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Financiamento


         Para versarmos de forma congruente sobre o tema é im-  Essas vantagens são decorrentes dos diferenciais em re-
         portante relembrar o passado. O ano de 1990 represen-  lação ao mundo acerca:
         tou uma ruptura de política e de prática de política de
         comércio exterior na economia brasileira. Encerra-se,     a) da dotação observada no Brasil do fator de pro-
         oficialmente, o período de substituição de importação.    dução terra;
         Todavia, em termos de regime de comércio exterior, não
         havia clareza de qual seria a resultante da mudança nos   b) da dotação de trabalho;
         incentivos econômicos incidentes na fronteira que per-    c) da dotação de capital;
         mite a saída (exportação) ou entrada (importação) de
         um bem no Brasil.                                         d) do padrão da tecnologia;

         Em outras palavras, no início dos anos 1990, não se sa-   e) da intensidade dos recursos naturais;
         bia ao certo se iriam permanecer ou continuar a vigorar,
         naquela época e nos demais anos:                          f) das economias de escala e escopo; e

              (a) a redução das tarifas aduaneiras e o eventual re-  g) dos aspectos da geografia e/ou da sua história.
              laxamento ou eliminação das barreias não tarifárias
              nas importações;
                                                              A potencialização das vantagens estáticas e dinâmicas
              (b) a manutenção e o acesso a financiamento e se-  viabilizará que as empresas, em última análise, ganhem
              guro de crédito às exportações; e               espaço no mercado internacional e aumentem a sua par-
                                                              ticipação no produto nacional bruto.
              (c) a redução, elevação ou não incidência de tri-
              butos e taxas relacionados às exportações. Isso era   Além disso, naquela época, como hoje em dia, a relação
              válido para todos os produtos e serviços oriundos   quantitativa de incentivos e medidas às exportações/
              dos setores primário, secundário e terciário da eco-  (sobre) incentivos e medidas às importações – que é a
              nomia brasileira.                               proxy para se mensurar o regime de comércio – era di-
                                                              fícil de ser coletada e obtida. Isso ocorre em função das
         Outrora, não havia certeza se os incentivos econômi-  interpretações legais acerca de sigilo fiscal, comercial e
         cos – fruto da abertura econômica – iriam permanecer   bancário interpretadas pela autoridade aduaneira, de
         no futuro e, assim, influenciar a conduta das empre-  comércio exterior, e cambial do governo brasileiro. As-
         sas. Também não se sabia se as medidas e os incentivos   sim, torna-se quase impossível identificar e mensurar ex
         econômicos outorgados na fronteira (via alteração das  post se o regime de comércio de setores tradeables da eco-
         tarifas ou incentivos financeiros) iriam provocar uma  nomia brasileira é pró-exportador, neutro ou orientado
         resposta mais favorável por parte das empresas de modo   para importação. Isso torna difícil – em pleno século
         que estas fossem incentivadas a utilizar mais intensiva-  XXI – formular propostas de política pública para o co-
         mente as suas fontes de vantagens comparativas.      mércio exterior com base em evidências.

         “     Torna-se quase impossível identificar e        De fato, em relação à estrutura de proteção a ser dada
                                                              via tarifas aduaneiras à economia nacional havia, entre
                                                              1990-1993, um cronograma de desgravação a ser cum-
                  mensurar ex post se o regime de             prido ao longo de um mandato presidencial. Isso, em
                  comércio de setores tradeables da           tese, dificultava obter-se uma estimativa da proteção fi-
                                                              nal a ser outorgada pós-abertura econômica com base no
               economia brasileira é pró-exportador,          nível da tarifa nominal, verdadeira e/ou efetiva a ser dada
               neutro ou orientado para importação.           aos setores econômicos e para toda a economia brasileira.
                 Isso torna difícil – em pleno século         Por sua vez, pelo lado das exportações, os incentivos
               XXI – formular propostas de política           outorgados sofreram, naquela época, uma profunda
                pública para o comércio exterior com          mutação. Em função das disposições contidas na Cons-

                         base em evidências                   tituição de 1988, as medidas e os incentivos existentes
                                                              para as exportações no período anterior à promulgação
                                                        ”     da Constituição – como acesso e existência de linha e

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