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RBCE - A revista da



          volvidos (catching up), reduzir as desigualdades sociais e
          estimular a substituição de tecnologias de alta emissão   “
          de CO2 por novas tecnologias de baixo CO2. 8                Di cilmente, políticas industriais
                                                                       apresentam resultados positivos
          Cabe lembrar que, como os objetivos das políticas in-     quando os preços macroeconômicos
          dustriais, em geral – e, no caso da NIB, não é exceção –
          são norteados pelo estímulo à inovação, todas elas lidam   se revelam refratários ao investimento
          com o risco parcial ou total de fracasso, já que os lucros   em ativos reais e em inovações nos
          esperados dos investimentos em inovações estão sujeitos    setores domésticos que competem
          a maior incerteza futura do que os dos investimentos em
          capital físico. Cabe ao Estado estabelecer mecanismos       com importações e nos mercados
          diversos que minimizem o risco de fracasso, como metas     potenciais e efetivos de exportação
          exequíveis, instrumentos adequados de políticas públi-
          cas, cobrança de resultados etc.                                                                  ”

          Não custa lembrar que o fracasso das políticas indus-  funcionassem sob condições de concorrência perfeita. Se
          triais da década de 2000 decorreu menos do desenho e  este fosse o caso, mecanismos de intervenção poderiam
          dos instrumentos adotados do que do regime macroeco-  causar ine ciência estática no uso alternativo dos recur-
          nômico brasileiro, que tem sido muito e ciente para pre-  sos produtivos. Entretanto, como nos mercados, seja em
          servar a estabilidade de preços, mas bastante ine ciente  nível doméstico ou internacional, prevalece toda sorte de
          para assegurar taxas de crescimento do PIB real que res-  “imperfeições” (monopólios, oligopólios, externalidades
          tabeleçam  a  trajetória  de  catching  up,  interrompida  no  positivas  e  negativas  etc.),  a  e ciência  estática  (“ricar-
          Brasil desde o início da década de 1980. Do manejo da  diana”) deve ser sacri cada, no curto prazo, em favor da
          política macroeconômica brasileira, entre 2000 e 2014,   busca de maior e ciência dinâmica (“schumpeteriana”),
          assentada no conhecido tripé formado por um regime de   no longo prazo, que se traduz em avanço tecnológico e
                                                                                                       10
          metas  de  in ação  muito  pouco   exível  (isto  é,  concen-  maior ritmo de crescimento da produtividade.
          trado no objetivo de manter a in ação na meta em curto
          intervalo  temporal);  câmbio   utuante  em  contexto  de  No caso das inovações, particularmente, em virtude do
          elevada  abertura  ao  movimento  de  capitais  externos;  e  elevado grau de incerteza e risco envolvidos, diversos
          superávits primários, resultaram taxas de juros reais mui-  neoclássicos so sticados, como Kenneth Arrow e Elha-
          to  elevadas  e  moeda  brasileira  tendencialmente  sobre-  nan Helpman, ou neoclássicos “dissidentes”, como Paul
          valorizada  em  relação  à  cesta  de  moedas  dos  principais  Krugman e Joseph Stiglitz, defendem o uso de subsídios
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          parceiros  comerciais  do  Brasil.  Di cilmente,  políticas  ou outros instrumentos de políticas públicas.  Para estes
          industriais  apresentam  resultados  positivos  quando  os  autores, como os investimentos em inovações envolvem
          preços macroeconômicos se revelam refratários ao inves-  elevada incerteza e risco quanto ao retorno esperado fu-
          timento em ativos reais e em inovações nos setores do-  turo de seus resultados, o total dos recursos  nanceiros
          mésticos que competem com importações e nos merca-  mobilizados pelo setor privado para essa  nalidade ten-
          dos potenciais e efetivos de exportação. Parte do fracasso  de a se efetivar em condições subótimas em relação ao
          das políticas industriais dos anos 2000 deve ser atribuída  montante requerido para sustentar o desenvolvimento
          à falta de suporte do regime macroeconômico. 9      econômico, inclusive nos países desenvolvidos.

          iv) “A NIB utiliza instrumentos de intervenção gover-  v) “A NIB implica o retorno do protecionismo como
          namental, como subsídios, compras governamentais e  estratégia de desenvolvimento no Brasil.”
          conteúdo local, que afetam a e ciência na alocação de
          recursos e causam distorções nos preços relativos.”  Da base de dados da Organização Mundial do Comér-
                                                              cio (OMC) e do trabalho inédito (ainda não publica-
          A  avaliação  também  só  seria  consistente  na  pressuposi-  do) de Castilho, Passoni e Duarte (2024), conclui-se
          ção de que os mercados de bens e de fatores de produção  que o nível e a estrutura de proteção média no Brasil são
                                        ............................................................................
          9  Em estudo empírico (Nassif et al., 2020), mostramos evidências de que os juros reais elevados e a tendência à sobrevalorização cambial têm sido os fatores
          mais relevantes para explicar a persistência da estagnação no Brasil nas últimas décadas.
          10  Este dilema (trade-o ) é percebido por Dosi, Pavitt e Soete (1990).
          11  Ver detalhes em Arrow (1962), Helpman (2011), Krugman (1984;1987; 1988) e Stiglitz (2021).


          Nº  158 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2024                                                       47
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