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RBCE - A revista da



          apenas 6 meses. A alta expressiva da taxa de câmbio, atin- “  Nossa recomendação é que o Banco
          Em 31 de dezembro de 2024, a taxa de câmbio nominal
          fechou em R$ 6,19/US$, uma depreciação de 14,8% em

          gida em poucos meses, é resultado de um forte movimen-    Central do Brasil se mire no exemplo
          to especulativo contra o real brasileiro. De fato, o real foi,   de diversos países em desenvolvimento
          dentre os países emergentes, a moeda que mais se desvalo-    da Ásia (notadamente, a Índia) e
          rizou no segundo semestre de 2024. Mais recentemente,
          depois de alcançar a máxima de R$6,20/US$ no primeiro       reestime periodicamente (mas sem
          dia útil de janeiro de 2025 (contra média de R$4,95/US$   explicitar ao mercado) a taxa de câmbio
          em janeiro do ano anterior, uma depreciação nominal de    real “ótima”. E, frente aos dois últimos
          25,2%!), a taxa de câmbio nominal média já havia recua-     cenários, reaja proativamente para
          do para R$5,73/US$ em meados de fevereiro de 2025.
                                                                     evitar que a taxa de câmbio nominal
          Embora nossa série estimada termine em junho de 2024,         se desvie de seu nível “ótimo”
          como não houve mudanças profundas nos fundamentos
          da  economia  brasileira  desde  então,  podemos  concluir                                        ”
          que a taxa de câmbio nominal em vigor em meados de fe-
          vereiro de 2025 (R$5,73/US$, mais precisamente no dia
          14/02/2025)  embute  uma  excessiva  subvalorização  (de  regimes de câmbio  utuantes administrados, caracteri-
          6,11%) em relação ao nível “ótimo” (R$5,40/US$). Com   zados pela maior frequência com que os policy-makers
          efeito, como o nível “ótimo” já incorpora uma ligeira sub-  intervêm nos mercados de câmbio à vista e a termo, vi-
          valorização, é lícito concluir que taxas de câmbio nomi-  sando assegurar a estabilidade da taxa de câmbio real.
          nais observadas superiores a esse nível são in acionárias.  Neste trabalho, estimamos que, em junho de 2024, a
                                                              taxa de câmbio real “ótima” para assegurar o desenvol-
                                                              vimento econômico e a estabilidade de preços no Brasil
          CONCLUSÃO                                           era de R$5,40/US$ (quase igual à taxa média observa-
                                                              da, de R$5,39/US$). Haja vista a ausência de mudan-
          No  nal de 2024, o Brasil sofreu mais um choque cambial.  ças signi cativas nos fundamentos econômicos desde
          Essa tem sido a tendência recorrente desde o Plano Real  então, podemos concluir que a taxa de câmbio nominal
          (1994). Mesmo após a adoção do regime de câmbio     média de R$5,73/US$, registrada no dia 14 de feverei-
           utuante, o real brasileiro tem sido uma das moedas  ro de 2025, embutia uma subvalorização real de 6,11%
          mais voláteis do mundo e sua taxa de câmbio em rela-  em relação à taxa de câmbio real de equilíbrio “ótimo”.
          ção ao dólar tem alternado longos períodos de acentua-  Como esta última já incorpora uma ligeira subvaloriza-
          da apreciação real, nos ciclos de bonança internacional,  ção, é lícito concluir que o câmbio atual, por estar exces-
          com períodos mais curtos de excessiva depreciação real  sivamente subvalorizado, é in acionário.
          (overshooting), nas fases de turbulência internacional.
          Esse comportamento errático ocorre porque o Banco   Podemos vislumbrar três cenários possíveis para a taxa
          Central pratica um regime quase puro de livre  utuação   de câmbio no curto e no médio prazo:
          cambial. Nossa autoridade monetária manifesta enorme   i) na ausência de novos movimentos especulativos, ela
          tolerância com níveis acentuados de sobrevalorização  poderá recuar para o nível “ótimo” (R$5,40/US$) ou
          da moeda nacional por longos períodos, porque facili-  mesmo se estabilizar no intervalo de R$5,40/US$ e
          ta sua tarefa de convergir a in ação para a meta, e tem   R$6,00/US$ – neste caso, não se recomenda qualquer
          mostrado sinais de fraqueza nos episódios de ataques  intervenção do Banco Central, já que os aumentos em
          especulativos que levam a overshootings cambiais, como   curso da taxa básica de juros visam coibir os efeitos se-
          o ocorrido no  nal de 2024. Somente as economias    cundários do recente choque cambial sobre a in ação;
          desenvolvidas, por disporem de ativos negociados em
          moedas conversíveis que oferecem elevados prêmios de  ii) caso haja novas turbulências no ambiente internacional
          liquidez, podem se dar ao luxo de praticar um regime  ou deterioração dos indicadores econômicos domésticos,
           utuante quase puro, como o Brasil. Em contraste, as  o recrudescimento da incerteza poderá provocar mais epi-
          economias em desenvolvimento asiáticas, a despeito do  sódios de overshooting cambial, elevando a taxa de câmbio
          elevado grau de abertura aos  uxos de capitais, praticam  nominal para níveis superiores a R$6,00/US$; e


          Nº  162 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2025                                                       51
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