Page 47 - RBCE 158
P. 47
RBCE - A revista da
UMA NOVA POLÍTICA DE CULTURA teiro às questões chinesas, e colocando os participantes
EXPORTADORA PARA A CHINA em contato com a Secretaria Executiva do Plano Nacio-
nal de Cultura Exportadora (PNCE).
Apesar de todas as di culdades em promover uma inser-
ção de produtos brasileiros de bens de consumo na Chi- Uma outra possibilidade seria via Sebrae, também em par-
na, revisitando a minha experiência no mercado chinês, ceria com a Apex-Brasil e uma empresa de consultoria, no
encontro alguns exemplos de sucesso nos anos em que sentido de desmisti car as ideias sobre o ecossistema de
lá vivi. Entre eles, o de um colombiano chamado Davi empreendedorismo e comércio na China. Seria bené co
que tinha passado anos tentando exportar tequila e ca- um programa voltado para auxiliar na ida de empresários
chaça da América Latina para a China. uando Davi se à China e em proporcionar-lhes algumas primeiras vivên-
mudou para Xangai, ele mudou por completo a percep- cias empresariais locais, com pequenos negócios e expe-
ção do negócio. Por estar lá, passou a frequentar bares riências reais em comércio. Hoje, com USD 5,000.00 e
e restaurantes, não só em Xangai, como também no in- com o cumprimento de pequenas formalidades, como de-
terior, e adquiriu exibilidade para remanejar o seu em- lineamento do escopo do negócio, registro do nome no
preendimento. Em vez de insistir em vender uma bebida CNIPA (Escritório de patentes), de nição do capital re-
desconhecida dos chineses, ele criou uma empresa de gin gistrado e indicação de um representante legal, supervisor
que fabrica gin na China, com uma receita que mescla e contador, é possível abrir uma empresa na China e obter
ingredientes latinos com outros típicos da cultura local, a licença comercial em até três meses. Com ela, pode-se
como o chá verde e o hibisco. abrir uma conta bancária local, realizar transações comer-
ciais, alugar um escritório e realizar negócios no país. E
Davi não desistiu da cachaça e da tequila, mas percebeu assim se abre caminho para conhecer as regras e a cultura
que, antes de poder vender cachaça e tequila, ele precisava chinesa de negócios e se dá o primeiro passo efetivo para
atrair o consumidor para a sua empresa. Antes de vender encontrar parceiros chineses con áveis.
um produto que para o chinês é extremamente inovador,
ele precisava captar esse cliente, oferecendo aquilo que A busca por parceiros, aliás, é outra grande di culdade
o cliente conhece e quer. Em um futuro, talvez, Davi irá que escuto dos meus clientes. Por isso, repito os conse-
ampliar a venda de cachaça e tequila, mas, por ora, está lhos de Graham e Lam (2003):
formando a sua clientela e a sua rede de parceiros e distri- na China, mo a-se agora e aprenda as regras do jogo
buidores para depois oferecer um produto diferente. Davi desen ol endo primeiro o guanxi (relacionamento)
não é brasileiro, mas é um exemplo de um empreendedor necessário para depois fazer com que o seu negócio se
que se bene ciou da sua presença local na China, e do seu desen ol a. Não espere resultados imediatos. Ami-
conhecimento sobre a cultura chinesa e seu estilo de ne- gos antigos fazem a mágica com o tempo. Cada ano
gociar e de fazer escolhas, para conseguir entender o jeito de in estimento na China dará resultado no futuro
chinês de consumir produtos. Foi o seu conhecimento in — porque em uma cultura com uma história (e me-
loco, sobre as regras e sobre a cultura, que permitiu a Davi mória) milenar, as relações do momento precisam
a visão de negócio e a adaptabilidade do seu empreendi- ser nutridas longa e pacientemente.
mento ao mercado chinês. Hoje o gin do Davi é encon-
trado em diversos bares e restaurantes, além de supermer-
cados chineses, em Xangai e em outras cidades da China,
exempli cando que o empreendedorismo no mercado lo- “
cal pode trazer resultados positivos e até surpreendentes. Precisamos de novos esforços
Para criarmos mais exemplos como o de Davi, desta vez coordenados para uma cultura
com empreendedores brasileiros, precisamos de novos exportadora que reverta os entraves
esforços coordenados para uma cultura exportadora que atuais. Promover um programa de
reverta os entraves atuais. Promover um programa de
imersão cultural na China direcionado para a formação imersão cultural na China direcionado
de exportadores e traders especialistas em China, por para a formação de exportadores e
exemplo, seria uma excelente iniciativa. Esse programa traders especialistas em China, por
poderia ser feito de forma híbrida, parte virtual e parte exemplo, seria uma excelente iniciativa
presencial no escritório da Secom/MRE ou da Apex, e
”
seguir a sugestão de Fortunato (2023), adaptando o ro-
Nº 158 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2024 41