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Câmbio no Brasil
maior conteúdo tecnológico e de maior valor agregado. “ O Brasil poderia ser bem mais assertivo na
O desemprego industrial seria agravado e, por consequ- tarefa de controle cambial, respeitando as
ência, a recorrente queda do produto interno bruto (PIB) legítimas forças de mercado e tendências de
e da renda per capita. Quanto ao argumento do baixo ní- flutuação, mas sempre com foco no risco de
vel de abertura da economia brasileira, me parece ter um subvalorização ou de sobrevalorização por
caráter dual e ambíguo, pois uma das principais razões do conta de causas especulativas ou crises
reduzido grau de abertura da economia brasileira, do pífio esporádicas de confiança macroeconômica
volume de exportações e do grau elevado de protecionis-
mo tarifário nas importações é, sem dúvida, o prolongado “tativa espúria de intervir no mercado cambial brasileiro
ciclo de sobrevalorização do real de 2007 a 2014. Houves-
se ocorrido a prevalência de uma taxa de câmbio minima- visando retardar uma tendência de desvalorização do
mente equilibrada neste período, certamente a economia real, isto a um custo fiscal altíssimo, que agravou o dé-
brasileira não estaria em situação tão débil como a que se ficit publico nominal nestes dois últimos exercícios, e
encontra atualmente em 2016. Outro ponto equivocado deteriorou os índices de divida pública/PIB.
da resposta da economista Zeina Latif a sua própria per-
gunta é a respeito do papel do Banco Central (BC) no CONSEQUÊNCIAS DA
controle da taxa de câmbio, ou ainda, da influência do VOLATILIDADE CAMBIAL E DA
mercado internacional na formação da taxa de câmbio APRECIAÇÃO DO REAL
real/dólar. É claro que desde a introdução, em 1999, do
mecanismo de câmbio flutuante no tripé macroeconômi- A repercussão destes fatos anômalos na variável cambial
co brasileiro, a repercussão do mercado internacional, em tem sido a de gerar fortes ondas de desindustrialização
especial do dólar norte-americano, apresenta uma corre- e de cristalizar uma nova estrutura produtiva na eco-
lação positiva com os movimentos oscilatórios do real. nomia brasileira, favorecendo o setor de serviços, cuja
Mas caberia destacar que a volatilidade do real tem sido expansão não tem tanto impacto no crescimento, mas
muito mais acentuada em ambas as direções do que a influencia a inflação. Sabemos que a economia brasileira
que acontece com as demais moedas, inclusive de países está presa numa armadilha de curto prazo. Para neutra-
emergentes, caracterizando quase sempre um overshoo- lizar os seus impactos inflacionários, a desvalorização do
ting de caráter especulativo na economia brasileira. real teria um custo de ajuste fiscal que certamente o sis-
Como mostra a Tabela 1, o Real foi a moeda que mais apre- tema financeiro nacional e a elite política não estão dis-
ciou ao longo deste ano de 2016 em relação ao dólar, cons- postos a arcar neste momento. Se prevalecer uma taxa
tituindo-se numa das moedas mais voláteis do sistema. de câmbio apreciada como vem se desenhando ao longo
Provavelmente, estes movimentos nas duas direções são de 2016, a economia brasileira dificilmente retomará
potencializados novamente pela elevada influência das um vigoroso ciclo de crescimento econômico, pois com
posições especulativas no mercado de derivativos, sem- a demanda doméstica derrubada por dois anos consecu-
pre muito superiores aos volumes transacionados no tivos de acentuada queda do PIB, um nível de desem-
mercado à vista. Por outro lado, as intervenções do BC prego atualmente superior a 12%, não teríamos nem a
por meio de swaps cambiais ao longo de 2014 e 2015 demanda interna nem a externa para gerar expansão do
atingiram um volume exagerado, irrazoável, numa ten- emprego e da produção. E, sem crescimento, mais difícil
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TABELA 1
APRECIAÇÃO CAMBIAL EM RELAÇÃO AO DÓLAR NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2016
(MÉDIA MENSAL DE JANEIRO CONTRA MÉDIA MENSAL DE JUNHO)
Dólar Real Euro Dólar Rublo Peso chileno Dólar Rand sul
australiano 17,5% canadense neozelandês africano
5% 3% 9% 14% 5% 7% 7%
Fonte: Oanda. Nota:* Média mensal de janeiro contra média mensal de junho.
1 8 Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016