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Câmbio no Brasil
O tsumoney cambial na economia brasileira
Roberto Giannetti da Fonseca
é presidente do CEAL e da Kaduna Consultoria
Roberto Giannetti
da Fonseca
Tanto quanto ou mesmo até mais do que a inflação, a questão cambial tem sido um tema recorrente da grande
maioria dos analistas da economia brasileira. Isto se deve em primeiro lugar à influência que a taxa de câmbio exerce
direta ou indiretamente sobre todos os outros preços da economia; portanto, sua estabilidade no entorno da taxa de
equilíbrio é de fundamental importância para o funcionamento eficiente dos demais preços de mercado. Recorren-
do aos fundamentos básicos de macroeconomia, a taxa de câmbio, com sua livre flutuação, deveria refletir os preços
relativos de determinada moeda em relação a outras no exterior, bem como promover desta forma o equilíbrio
das contas externas, aí incluindo as contas correntes dos fluxos de comércio de bens e serviços, de financiamentos
externos, e de investimentos estrangeiros. No entanto, quando a taxa de câmbio de uma economia se encontra
fortemente subvalorizada ou sobrevalorizada por conta da influência de fatores exógenos a estes fundamentos, não
refletindo de forma adequada os verdadeiros preços relativos, esta disfunção cambial provoca graves distorções em
diversas outras variáveis macroeconômicas. Para se evitar esta ocorrência faz-se preciso analisar com objetividade a
complexa formação da taxa de câmbio, o que no caso brasileiro, por razões que vamos adiante apontar, transcende
os elementos da economia real, já que prevalecem elementos subjetivos de expectativas e de natureza especulativa
das taxas de juros e de câmbio.
ANTECEDENTES
É fato notório que a taxa de câmbio no Brasil vem apresentando nos últimos 20 anos duas características altamente
depreciativas ao seu bom desempenho: a alta volatilidade da flutuação cambial e a inequívoca tendência de sobre-
valorização cambial na maior parte deste período. Tanto um quanto o outro fator têm provocado frequentes distor-
ções na formação de preços da economia real, ou seja, nos preços de produtos importados, exportados (tradables), e
mesmo no mercado doméstico naqueles denominados em dólar no mercado internacional.
O Brasil foi um dos países da América Latina que mais aprofundaram e diversificaram a sua estrutura produtiva
industrial no período pós-guerra. Esta estrutura produtiva prosperou de forma acentuada ao longo dos anos 1960
e 1970 e proporcionou neste período uma significativa taxa de crescimento econômico e da renda nacional, além
da diversificação da pauta exportadora do país, até então extremamente concentrada em poucas commodities como
o café, o açúcar e o cacau. Acontece que desde 1994 o país tem sofrido recorrentes e prolongados períodos de so-
brevalorização cambial e de gradativo aumento da carga tributária, e perdido competitividade produtiva e logística.
1 6 Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016