporção do PIB;  IDIFER, o diferencial entre a
          gime que caracteriza a maioria dos países em desenvolvi-  taxa de juros de curto prazo doméstica (Selic/Over a.m.)
          mento da Ásia na atualidade.                        e a taxa de juros de curto prazo internacional (US T-No-
                                                              te para 2 anos, transformada em taxas mensais, tomada
          O segundo aspecto que distingue os dois modelos é que,  como proxy da taxa de juros de curto prazo externa); RI é
          enquanto nos modelos convencionais apenas as variáveis  o estoque de reservas internacionais brasileiras expresso
          associadas  a  choques  de  curto  prazo  são  as  responsáveis  como proporção do PIB; CR é o prêmio de risco-Brasil,
          por desalinhar a taxa de câmbio real de seu nível de equi-  representado pelo EMBI Brazil So ereign Foreign Cur-
                                                                                 4
          líbrio de longo prazo, em nosso modelo estruturalista-ke-  rency, do JP Morgan;  ε é o termo de erro da regressão e
          ynesiano proposto, todas as componentes do lado direito  os subscritos t são a referência temporal (em nossa mo-
          da equação (1) podem explicar simultaneamente o desa-  delagem  econométrica,  refere-se  a  um  mês).  Enquanto
          linhamento cambial quer de seu nível de equilíbrio “neu-  as três primeiras variáveis do lado direito da equação (2)
          tro” quer da taxa real “ótima” no longo prazo, como mos-  são nossas variáveis estruturais (ou seja, a renda per capita
          tra a caixa de texto inserida abaixo da referida equação.  Y, os termos de troca ToT e o saldo em Conta Corrente
                                                              do Balanço de Pagamentos (CC), as demais são variáveis
                                                              associadas à política econômica de curto prazo. As fontes
          ESTIMATIVA ECONOMÉTRICA:                            da base de dados da análise, que cobre o período de janei-
          A TAXA DE CÂMBIO REAL “ÓTIMA”                       ro de 1999 a junho de 2024, estão descritas no Apêndice.

          PARA O DESENVOLVIMENTO                              A escolha das variáveis de nosso modelo não é arbitrária,
          BRASILEIRO                                          posto que está presente em grande parte dos modelos
                                                              de determinação da taxa de câmbio real (ver, por ex.,
          A especi cação econométrica do modelo de determina-  Helmers, 1988; Edwards, 1988; Calvo, Leiderman e
          ção da trajetória da taxa de câmbio real no longo prazo   Reinhart, 1993; Rodrik, 2008; Berg e Miao, 2010). Par-
          é expressa como:                                    ticularmente com respeito às variáveis de curto prazo, a
                                                              literatura keynesiana (ver Harvey, 2006; e Kaltenbrun-
                                                              ner, 2008) sugere que as variáveis de policy escolhidas (o
          em que todas as variáveis do modelo são expressas em lo-  diferencial de juros, o estoque de reservas internacionais
                                        ............................................................................

          3  Seguindo Bogdanski, Tombini e Werlang (2000), no caso dos saldos em Conta Corrente (CC), quando apresentaram sinais negativos, tivemos de adicio-
          nar um número positivo para que pudéssemos aplicar a forma logarítmica. Nesses casos, adotamos o seguinte procedimento: CC = 1 + CC.
          4  A escolha do EMBI como medida apropriada para avaliar o risco-Brasil é referendada pelo Banco Central do Brasil (2015), de acordo com o qual, “no
          mercado, os indicadores diários mais utilizados para essa  nalidade [a de mensurar o risco de crédito dos investidores estrangeiros no Brasil] são o EM-
          BI+Br e o Credit Default Swap (CDS) do Brasil”.


          Nº  162 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2025                                                       47
   48   49   50   51   52   53   54   55   56   57   58