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RBCE - A revista da
efetiva, os instrumentos de intervenção disponíveis no “ Um programa bem-sucedido de
Seria conveniente que o Banco Central do Brasil, a
exemplo dos países asiáticos, mobilizasse, de forma mais
mercado de câmbio (compra e venda de moeda estran- fomento e diversi cação exportadora
geira nos mercados spot e futuro, operações de swaps contribui não apenas para relaxar as
cambiais e, se necessário, controles ad hoc de capitais)
para evitar a sobrevalorização e manter a taxa de câmbio restrições ao crescimento, associadas a
real em nível competitivo. A nal, a literatura teórica e problemas de balanço de pagamentos,
as evidências empíricas mostram que, se preservada uma como também para acelerar o
taxa de câmbio real competitiva e estável (isto é, em que aprendizado tecnológico e
a moeda doméstica permaneça ligeiramente subvalori-
zada), o aumento da rentabilidade esperada dos inves- aprimorar o padrão de qualidade
timentos efetivados pelos setores produtores de bens e dos bens produzidos, ao expor os
serviços comercializáveis (tradables) tenderá a sustentar produtores locais às distintas
o incremento da produtividade agregada e a acelerar o
crescimento econômico, no longo prazo. 20 preferências e exigências dos
mercados globais
”
CONCLUSÃO
Ao intitular um de seus artigos acadêmicos como “Polí- programas de política industrial no Brasil, entre 1950 e
tica Industrial: não pergunte por que, pergunte como” 1980, decorre de fatores diversos de natureza econômi-
(Industrial policy: don’t ask why, ask how”), Rodrik ca e institucional, merecendo menção: a razoável articu-
(2009) salienta que a teoria econômica conta com um lação entre os organismos encarregados de sua execução,
cardápio de argumentos robustos em favor da adoção de como os ministérios econômicos (Planejamento, Fazen-
políticas industriais orientadas para o desenvolvimento da e outros), a antiga Carteira de Comércio Exterior do
econômico. Mas, o problema maior é de natureza prá- Banco do Brasil (Cacex), responsável pela política de
tica. Os governos nem sempre são capazes de articular importação e pela promoção de exportações, o Banco
de forma consistente e e ciente os instrumentos de po- Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (na
lítica econômica requeridos para que seus resultados se- época em que era ainda BNDE, e não BNDES), os di-
jam bem-sucedidos. E de evitar que os recursos públicos versos conselhos setoriais etc.
sejam transformados em rendas improdutivas (rent-se-
eking) por parte dos setores privados que recebem trata- Essa articulação re etia-se também, implicitamente, na
mento diferenciado desses programas governamentais. gestão da política macroeconômica que, desde o início
dos anos 1950, preocupava-se em conferir proteção
Um economista da Comissão Econômica para a Amé- cambial aos setores domésticos, priorizados pela política
rica Latina e o Caribe (Cepal) costumava me dizer, em industrial, e ao setor exportador, evitando que sua com-
tom informal, que os brasileiros são ótimos para dese- petitividade fosse adversamente afetada pela sobrevalo-
nhar políticas industriais, mas péssimos para implemen- rização da moeda brasileira em relação às moedas dos
tá-las. Mas isso nem sempre foi assim. A despeito dos parceiros comerciais. Se entre 1950 e 1964, esse objetivo
problemas inerentes às políticas industriais adotadas no era alcançado pelo sistema de taxas de câmbio múltiplas,
Brasil entre as décadas de 1950 e o nal da década de entre 1968 e o nal da década de 1970 (com interrup-
1970, não há dúvida de que foram relativamente bem ções episódicas), ele resultou das minidesvalorizações
executadas, mesmo levando-se em conta que a maioria cambiais, que consistiu, na prática, em um regime de
delas não fez grandes esforços para buscar maior autono- taxas de câmbio reais xas administradas (crawling peg)
mia tecnológica nacional e, a exemplo do II Plano Na- em que ajustes frequentes da taxa de câmbio pelo dife-
cional de Desenvolvimento (II PND, 1975-1979), ela rencial entre a in ação brasileira e a americana sanciona-
foi excessivamente condescendente com o elevado endi- vam o potencial competitivo das empresas substituido-
vidamento externo. A maior e cácia na execução desses ras de importações e do setor exportador.
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20 Para o leitor interessado na demonstração teórica, veja em Ros (2013, cap.11) e, para evidências empíricas, veja em Rodrik (2008).
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