Page 33 - RBCE 163
P. 33
RBCE - A revista da
algo intangível — é um ativo estratégico que in uencia
o acesso a crédito, licitações e parcerias.
Implementar programas de integridade com treina-
mentos, compliance o cer, due diligencie de terceiros
e auditorias recorrentes é mais do que cumprir regras:
é demonstrar compromisso com práticas sustentáveis e
transparentes. A con ança conquistada se transforma
em contratos e oportunidades.
A atuação internacional exige mais do que domínio
técnico: requer maturidade nanceira e capacidade de
gestão cambial. Em projetos fora do Brasil, a empresa
precisa lidar com múltiplas moedas — desde o dólar
como referência contratual até moedas locais com alta
volatilidade como o peso argentino ou o sol peruano.
Flutuações cambiais afetam diretamente a lucratividade
e o uxo de caixa dos contratos. Empresas desprepa-
radas, sem mecanismos de hedge, seguros cambiais ou
estrutura de nanciamento sólida, podem sofrer perdas
severas ou inviabilizar operações.
Além disso, é necessário entender a lógica dos bancos
trabalhadores. Cada um desses setores carrega um enor- locais, exigências de garantias, estruturação de cartas de
me potencial de impacto — e empresas preparadas para crédito, e possibilidades de repatriação de capital. A in-
entregar soluções completas são as mais requisitadas. teligência nanceira, torna-se um ativo estratégico — é
uma linha de defesa contra riscos silenciosos que podem
Você quer saber onde buscar nanciamento? A resposta destruir margens operacionais inteiras.
é estratégica: organismos multilaterais como o BID e o
Banco Mundial, fundos soberanos de países asiáticos e A entrada no mercado latino-americano exige mais do
do Golfo, agências europeias como a KfW alemã, além que vontade: exige método. Uma empresa preparada ana-
de plataformas como a Global Infrastructure Facility. lisa riscos regulatórios, tributários e políticos. Ela constrói
Cada um deles possui foco, critérios e áreas prioritárias. alianças locais, entende as regras de licitação, adapta sua
estrutura para operar em moedas estrangeiras.
Empresas que sabem dialogar com essas instituições que
dominam os frameworks de ESG, que têm clareza sobre Negligenciar essa etapa é o mesmo que construir sobre
riscos e contrapartidas, saem na frente. E mais: parcerias areia. Já investir em planejamento, formação de consór-
com governos locais, concessões estruturadas e participa- cios e estudo de caso de empreendimentos anteriores é
ção em PPPs representam caminhos viáveis e crescentes. garantir competitividade. As empresas que melhor se
saem não são necessariamente as maiores, mas as mais
É bom lembrar que em projetos de infraestrutura nan- bem preparadas.
ciados por bancos multilaterais, agências internacionais
ou governos estrangeiros, a exigência de um sistema de Cada país tem sua cultura, sua forma de negociar, seus
compliance e caz e auditável não é uma formalidade — é prazos e expectativas. Ignorar essas nuances pode minar
um critério eliminatório. Empresas que não demonstram qualquer projeto. Barreiras linguísticas, diferenças na
políticas claras de integridade, prevenção à corrupção e go- gestão de obras, relações trabalhistas e expectativa de
vernança corporativa estão automaticamente fora do jogo. performance são temas críticos.
A experiência brasileira com escândalos no setor de Por isso, a inteligência intercultural se torna uma compe-
construção, especialmente durante a Operação Lava tência-chave. Contratar talentos locais, formar equipes hí-
Jato, reforçou a percepção global da necessidade de me- bridas e manter canais de comunicação abertos são atitudes
canismos robustos de controle interno, ética empresa- que transformam obstáculos em alianças. Empatia, escuta e
rial e canais de denúncia. Hoje, reputação não é mais exibilidade, tornam-se diferenciais competitivos.
Nº 163 - Abril, Maio e Junho de 2025 17