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RBCE - A revista da




          rizar seis eixos, numa ordem que poderia ser a seguinte:  Prova disso é que a TLP de janeiro de 2023 já atingia
          1) Economia verde: projetos que incorporem tecnolo-  5,93% (contra 2,70% em janeiro de 2018, na ocasião dos
          gias de baixa emissão de dióxido de carbono; 2) Inova-  primeiros contratos). Um IPCA acumulado em doze
          ções em geral; 3) Infraestrutura; 4) Projetos com poten-  meses de, aproximadamente, 5,79% faz com que o custo
          cial de redução das desigualdades sociais e regionais;  5)  nominal do financiamento no início dos contratos fique,
          Financiamento às exportações (inclusive de bens e ser-  atualmente, próximo a 11,72%, sobre os quais ainda in-
          viços de engenharia em obras no exterior, que rendem  cidem spreads para cobrir custos operacionais da insti-
          divisas e ativam emprego no Brasil); e 6) Apoio a  micro,  tuição e, principalmente, o risco de crédito do tomador.
          pequenas e médias empresas (MPMEs).                 Contam-se nos dedos os setores que obtêm taxas nomi-
                                                              nais de retorno sobre o capital investido iguais ou acima
          Nenhum desses eixos se enquadra nos argumentos ne-  desse percentual. Segundo estimativas do CEMEC-
          oclássicos de mercados eficientes ou falhas de mercado.  FIPE (USP), as taxas nominais médias de retorno sobre
          Nem mesmo o apoio do BNDES às micro, pequenas       o capital investido das 450 maiores empresas de capital
          e médias empresas tem amparo na teoria das falhas de   aberto giraram em torno de 9,74% entre 2012 e 2020
          mercado, mas sim na evidência de que, como são as gran-  – bem inferiores, portanto, às taxas de financiamento
          des empresas que deflagram parte expressiva das inova-  do BNDES contratadas em TLP atualmente. É verdade
          ções tecnológicas e contam com maiores economias de   que as maiores companhias têm facilidade de acesso ao
          escala, a tendência à concentração, típica do capitalismo   mercado privado de capitais, mas, mesmo nesses casos,
          oligopolista, faz com que a taxa de sobrevivência das  seria conveniente haver uma taxa menos “nervosa” que
          empresas de menor porte seja reduzida, o que dificulta   a TLP, geralmente definida em níveis que chegam a ser
          ainda mais seu acesso a crédito privado de longo prazo.   proibitivos aos investimentos produtivos.
          Por essa razão, as MPMEs contam com apoio de bancos
          de desenvolvimento aqui e em outros países.         No caso dos eixos que envolvam financiamento de proje-
                                                              tos estratégicos de longa maturação e elevada incerteza
          Entretanto, uma vez que os projetos com maior poten-  futura, notadamente infraestrutura, inovações tecno-
          cial de transformação econômica são comandados pelas   lógicas e incorporação de tecnologias associadas à eco-
          maiores empresas, sua incorporação na escala prioritá-  nomia verde e à sustentabilidade ambiental, a taxa de
          ria de desembolsos do BNDES fará com que os inves-  juros deveria ser determinada pelo governo em moldes
          timentos realizados tendam a produzir impactos para  tais que, ainda que não repliquem os da antiga TJLP,
          trás (nos setores fornecedores de bens intermediários) e   propiciem custos de financiamento inferiores às taxas de
          para a frente (nos setores produtores de bens e serviços   retorno esperadas sobre o capital investido. Isso tornaria
          finais), induzindo efeitos multiplicadores que beneficia-  atraente a demanda por financiamentos em projetos es-
          rão micro, pequenas e médias empresas. Esta é a princi-  tratégicos para o desenvolvimento.
          pal razão para justificar o apoio financeiro do BNDES
          às MPMEs. Não faz sentido, porém, o argumento de
          que os desembolsos de um banco de desenvolvimento,
          como o BNDES, às empresas de menor porte devam
          representar parcela mais expressiva dos desembolsos to-
          tais, como vem ocorrendo nos últimos anos.

          No que se refere ao custo dos financiamentos, o BN-  “
          DES deveria operar com quatro tipos de taxas de juros,   É verdade que as maiores companhias
          estipuladas caso a caso: taxas que reflitam (não necessa-  têm facilidade de acesso ao mercado
          riamente por completo) as condições de mercado; taxas       privado de capitais, mas, mesmo
          subsidiadas; operações totalmente subsidiadas (a fundo
          perdido); e encargos baseados em cestas de moedas, em     nesses casos, seria conveniente haver
          operações cujos recursos tenham sido captados em mo-     uma taxa menos “nervosa” que a TLP,
          eda estrangeira.                                           geralmente definida em níveis que

          No primeiro caso, o governo deveria propor uma taxa al-       chegam a ser proibitivos aos
          ternativa à TLP e/ou um fator redutor da própria TLP.           investimentos produtivos
          Afinal, não faz sentido um banco de desenvolvimento
                                                                                                            ”
          cobrar taxas totalmente determinadas pelo mercado.


          Nº  154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023                                                       25
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