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Momento Atual


          Empresas que entram preparadas evitam retrabalho,   cadeias de suprimentos locais e internacionais. Cada
          preci cam corretamente, constroem alianças locais e ga-  quilômetro percorrido e cada hora economizada fazem
          nham credibilidade. A pressa em ‘marcar presença’ sem  diferença em contratos com margens apertadas.
          um plano sólido pode custar caro — literalmente.
                                                              Empresas de sucesso adotam soluções modulares, uti-
          O Brasil tem um histórico relevante de internacionalização  lizam centros logísticos regionais, criam rotas otimiza-
          no setor de construção, com aprendizados que devem ser  das e contam com equipes de suprimentos experientes.
          absorvidos por novos entrantes. Experiências em Angola,  Engenharia e logística caminham juntas, e a excelência
          em metros no Panamá ou obras rodoviárias no Peru mos-  nesse aspecto de ne não apenas a performance, mas a
          tram tanto o potencial quanto os riscos de atuar no exterior.  viabilidade do projeto como um todo.
          Hoje, empresas médias brasileiras atuam de forma mais  O conceito de obra ‘entregue e encerrada’ está sendo
          cautelosa e especializada em mercados como Bolívia,  superado. Em contratos modernos — especialmente
          Paraguai e Peru, focando em nichos e criando alianças  PPPs, concessões e projetos de  nanciamento multilate-
          com empresas locais. Essa estratégia de inserção gradu-  ral — a empresa construtora é também responsável pela
          al, técnica e juridicamente preparada vem apresentando  operação e manutenção (O&M) da infraestrutura por
          bons resultados.                                    anos ou décadas após a conclusão.
          Estudar esses casos não é apenas uma curiosidade — é  Essa realidade exige novas competências: gestão de ati-
          uma forma de reduzir riscos, evitar erros e replicar prá-  vos, manutenção preventiva, indicadores de desempe-
          ticas vencedoras. A experiência acumulada do Brasil no  nho, sistemas SCADA, atendimento ao usuário  nal
          exterior, é uma biblioteca viva que ainda precisa ser me-  e cumprimento contínuo de obrigações regulatórias. A
          lhor consultada.                                    construtora transforma-se, nesse modelo, em uma ope-
                                                              radora de infraestrutura.
          A construção deixou de ser apenas um tema técnico ou
          econômico. Tornou-se uma questão de geopolítica. Po-  Estar preparado para esse ciclo completo signi ca ga-
          tências globais como China, Estados Unidos e União  rantir contratos mais longos, margens mais estáveis e
          Europeia disputam in uência nos países latino-ameri-  relacionamento duradouro com o cliente público ou
          canos por meio de  nanciamento, acordos e obras de  privado. A visão de longo prazo é a nova fronteira da
          infraestrutura.                                     engenharia global.

          A Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) chinesa, o Global  Em projetos internacionais, especialmente em ambien-
          Gateway europeu e o BID Invest com apoio dos EUA  tes instáveis ou sujeitos a riscos operacionais e políticos,
          exempli cam como as obras viraram instrumentos de   os seguros desempenham um papel estratégico. Eles não
          política externa. A presença de um país  nanciando e  apenas protegem ativos físicos, mas viabilizam a própria
          construindo portos, ferrovias e usinas signi ca presença  contratação e execução dos projetos ao oferecer segu-
          geoestratégica.                                     rança a  nanciadores, governos e contratantes.

          Empresas que entendem essas dinâmicas conseguem an-  Seguro de performance, seguro garantia, seguro de res-
          tecipar tendências, identi car oportunidades alinhadas  ponsabilidade civil, cobertura contra risco político e se-
          aos vetores diplomáticos e escolher com mais precisão  guro de crédito à exportação são algumas das apólices
          seus parceiros e mercados. Infraestrutura, hoje, é tam-  fundamentais para empresas que desejam atuar fora do
          bém diplomacia.                                     Brasil. Muitas vezes, a ausência dessas coberturas im-
                                                              possibilita a participação em licitações  nanciadas por
          Mobilizar obras de grande porte em países com infraes-  organismos multilaterais.
          trutura precária é um desa o que exige inteligência lo-
          gística e visão integrada. Atrasos em portos, estradas mal  Contar com brokers internacionais, entender as exigên-
          conservadas, barreiras alfandegárias e restrições internas  cias locais e incorporar o custo dos seguros à estrutura
          são comuns na América Latina — e precisam ser anteci-   nanceira do projeto é uma boa prática que separa em-
          pados ainda na fase de planejamento.                presas pro ssionais de aventureiras. O seguro não é um
                                                              custo a mais — é um pilar da viabilidade e da sustentabi-
          A logística de execução abrange o transporte de equi-  lidade contratual no mercado global de construção.
          pamentos pesados, instalação de canteiros, gestão de
          estoques, movimentação de pessoal e integração com  Em mercados internacionais, especialmente na Améri-

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