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RBCE - A revista da



          UMA NOVA POLÍTICA DE CULTURA                        teiro às questões chinesas, e colocando os participantes
          EXPORTADORA PARA A CHINA                            em contato com a Secretaria Executiva do Plano Nacio-
                                                              nal de Cultura Exportadora (PNCE).
          Apesar de todas as di culdades em promover uma inser-
          ção de produtos brasileiros de bens de consumo na Chi-  Uma outra possibilidade seria via Sebrae, também em par-
          na, revisitando a minha experiência no mercado chinês,   ceria com a Apex-Brasil e uma empresa de consultoria, no
          encontro  alguns  exemplos  de  sucesso  nos  anos  em  que  sentido  de  desmisti car  as  ideias  sobre  o  ecossistema  de
          lá  vivi.  Entre  eles,  o  de  um  colombiano  chamado  Davi  empreendedorismo e comércio na China. Seria bené co
          que tinha passado anos tentando exportar tequila e ca-  um programa voltado para auxiliar na ida de empresários
          chaça da América Latina para a China.  uando Davi se   à China e em proporcionar-lhes algumas primeiras vivên-
          mudou para Xangai, ele mudou por completo a percep-  cias empresariais locais, com pequenos negócios e expe-
          ção  do  negócio.  Por  estar  lá,  passou  a  frequentar  bares  riências  reais  em  comércio.  Hoje,  com  USD  5,000.00  e
          e restaurantes, não só em Xangai, como também no in-  com o cumprimento de pequenas formalidades, como de-
          terior, e adquiriu  exibilidade para remanejar o seu em-  lineamento do escopo do negócio, registro do nome no
          preendimento. Em vez de insistir em vender uma bebida   CNIPA (Escritório de patentes), de nição do capital re-
          desconhecida dos chineses, ele criou uma empresa de gin   gistrado e indicação de um representante legal, supervisor
          que  fabrica  gin  na  China,  com  uma  receita  que  mescla  e contador, é possível abrir uma empresa na China e obter
          ingredientes latinos com outros típicos da cultura local,   a licença comercial em até três meses. Com ela, pode-se
          como o chá verde e o hibisco.                       abrir uma conta bancária local, realizar transações comer-
                                                              ciais,  alugar  um  escritório  e  realizar  negócios  no  país.  E
          Davi não desistiu da cachaça e da tequila, mas percebeu   assim se abre caminho para conhecer as regras e a cultura
          que, antes de poder vender cachaça e tequila, ele precisava   chinesa de negócios e se dá o primeiro passo efetivo para
          atrair o consumidor para a sua empresa. Antes de vender   encontrar parceiros chineses con áveis.
          um produto que para o chinês é extremamente inovador,
          ele  precisava  captar  esse  cliente,  oferecendo  aquilo  que  A busca por parceiros, aliás, é outra grande di culdade
          o cliente conhece e quer. Em um futuro, talvez, Davi irá   que escuto dos meus clientes. Por isso, repito os conse-
          ampliar  a  venda  de  cachaça  e  tequila,  mas,  por  ora,  está  lhos de Graham e Lam (2003):
          formando a sua clientela e a sua rede de parceiros e distri-  na China, mo a-se agora e aprenda as regras do jogo
          buidores para depois oferecer um produto diferente. Davi   desen ol endo primeiro o guanxi (relacionamento)
          não é brasileiro, mas é um exemplo de um empreendedor     necessário para depois fazer com que o seu negócio se
          que se bene ciou da sua presença local na China, e do seu   desen ol a.  Não  espere  resultados  imediatos.  Ami-
          conhecimento sobre a cultura chinesa e seu estilo de ne-  gos antigos fazem a mágica com o tempo. Cada ano
          gociar e de fazer escolhas, para conseguir entender o jeito   de in estimento na China dará resultado no futuro
          chinês de consumir produtos. Foi o seu conhecimento in    — porque em uma cultura com uma história (e me-
          loco, sobre as regras e sobre a cultura, que permitiu a Davi   mória)  milenar,  as  relações  do  momento  precisam
          a visão de negócio e a adaptabilidade do seu empreendi-   ser nutridas longa e pacientemente.
          mento ao mercado chinês. Hoje o gin do Davi é encon-
          trado em diversos bares e restaurantes, além de supermer-
          cados chineses, em Xangai e em outras cidades da China,
          exempli cando que o empreendedorismo no mercado lo-  “
          cal pode trazer resultados positivos e até surpreendentes.   Precisamos de novos esforços

          Para criarmos mais exemplos como o de Davi, desta vez        coordenados para uma cultura
          com  empreendedores  brasileiros,  precisamos  de  novos  exportadora que reverta os entraves
          esforços coordenados para uma cultura exportadora que      atuais. Promover um programa de
          reverta  os  entraves  atuais.  Promover  um  programa  de
          imersão cultural na China direcionado para a formação    imersão cultural na China direcionado
          de  exportadores  e  traders  especialistas  em  China,  por  para a formação de exportadores e
          exemplo,  seria  uma  excelente  iniciativa.  Esse  programa  traders especialistas em China, por
          poderia ser feito de forma híbrida, parte virtual e parte   exemplo, seria uma excelente iniciativa
          presencial no escritório da Secom/MRE ou da Apex, e
                                                                                                            ”
          seguir a sugestão de Fortunato (2023), adaptando o ro-


          Nº  158 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2024                                                       41
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