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Nova Indústria Brasil








             Nova Indústria Brasil: uma avaliação crítica


             da nova política industrial brasileira




















               André Nassif



          Neste artigo faço comentários e sugestões sobre a Nova Indústria Brasil (NIB), a política industrial brasileira que,
          anunciada no  nal de janeiro de 2024, contém um plano de ações para 2024-2026 e metas aspiracionais para os
          próximos dez anos. Formatada em diversas missões, em que o objetivo comum é o estímulo às inovações e o fomen-
          to do progresso técnico, por meio da reindustrialização da economia brasileira, da incorporação de tecnologias
          digitais e da substituição gradual de tecnologias emissoras de gases de efeito estufa por tecnologias de baixa emissão
          de dióxido de carbono (CO2), o desenho da NIB alinha-se à concepção das políticas industriais que estão sendo
          adotadas em diversos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, para enfrentar os enormes desa os deste século.
          Conforme Nassif (2023, p. 301),

               a política industrial, para ser bem-sucedida, deve ser concebida de forma sistêmica, articulada com as demais po-
               líticas públicas nos âmbitos micro (como as políticas tributária, regulatória e de comércio exterior, dentre outras),
               meso (por exemplo, ciência & tecnologia, educação & treinamento etc.) e macroeconômico (quais sejam, políti-
               cas monetária,  scal e cambial). A harmonia entre diferentes esferas de políticas públicas exerce efeito similar à
               existente entre maestro e músicos de uma orquestra: a falta de sintonia entre um ou mais membros compromete
               a performance do conjunto. Nessas circunstâncias, a política industrial almeja o mesmo objetivo geral dos planos
               nacionais de desen ol imento.

          O objetivo de avaliar criticamente a nova política industrial brasileira, como sugere o subtítulo deste artigo, é con-
          tribuir com sugestões que possam ser úteis para aprimorar sua concepção e execução, bem como para aumentar suas
          chances de êxito. Para usar o clichê, trata-se de uma crítica construtiva. O artigo contém mais duas seções. Na primeira
          seção, procuro refutar os argumentos críticos que surgiram na grande mídia (sobretudo na imprensa) no dia seguinte
          ao lançamento o cial da NIB. A maioria dessas críticas tem viés ideológico e pode ser contestada pela teoria econômica
          e pelas evidências empíricas. Na segunda seção, comento criticamente alguns problemas de concepção da NIB, com
          sugestões de aprimoramento e ajuste, com o objetivo de maximizar as chances de êxito das missões almejadas. A última
          seção tem caráter conclusivo e aponta para o principal fator de risco de eventual fracasso da NIB.
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          André Nassif é professor associado do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense (PPGE-UFF) e professor-visitan-
          te do Department of International Development, King’s College London, de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024.
          O autor agradece a Marta Castilho e Mário Cordeiro de Carvalho Jr. pelos comentários e sugestões, eximindo-os de qualquer responsabilidade pelo
          resultado deste trabalho.

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