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Câmbio no Brasil

Uma segunda alternativa possível seria aumentar o nível    tidores externos para ampliar o mercado de capitais.
de risco das operações de carry trade no mercado futuro    Portanto, a confiança dos investidores estrangeiros no
com a definição de um prazo mínimo de exposição nas        regime cambial é de fundamental importância. E para se
posições vendidas, por exemplo, para um período mí-        garantir esta confiança repito a fórmula definitiva: baixa
nimo de 180 dias, e por mais contraditório que possa       volatilidade e taxa de câmbio de equilíbrio que assegure
parecer, em última instância, até aumentar em certos       um bom desempenho macroeconômico. A obviedade
momentos a volatilidade da taxa de câmbio por meio da      desta fórmula parece não ter sido percebida, e muito
ação do Banco Central no mercado futuro com as ope-        menos praticada pelas autoridades econômicas brasilei-
rações de swap reverso. Se numa destas variações o in-     ras nos últimos anos. A nossa doença crônica tem sido a
vestidor perder sua margem depositada e for chamado a      leniência ao “tsumoney cambial”, assim como foi a “do-
depositar mais margem pela sua corretora, ele vai pensar   ença holandesa” para países produtores de commodities
duas vezes, e provavelmente a sua covardia vai superar     em época recente.
sua ganância.

Se, por um lado, os mercados de derivativos financeiros    BIBLIOGRAFIA
surgiram com o objetivo de fornecer hedge aos vários
segmentos de mercado contra as variações abruptas de       ROSSI, Pedro. Taxa de câmbio e politica cambial no Bra-
taxas de câmbio e de juros sobre posições ativas e pas-    sil. FGV Editora, 2016.
sivas, possibilitando assim a mitigação e gestão de risco
em face da instabilidade destes preços-chave (mediante     MAGELA, Geraldo. Câmbio e capitais internacionais.
contratos futuros a termo ou de opções), por outro lado    São Paulo: Aduaneiras, 2016.
estes derivativos ampliaram o espaço para a especulação    GAROFALO FILHO, Emilio. Câmbio, ouro, e dívida
nos mercados financeiros e introduziram novos riscos       externa: de Figueiredo a FHC. São Paulo: Saraiva, 2002.
de instabilidade macroeconômica em âmbito global. A        ARIDA, Persio. Por uma moeda plenamente conversí-
especulação em qualquer mercado do mundo é benig-          vel. Revista de Economia Política, v. 23, 2003.
na quando ela é bidirecional, na compra e na venda, e      MAGALHÃES PRATES, Daniela. O regime de câmbio
quando confere liquidez e anula a arbitragem de preços     flutuante no Brasil: 1999-2012 – especificidades e dile-
pela própria dinâmica do mercado. No caso do carry tra-    mas. Brasília: Ipea, 2015.
de, o que observamos é que se trata de uma especulação
maligna, pois seu vetor é basicamente unidirecional, na    ARTIGOS
qual quase todos os agentes privados, usualmente hedge     MESQUITA, Mario. Câmbio desajustado? Valor Eco-
funds, se colocam na posição vendida de dólares e com-     nômico, outubro 2015.
prada de reais para prazos curtos de 60 a 90 dias, e, na   FRAGA, Armínio. Câmbio e derivativos. Reuters, se-
outra ponta, prevalecendo quase que exclusivamente         tembro 2012.
o Banco Central. Enquanto isso, a arbitragem de juros      NAKANO, Yoshiaki. Câmbio: o longo prazo come-
internos e externos não se anula, pois resulta de uma      çou. Valor Econômico, maio 2013.
variável quase fixa, tendo como base a taxa Selic dita-    GIANNETTI DA FONSECA, Roberto. A hora da vi-
da periodicamente pelo Comitê de Política Monetária        rada cambial. Valor Econômico, setembro 2011.
(Copom) do BC.                                             ______ . Mitos e mistérios do mercado de câmbio no
                                                           Brasil. Valor Econômico, agosto 2011.
OBSERVAÇÕES FINAIS                                         ______. A especulação cambial e a covardia ao risco.
                                                           Valor Econômico, fevereiro 2011.
Em principio, entendemos que o Brasil poderia ser bem      ______. O cartel de câmbio no Brasil. O Globo, dezem-
mais assertivo na tarefa de controle cambial, respeitan-   bro 2015.
do as legítimas forças de mercado e tendências de flutu-
ação, mas sempre com foco no risco de subvalorização
ou de sobrevalorização por conta de causas especulativas
ou crises esporádicas de confiança macroeconômica. O
que não se pode esquecer é que o Brasil continua depen-
dente da absorção de poupanças externas para financiar
os seus investimentos, tanto quanto depende dos inves-

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