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RBCE - A revista da
mento do desemprego entre os jovens. Por outro lado,
também houve uma intensa propaganda realizada por Xi
Jinping nos últimos anos, utilizando massivamente o seu
poder de moldar e in uenciar os cidadãos, promovendo
o orgulho nacional chinês e as marcas do país em campa-
nhas na televisão. Um exemplo notável dessa estratégia
ocorreu em torno da corrida pela vacina, destacando a
capacidade da China de desenvolver soluções próprias
para desa os globais.
Além disso, empresas como a BYD (Build Your Dreams)
bene ciaram-se da promoção de produtos chineses no
mercado interno, impulsionada pela narrativa naciona-
lista. A BYD tornou-se líder na produção de veículos
elétricos, ultrapassando recentemente a concorrente
TESLA, e aproveitando a preferência crescente dos con-
sumidores chineses por marcas domésticas. Assim como
a BYD, a Xiaomi, a Huawei, e a Lenovo também têm
ganhado destaque tanto no mercado interno quanto no
cenário global. Internamente, marcas chinesas que ainda
não são famosas no Brasil ocupam o topo da preferência
do consumidor chinês, desbancando empresas estrangei-
ras, a exemplo da Yili, no setor de produtos lácteos, e a
do compradores e vendedores optar pelo uso do CNY Liby, em home care (Kantar Worldpanel, 2023).
(Chinese yuan para uso dentro da China — onshore) ou
do CNH (Chinese yuan para uso em outros mercados Para o exportador brasileiro, essas mudanças na China
— o shore), o que pode trazer agilidade para a opera- implicam a necessidade de modi car as estratégias de
ção, novas possibilidades de acesso a produtos nancei- abordagem ao tentar vender produtos industrializados
ros nessa moeda (mecanismos de trade nance) e maior para eles. Anteriormente, era possível apostar nos canais
poder de barganha ao negociar preços com os chineses de cross-border e-commerce e explorar iniciativas de bran-
(Sheng, 2023). Sem dúvida, um avanço macroeconômi- ding a distância, direcionadas para atrair a classe média
co importante, que carece ainda de que os empresários chinesa, que supostamente demonstrava interesse por
brasileiros se acostumem a ele. produtos importados diferenciados. Estratégias que enfa-
tizavam uma “brasilidade” derivada de uma fusão de gos-
Sob o aspecto microeconômico, a alteração do com- tos e qualidade sino-brasileira eram apostas válidas. Da
portamento do consumidor chinês, após a pandemia, é mesma forma, a ideia de um marketing direcionado para
outro fator que deve ser observado com cuidado. Com atingir um nicho de consumidores ávidos por produtos
a política de Covid-zero e o prolongado e rigoroso fecha- importados era possível de ser desenvolvido a distância.
mento das fronteiras na China, passamos a ver uma sig-
ni cativa mudança de comportamento no público chi-
nês, que se tornou mais exigente, poupador e orgulhoso “
de sua indústria doméstica. Se, antes, a tendência era a Após a Covid, passamos a presenciar
de um consumidor cada vez mais viajado e global, após uma espécie de correção de rumos,
a Covid, passamos a presenciar uma espécie de correção
de rumos, com a população chinesa tornando a se voltar com a população chinesa tornando a
muito mais para dentro do que para o exterior. Hoje, o se voltar muito mais para dentro do
chinês valoriza as suas marcas locais e a produção nacio- que para o exterior. Hoje, o chinês
nal chinesa passou a ser percebida como mais con ável.
valoriza as suas marcas locais e a
A mudança de comportamento do consumidor chinês produção nacional chinesa passou a
decorreu, em parte, de um interesse genuíno em poupar,
em face dos desa os socioeconômicos enfrentados pela ser percebida como mais con ável
”
China, como o envelhecimento da população e o au-
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