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Macroeconomia Argentina

presentaria uma expansão da base monetária superior a     As altas taxas de juros, que chegaram ao pico de 38%, e a
25% se o Banco Central não promovesse sua absorção        forte restrição na oferta monetária real afetaram muito
com o uso das Lebacs. Porém, no primeiro semestre de      menos a inflação do que a taxa de câmbio nominal, que
2016, a base cresceu menos de 3%, o que está abaixo do    tendeu a baixar. Como consequência, a taxa de câmbio
que cresceram os preços mensalmente, em média, no         real perdeu uma parte do que havia ganhado com a eli-
semestre. Como consequência da intensidade da ab-         minação do cepo cambial. Embora isso tenha ajudado a
sorção, hoje as Lebacs representam três quartos da base   desacelerar a inflação, não estimulou a competitividade.
monetária e gerarão um déficit quase-fiscal que poderia   Replicando a dinâmica que costuma ser observada em
superar 2% do PIB, e se somar ao déficit do governo.      contextos desse tipo, hoje em dia os preços dos bens não
O Banco Central optou, visivelmente, por pagar esse       comercializáveis estão subindo mais do que os dos co-
custo, apostando em uma forte desaceleração da inflação   mercializáveis. Em particular, a inflação em serviços está
no segundo semestre. É evidente que isso em nada bene-    muito acima da observada nos bens. Os salários também
ficiou o nível de atividade econômica e, provavelmente    estão subindo como resultado da ação das paritarias (ne-
por essa razão, as autoridades monetárias se apressaram,  gociações salariais), revertendo paulatinamente a queda
no último mês, a estimular reduções na taxa das Lebacs,   do seu valor em dólares, logo depois da eliminação do
mesmo quando a inflação ainda estiver bem acima dos       cepo cambial. Uma boa notícia para o nível de ativida-
níveis almejados.                                         de econômica, mas não para a inflação em serviços nem
A despeito da forte contração monetária, os preços ain-   para a correção de preços relativos necessária para elevar
da estão aumentando. A inflação mensal média desde        a rentabilidade na produção de bens comercializáveis. A
princípios do ano situou-se em torno de 4% ao mês, em     rentabilidade não faz distinção entre o núcleo da infla-
média, e apenas em julho ficou abaixo desse percentual    ção e outras medidas de inflação mais abrangentes.
(2,2%). Por outro lado, o nível de atividade econômi-     E como a restrição externa reagiu a tudo isso? Para co-
ca mostra uma evolução desalentadora. Espera-se que o     meçar, os choques externos –queda das commodities e
PIB caia entre 1% e 2% este ano, e isso não seria um mau  das exportações para o Brasil – estão longe de reverte-
resultado à luz do que vem ocorrendo com a indústria, a   rem e, por isso, convém não esquecê-los: há que se ajus-
construção civil e as vendas no varejo.                   tar a taxa de câmbio real para amortecer os efeitos desses
                                                          choques sobre as exportações e o superávit comercial.

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GRÁFICO 3
EVOLUÇÃO DA FRENTE EXTERNA - TAXA DE CÂMBIO REAL

160

150

140 Multilateral
130 Com Brasil
120 Com Estados Unidos
110 Com China
100

 90

 80

1/Dez/15
   17/Dez/15

       2/Jan/16
           18/Jan/16
               3/Fev/16
                   19/Fev/16
                       6/Mar/16
                           22/Mar/16
                               7/Abr/16
                                   23/Abr/16
                                       9/Mai/16
                                          25/Mai/16
                                              10/Jun/16
                                                  26/Jun/16
                                                      12/Jul/16
                                                          28/Jul/16
                                                              13/Ago/16

   Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Banco Central da República Argentina.  Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016

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