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Financiamento
O BNDES no século XXI
André Nassif
As grandes transformações econômicas em curso, notadamente a transição energética, a revolução digital e as inova-
ções tecnológicas a elas associadas, ensejarão uma expansão da demanda de recursos financeiros para investimento em
atividades para as quais, face ao elevado grau de incerteza e risco, o mercado privado de capitais brasileiro não será capaz
ou não estará disposto a ofertar crédito no montante requerido, ao longo do século XXI. O papel do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na oferta de crédito de longo prazo, em montante e condições que
atendam à agenda social, mas também estimulem os investimentos nessas atividades estratégicas, será crucial para que
o Brasil aproveite as oportunidades que se vislumbram no decorrer do presente século. O ensaio faz uma breve recapi-
tulação histórica, que permite distinguir as políticas de atuação do BNDES, desde sua criação, em 1952. Em seguida,
tendo em vista as grandes transformações que prosseguirão no decorrer do século e as peculiaridades econômicas e
sociais do Brasil, sugerem-se eixos prioritários de atuação, propõem-se formas diversificadas de captação de recursos
financeiros e discute-se uma reconfiguração das taxas de juros inerentes às linhas de financiamento da instituição.
INTRODUÇÃO
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado em 1952, com seu papel preponde-
rante no processo de desenvolvimento brasileiro, é uma das joias raras da nossa estrutura institucional. Foi respon-
sável pelo financiamento de parte expressiva do parque industrial brasileiro numa época em que praticamente não
havia mercado de capitais no país. Desde 2018, no entanto, quando os custos das suas principais linhas de financia-
mento passaram a ser pautados por taxas de juros determinadas livremente pelo mercado, o BNDES vem perdendo
relevância como principal agente financiador de investimentos estratégicos para o desenvolvimento econômico
e social brasileiro. Argumento, neste ensaio, que as grandes transformações econômicas em curso, notadamente
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André Nassif é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), economista aposentado do BNDES e autor de “De-
senvolvimento e Estagnação: o Debate entre Desenvolvimentistas e Liberais Neoclássicos”, Editora Contracorrente (no prelo). E-mail: andrenassif27@gmail.
com. Uma primeira versão deste ensaio beneficiou-se de comentários e sugestões de Florinda Pastorizza, Mário Cordeiro de Carvalho Jr., Cyro Andrade e
André Lara Resende. Esta versão valeu-se também dos comentários recebidos dos participantes do Núcleo de Economia Política do CEBRI, em apresentação
realizada em 31 de janeiro de 2023. Foi publicada originalmente como Texto para Discussão pelo CEBRI. Os argumentos, proposições e imperfeições
são de responsabilidade do autor.
22 Nº 154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023