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Câmbio e Pagamentos Internacionais
Estimação da taxa de câmbio real de equilíbrio
“ótima” para o desenvolvimento brasileiro:
uma atualização
André Nassif Carmem Feijó Eliane Araújo
A literatura teórica e empírica é taxativa quanto à preservação de uma taxa de câmbio real “competitiva” – isto é,
ligeiramente subvalorizada em relação ao nível de equilíbrio “neutro” de longo prazo – para assegurar um processo
exitoso de desenvolvimento econômico nos países periféricos (Ros, 2013; Rodrik, 2008; Gala, 2008; Berg e Miao,
2010). Isso porque, segundo diversos autores (Balassa e associados, 1982; Kaldor, 1966; 1970; Gala, 2008; Ros,
2013; Bresser-Pereira, 2020), a preservação da taxa de câmbio real em nível competitivo:
i) induz a alocação de recursos para os setores de bens e serviços comercializáveis (tradables), ao aumentar seus pre-
ços relativos, bene ciando, indiretamente, os setores produtores de bens não-comercializáveis tradicionais (nontra-
dables), como transporte, construção, logística, dentre outros;
ii) promove mudanças estruturais benignas nos países em desenvolvimento, através do incremento da participação
dos setores produtores de bens e serviços de maior so sticação tecnológica, que detêm maior produtividade relativa,
em detrimento dos setores produtores de commodities, que se caracterizam por menor produtividade relativa; e
iii) acelera o avanço dos setores geradores e propagadores de progresso técnico, sobretudo dos segmentos sujeitos a
elevadas economias de escala, disseminando os ganhos de produtividade para a economia como um todo. Embora
a taxa de câmbio real competitiva exerça impactos diferenciados intersetorialmente, inclusive no âmbito das cadeias
produtivas tecnologicamente mais so sticadas, são indubitáveis os benefícios gerais incidentes sobre as atividades
domésticas que competem com as importações e sobre os setores de produtos exportáveis.
Alguns autores heterodoxos alegam que a desvalorização cambial, ao ajustar a taxa de câmbio nominal para o nível
competitivo e encerrar um ciclo de sobrevalorização da moeda doméstica, reduz os salários reais e piora a distribui-
ção de renda apropriada pelos trabalhadores. No entanto, esse efeito adverso só é observado no curto prazo. Como
mostra Ros (2013), uma vez que o ajuste cambial para o nível competitivo aumenta a expectativa de lucros espera-
dos e reativa os investimentos produtivos (físicos e em inovações), o declínio dos salários reais tende a ser revertido e
recompensado pelo avanço da produtividade. Ou seja, no longo prazo, uma ligeira subvalorização da moeda nacio-
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André Nassif é professor associado do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Carmem Feijó é professora titular do Departamento de Economia da UFF.
Eliane Araújo é professora associada do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
44 Nº 162 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2025