Page 60 - Edição 153 da RBCE Revista Brasileira de Comércio Exterior
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Agronegócio
Mais ainda, a China tem falta de vacinas mais eficazes e
nem tem acesso às recentes vacinas produzidas com base
no mRNA para imunizar contra a Covid.
A China tem uma rede fragmentada de hospitais com
poucos recursos e uma enorme população idosa com
maior risco de contrair doença grave, bem como uma
eficácia comparativamente baixa das suas vacinas em re-
lação às do mundo ocidental. Embora existam mais lei-
tos hospitalares per capita na China do que nos Estados
Unidos e no Reino Unido, o número de leitos de cuida-
dos intensivos disponíveis – crucial para manter vivos os
doentes infectados com Covid-19 – é um quarto da mé-
dia observada na OCDE. Os recursos hospitalares são
especialmente escassos fora das grandes cidades e as zo-
nas rurais têm metade dos médicos e de leitos numa base
de comparação per capita em relação às zonas urbanas.
A China fez a primeira leva de vacinações a uma velo-
cidade vertiginosa, conseguindo vacinar 22 milhões de
pessoas por dia. Foram administradas mais de 3 bilhões
de doses de vacinas em cerca de 1,4 bilhão de pessoas.
A China enviou cerca de 1,6 bilhão de doses de vacinas
Inclusive, nesse final de 2022, há notícias de um novo para os países em desenvolvimento, tornando-se o maior
surto de casos de Covid na China. É preciso compreen- exportador mundial de vacinas contra a Covid-19.
der que a China rejeitou a abordagem de “abrir a eco-
nomia” mesmo imunizando grande parte da população. No entanto, há sinais de que as vacinas chinesas, que
Em vez disso, o governo da China impôs bloqueios es- utilizam vacinas inativadas tradicionais – em que o pa-
tritos e drásticos ao primeiro sinal de infecção, e conti- togénico é morto ou modificado para que não se possa
nua a fazê-lo. Isso mostra que o governo chinês não está replicar – produzem respostas imunológicas mais fracas
preparado para repetir o desastre da primeira erupção ao vírus Covid-19 do que o novo RNA mensageiro uti-
da Covid em Wuhan observado em 2020. A resposta ao lizado nas vacinas feitas pelos laboratórios da Moderna e
desastre da erupção da Covid na China foi que a política da BioNTech/Pfizer, assim como da tecnologia de vetores
adotada pelo governo chinês resultou na mais baixa taxa virais utilizados pela Johnson & Johnson e AstraZeneca.
de mortalidade da Covid do mundo.
Ademais, o Centro Chinês de Controle e Prevenção de
Doenças advertiu que se o país adotasse as estratégias de
abertura tomadas por países como Reino Unido e Esta-
dos Unidos haveria – na China – centenas de milhares “
de casos por dia, dos quais mais de 10 mil casos apresen- A economia chinesa não será capaz
tariam sintomas graves se houvesse um surto comunitá-
rio. Segundo este Centro, a China não estava preparada de satisfazer as necessidades de uma
para abraçar estratégias de “abertura” assentadas unica- população urbanizada, a menos que
mente na hipótese de imunidade do rebanho induzida rompa com a economia liderada pelo
pela vacinação defendida tanto por epidemiologistas Estado e permita que o setor
quanto por autoridades de certos países ocidentais.
capitalista floresça para atender às
Cabe destacar que uma das principais razões pelas quais exigências de consumo da crescente
a China adotou lockdowns foi o fato de que seu serviço
de saúde pública é relativamente fraco e deficiente em classe média
relação ao observado no resto do mundo desenvolvido. ”
56 Nº 153 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2022