Page 23 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
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          Por isso, há excesso de demanda por recursos nessa linha  é especializado em financiar bens intensivos em tecno-
          de trade finance. Nesse caso, o Tesouro Nacional sofre  logia e serviços com base em recursos do FAT. O Banco
          um risco de exposição singular e, também, de gestão de  do Brasil, em pequenas e médias empresas exportado-
          tesouraria. De fato, o tesouro nacional tem incialmente  ras com recursos do Proex Financiamento, e atende e
          um volume de reais aprovado e alocado na rubrica orça-  repassa aos exportadores (e seus bancos) os recursos do
          mentária do Tesouro Nacional. Esse “volume de reais”,  Proex – apesar das dificuldades inerentes ao marketing
          em tese, vai ser convertido em um título representativo  design  “inapropriado para uma jabuticaba”. Vale lem-
          da União para ser “entregue” ao “banco” do exportador  brar também que nesse desenho, com recursos do FNO
          nacional. Passada essa fase, a questão é estabelecer o di-  e do FNE, o Basa e o BNB estruturaram suas carteiras
          ferencial entre a taxa de juros interna e a externa a ser  de projetos de exportação, voltadas para atender àquelas
          equalizada. No passado, isso era feito por circular Bacen,  regiões.
          pois o produto era uma “jabuticaba” criada pelo Bacen e
          o Gefin-Cacex, e o valor do diferencial dos juros interno  Isso tudo facilita uma maior capilaridade do sistema de
          e externo nos anos 1980 e 1990 permaneceu fixo.     financiamento oficial às exportações brasileiras. Mas,
                                                              com a decisão do ME de reanalisar o desenho do sistema
          Do ponto de vista teórico e histórico, esse parece ser tal-  de financiamento oficial das exportações, faz-se neces-
          vez um caso “novo” de market design para estruturar uma   sário indagar prospectivamente qual o desenho “dese-
          operação de swap, entre taxas de juros interna e externa.   jável” para inserir as empresas exportadoras no “novo”
          Essa operação pode ser arbitrada, organizada, e estrutu-  sistema, “identificar” novas fontes de recursos públicos
          rada “hoje” (ou a cada dia) via “mercado spot”. Ou seja,   e privados para financiar as exportações e, sobretudo,
          se se puder derivar essa operação de “hoje” para o futuro,   enfrentar a questão do seguro de crédito às exportações.
          poderemos desenhar um mercado de opções, ou futuro.
          De fato, de um mercado spot se deriva um mercado de  Na verdade – dada a assimetria de informações no mer-
          opções e/ou futuro. Vale lembrar que cada um deles terá  cado de crédito – é preciso incentivar a provisão de in-
          a sua especificidade e tipologia, mas no caso da “jabuti-  formações típica de uma “Serasa de exportação” que via-
          caba” do Proex Equalização, quando da sua criação na  bilizassem o estabelecimento de trade scores das empresas
          década de 1970 ela funcionava como trava de câmbio,  exportadoras nacionais, principalmente as que atuam de
          fechado no balcão à época da gerência de financiamento  forma frequente e contínua nas exportações. Isso melho-
          às exportações da Cacex-Banco do Brasil.            raria o relacionamento entre empresas exportadoras e
                                                              bancos privados e incentivaria mais instituições financei-
          Com a chamada globalização financeira, os mercados de   ras e não financeiras privadas a operar no financiamento
          swap  de taxas, de diferenciais de taxas de juros evolui-  de exportações. Cabe ressaltar que com a provisão de tra-
          riam, e, hoje, consegue-se precificar na data spot ou no   de scores por meio de um tipo de parceria público privada
          futuro os títulos. Contudo, em termos de gestão públi-  se reduziriam os riscos associados ao financiamento às
          ca, a programação orçamentária e financeira do Tesouro   exportações ao mesmo tempo que se incentivaria o setor
          Nacional, qualquer que seja o volume em reais posto no
          orçamento da União para o Proex, não permite estabe-
          lecer – no caso do Proex Equalização – uma “trava” do
          diferencial entre taxa de juros interna e externa marcada  “
          a balcão ou a mercado. De fato, isso é um problema de    Dada a assimetria de informações no
          gestão de tesouraria internacional, e de market design, de   mercado de crédito – é preciso
          difícil resolução no âmbito dos riscos fiscais que even-
          tualmente possam ser incorridos pelo Tesouro Nacio-      incentivar a provisão de informações
          nal. Mais ainda, as operações de financiamento dessas    típica de uma “Serasa de exportação”
          empresas podem ser cursadas no âmbito do mercado de       que viabilizassem o estabelecimento
          capitais ou podem ser financiadas com moeda nacional,
          principalmente à medida que o real (moeda) se interna-        de trade scores das empresas
          cionalize e tenha mais convertibilidade.                 exportadoras nacionais, principalmente

          Hoje, estamos numa fase do desenho do sistema oficial     as que atuam de forma frequente e
          de financiamento às exportações com base em recursos           contínua nas exportações
          públicos em moeda nacional em que se pode constatar
          um tipo de especialização. Em outras palavras, o BNDES                                            ”


          Nº  153 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2022                                                     19
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