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Macroeconomia Argentina

Tempos difíceis. A macroeconomia
argentina nos primeiros meses do
governo Macri e as perspectivas futuras

José María Fanelli  Ramiro Albrieu                       José María Fanelli
                                    é Doutor em Economia, professor da Universidade de San

                                            Andrés e Pesquisador do Cedes e do Conicet
                                                          Ramiro Albrieu

                                    é economista, professor na Universidade de Buenos Aires e
                                                         pesquisador do Cedes

  Já se passou mais de um semestre de política econômica sob o governo de Maurício Macri e, ainda que seja pouco
  tempo para avaliar resultados – sobretudo se for levada em conta a profundidade dos desequilíbrios herdados –,
  pode ser útil observar o que vem acontecendo na Argentina. Isso pode nos ajudar a avaliar cenários alternativos
  daqui para frente. Para tal, vamos dar um passo atrás e observar o panorama.

  A HERANÇA, A ESTRATÉGIA E O ESPERADO

  Os desequilíbrios macroeconômicos fundamentais deixados pelo governo anterior podem ser resumidos em três:
  o déficit fiscal, a escassez de divisas e o clima de negócios ruim. Tiveram, por sua vez, duas consequências muito
  negativas: a inflação e o estancamento do nível de atividade econômica.
  Os desequilíbrios geraram inflação e forças recessivas por meio de diversos canais. Como o déficit fiscal não podia
  ser financiado e tinha-se que recorrer à emissão, a inflação foi alimentada continuamente. Para que a expansão mo-
  netária não alimentasse também a fuga de capitais, o controle (cepo) cambial tornou-se indispensável, impossibili-
  tando o ingresso de capitais.
  Em um clima desfavorável e sem dólares suficientes para os negócios, o investimento era muito baixo e as importa-
  ções insuficientes, de modo que as restrições a essas últimas traduziram-se na falta de insumos para produzir e em
  aumentos do preço desses insumos. Como nem a oferta global nem a demanda podiam ser ampliadas, o equilíbrio
  entre ambas se dava em um nível baixo, dificultando a geração de empregos. A tentativa final do governo de melho-
  rar a situação por meio da expansão do gasto público e do atraso cambial no período eleitoral não fez mais do que
  ampliar os desequilíbrios. Nesse contexto, a renda real da população diminuiu e a pobreza aumentou.
  O déficit fiscal tinha múltiplas causas, mas a única que podia ser enfrentada com alguma probabilidade de êxito e
  impacto quantitativamente significativo, no curto prazo, eram os subsídios ao consumo de energia e ao transporte.
  A escassez de dólares tinha sua raiz profunda nas mesmas debilidades que a Argentina sofre faz décadas – a falta de
  diversificação das exportações e a lenta evolução da produtividade –, mas que foram agravadas por dois choques ex-
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