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Empresas


          vantes para o setor. O contato com câmaras de comércio,   meio  de  uma  subsidiária  estrangeira  ou  por  plataformas
          aceleradoras  ou  representações  diplomáticas  é  valioso,  terceirizadas  impacta  diretamente  na  margem  de  lucro,
          mas deve ser complementado por análises técnicas e asses-  na preci cação e na percepção de valor pelo cliente. A es-
          soria jurídica especializada, sobretudo quando o país-alvo  trutura societária, por sua vez, deve estar alinhada a essa
          possui regras sensíveis em relação à tributação de serviços  decisão para garantir segurança jurídica e escalabilidade.
          digitais, propriedade intelectual ou proteção de dados.
                                                              Vale destacar que para muitas startups em estágio ini-
          Mais do que mitigar riscos, a atuação jurídica nesta etapa  cial, começar com estruturas mais simples, permite vali-
          pode ajudar a identi car modelos mais e cientes e menos  dar o mercado antes de realizar investimentos maiores.
          custosos  de  entrada.  Em  mercados  cada  vez  mais  regula-  Já empresas com maior maturidade podem considerar
          dos, a inteligência de mercado só se converte em vantagem  modelos mais robustos, desde que amparados por pla-
          competitiva quando vem acompanhada de inteligência ju-  nejamento jurídico e  nanceiro adequados.
          rídica. Juntas, elas transformam a incerteza em estratégia.
                                                              Por isso, a de nição do modelo de entrada não deve ser
                                                              tratada como uma etapa meramente operacional. Trata-se
          Passo 3) Modelos de entrada: estruturação jurí-     de uma escolha estratégica, que in uencia a reputação, a
          dica como fator decisivo de sucesso                 sustentabilidade   nanceira  e  a  capacidade  de  adaptação
          Escolher como ingressar em um novo mercado é uma    da empresa ao novo mercado. O jurídico, ao atuar de for-
          das decisões mais estratégicas e complexas de todo o  ma integrada à equipe de negócios, transforma-se em um
          processo de internacionalização. Não existe uma fórmu-  agente viabilizador da expansão internacional.
          la única. O modelo de entrada deve considerar o per l
          da empresa, o grau de maturidade da solução, os recur-
          sos disponíveis e, principalmente, as condições legais e   Passo 4) Localização da solução e compliance: a
                                                              internacionalização que respeita o contexto local
          operacionais do país de destino.
                                                              Com o modelo de entrada de nido, chega o momento
          Algumas  startups  optam por modelos mais enxutos,  de adaptar a operação ao novo ambiente. Esse processo,
          como a exportação direta de serviços ou a atuação em  conhecido como localização, vai muito além da tradu-
          marketplaces digitais. Outras seguem caminhos mais es-  ção de textos ou ajustes no site. Trata-se da recon gura-
          truturados, como o licenciamento com parceiros locais,  ção da solução para atender às exigências legais, cultu-
          a criação de subsidiárias, a abertura de  liais ou até mes-  rais e comerciais do país de destino.
          mo fusões e aquisições. Cada uma dessas alternativas
          possui implicações jurídicas distintas que exigem aten-  Do ponto de vista jurídico, essa etapa exige atenção má-
          ção desde o início.                                 xima.  A  legislação  internacional  varia  signi cativamen-
                                                              te,  mesmo  entre  países  com  marco  cultural  semelhante.
          O pro ssional do Direito, neste momento, exerce um  Elementos como políticas de privacidade, termos de uso,
          papel determinante. Além de interpretar a legislação  contratos com clientes e fornecedores, regras de proteção
          local, ele contribui ativamente para avaliar os riscos de  ao consumidor, tributação digital e estruturas de fatura-
          cada formato, conduzir a elaboração de contratos e ga-  mento precisam ser revisados à luz da legislação local.
          rantir que a estrutura esteja em conformidade com nor-
          mas tributárias, trabalhistas, societárias e regulatórias  Na União Europeia, por exemplo, a adaptação ao GDPR
          do país-alvo. Mais do que apontar obstáculos, o jurídico   é mandatória e rigorosamente  scalizada. Em países asi-
          pode ajudar a encontrar soluções viáveis, equilibrando  áticos, podem existir exigências adicionais de armazena-
          proteção e viabilidade comercial.                   mento local de dados. Já na América Latina, o registro
                                                              de marcas, o uso de selos e certi cações ambientais ou
          É nesse momento que surgem perguntas fundamentais: o  sanitárias são frequentemente indispensáveis.
          país exige registro prévio da empresa? É possível vender di-
          retamente ao consumidor sem presença física?  uais são   Além das exigências legais, o processo de localização
          as obrigações  scais sobre operações digitais? Existe acor-  envolve aspectos subjetivos e culturais. O nome do pro-
          do para evitar a bitributação com o Brasil? Há exigência de   duto, a forma de comunicar preços, o atendimento ao
          sócio local, capital mínimo ou licenças especí cas?  cliente, o uso de determinadas expressões e até as co-
                                                              res utilizadas podem gerar ruído cultural se não forem
          A forma de faturamento também exige análise estratégi-  adaptadas. Termos inofensivos no Brasil podem soar
          ca.  Decidir  se  a  emissão  ocorrerá  a  partir  do  Brasil,  por  ofensivos ou ambíguos em outras línguas.

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