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Relações Econômicas Brasil e China
Uma nova cultura exportadora para a China
ais Moretz-Sohn Fernandes
é executiva na empresa THAE Consulting
ais Moretz-
Sohn Fernandes
INTRODUÇÃO
A China, com seus 9,5 milhões de km² divididos em 22 províncias e uma população diversi cada de 1,4 bilhão de
habitantes, representa um país heterogêneo. Apesar de o país concentrar mais de 400 milhões de pessoas da classe
média mundial (Huld; Interesse, 2023) e ser um grande consumidor dos produtos básicos brasileiros, como a soja
e a carne, ainda há oportunidades de negócios inexploradas para as exportações de bens e serviços do Brasil. Parte
da não concretização dessas possibilidades comerciais decorre da baixa compreensão que os brasileiros possuem a
respeito das nuances culturais e dos diversos modos de entrada que são possíveis de adotar antes de se consolidar no
mercado chinês. Com a aproximação da sessão histórica da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e
Cooperação (Cosban) que, neste ano de 2024, completará vinte anos de existência, faz-se pertinente aprofundarmos
as discussões a respeito das diferentes maneiras de vender para a China e buscarmos novos caminhos para fortalecer
a cultura exportadora do Brasil para os chineses.
Como é sabido, há desa os micro e macroeconômicos na exportação, sobretudo quando tratamos de um mercado
cultural e geogra camente distante como a China. Apesar de haver números positivos para o Brasil na balança co-
mercial e de termos, em 2023, atingido o impressionante recorde de US$ 105,7 bilhões em vendas para os chineses
(Secex, 2023), ainda há oportunidades que podem ser melhor compreendidas. A desaceleração no crescimento da
economia chinesa, a redução da entrada de investimentos chineses no Brasil e o próprio per l do consumidor chinês,
que se alterou substancialmente após a pandemia, são alguns dos desa os a serem enfrentados nesse esforço exportador.
As oportunidades incluem o fato de a China continuar sendo a segunda maior economia do mundo, detentora de
reservas cambiais da ordem o cial de US$ 3,238 trilhões (Safe, 2024), e contar com uma vontade quase que perma-
nente de investir em iniciativas que vāo ao encontro de suas necessidades, como as relacionadas à recuperação de áreas
agrícolas degradadas para aumentar a oferta de alimentos, ou em acordos que promovam a internacionalização da sua
moeda, o yuan.
Nesta esfera cambial, cumpre destacar que houve um grande avanço recente no intercâmbio entre o Brasil e a China,
os quais rmaram, em fevereiro de 2023, um currency swap agreement, que permite a utilização do CIPS (Cross-border
International Payment System) como alternativa ao SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommu-
nication) nos pagamentos internacionais. A vantagem do CIPS é que nele o pagamento não é triangulado, poden-
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