Page 20 - RBCE128
P. 20

Câmbio no Brasil

O tsumoney cambial na economia brasileira

                           Roberto Giannetti da Fonseca
                   é presidente do CEAL e da Kaduna Consultoria

Roberto Giannetti
    da Fonseca

  Tanto quanto ou mesmo até mais do que a inflação, a questão cambial tem sido um tema recorrente da grande
  maioria dos analistas da economia brasileira. Isto se deve em primeiro lugar à influência que a taxa de câmbio exerce
  direta ou indiretamente sobre todos os outros preços da economia; portanto, sua estabilidade no entorno da taxa de
  equilíbrio é de fundamental importância para o funcionamento eficiente dos demais preços de mercado. Recorren-
  do aos fundamentos básicos de macroeconomia, a taxa de câmbio, com sua livre flutuação, deveria refletir os preços
  relativos de determinada moeda em relação a outras no exterior, bem como promover desta forma o equilíbrio
  das contas externas, aí incluindo as contas correntes dos fluxos de comércio de bens e serviços, de financiamentos
  externos, e de investimentos estrangeiros. No entanto, quando a taxa de câmbio de uma economia se encontra
  fortemente subvalorizada ou sobrevalorizada por conta da influência de fatores exógenos a estes fundamentos, não
  refletindo de forma adequada os verdadeiros preços relativos, esta disfunção cambial provoca graves distorções em
  diversas outras variáveis macroeconômicas. Para se evitar esta ocorrência faz-se preciso analisar com objetividade a
  complexa formação da taxa de câmbio, o que no caso brasileiro, por razões que vamos adiante apontar, transcende
  os elementos da economia real, já que prevalecem elementos subjetivos de expectativas e de natureza especulativa
  das taxas de juros e de câmbio.

  ANTECEDENTES

  É fato notório que a taxa de câmbio no Brasil vem apresentando nos últimos 20 anos duas características altamente
  depreciativas ao seu bom desempenho: a alta volatilidade da flutuação cambial e a inequívoca tendência de sobre-
  valorização cambial na maior parte deste período. Tanto um quanto o outro fator têm provocado frequentes distor-
  ções na formação de preços da economia real, ou seja, nos preços de produtos importados, exportados (tradables), e
  mesmo no mercado doméstico naqueles denominados em dólar no mercado internacional.
  O Brasil foi um dos países da América Latina que mais aprofundaram e diversificaram a sua estrutura produtiva
  industrial no período pós-guerra. Esta estrutura produtiva prosperou de forma acentuada ao longo dos anos 1960
  e 1970 e proporcionou neste período uma significativa taxa de crescimento econômico e da renda nacional, além
  da diversificação da pauta exportadora do país, até então extremamente concentrada em poucas commodities como
  o café, o açúcar e o cacau. Acontece que desde 1994 o país tem sofrido recorrentes e prolongados períodos de so-
  brevalorização cambial e de gradativo aumento da carga tributária, e perdido competitividade produtiva e logística.
1 6 Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25