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Prática de Comex


         de dados seria possível generalizar as observações acima   sidade histórica, o empresário Egon Silva – fundador da
         e identi car como se pode e deve educar mais a força de   WEG – foi para Alemanha com os seus motores para
         trabalho das mulheres para atuar na exportação. Aliás, é   bombas (de água) a tiracolo quatro vezes, e somente na
         bem provável que, no futuro, no agronegócio, em fun-  última viagem conseguiu tirar o primeiro pedido de ex-
         ção da transformação digital, da manufatura aditiva e a   portação da Weg. Mesmo que este fato tenha ocorrido
         difusão da economia de baixo carbono em curso, para-  nos anos sessenta do século passado, e apesar de todo
         fraseando a cantora Ana Castela, haverá cada vez mais   o mundo moderno do digital trade, ainda é demorado
         espaço para a boiadeira.                             vender e conquistar um cliente internacional, tanto para
                                                              homens quanto para mulheres!
         Ao não se ter essas evidências quantitativas e qualitati-
         vas para justi car, sob a ótica da teoria de comércio in-  Do outro lado, a exposição às rodadas de negócios re-
         ternacional, a importância de se incentivar a educação  velou um desa o a ser enfrentado pelas executivas que
         ao máximo para aumentar as competências e habilida-  atuam nas empresas exportadoras. A imagem percebida
         des das mulheres, para que essas se insiram no comércio   pelo estrangeiro, da mulher brasileira bela, simpática,
         exterior, alterando e elevando a quantidade e qualidade   inteligente, sensual e acessível, alimenta uma espécie de
         da intensidade dos fatores de produção, a opção seguida   mito, e mesmo um fetiche, fruto de arquétipos passados
         de diagnóstico feito pelo Governo foi o de identi car  e presentes que vem desde Chica da Silva, Carmem Mi-
         apenas a baixa presença feminina nos quadros dirigentes   randa, Claudia Raia, Luiza Brunet, Giselle Bundchen, e
         das empresas exportadoras.                           agora Anitta e Ana Castela. Diferenças comportamen-
                                                              tais e culturais importantes acabaram gerando antes,
         Com base nisso se buscou desenvolver duas ações, a sa-  durante ou depois dos meetings situações sensíveis e/ou
         ber: a) montar uma rede de coaching  e mentoria para  mal entendidos linguísticos de percepção de cantada, de
         compartilhar experiências e ensinamentos para lidar  cortejar ou até mesmo de assédio na hora de negociar
         com os desa os de vender e gerenciar a exportação; e  internacionalmente. Interlocutores de algumas nacio-
         b) viabilizar a participação das dirigentes numa série  nalidades com características mais conservadoras e/ou
         de rodadas de negócios internacionais. Em que pese o  religiosas parecem que foram os maiores causadores de
         saudável esforço para trabalhar e capacitar cerca de 200   ruídos nas negociações.
         executivas de exportação, surgiram desa os nas rodadas
         de negócio. De um lado, está havendo pressão “por re-  Uma experiente trader  – que conhece e acompanha o
         sultados” visto que nos questionários de avaliação pós-  programa das Nações Unidas do HE4SHE – solucio-
         -feira ou rodada se indaga se o negócio de exportação  nou o problema convidando traders brasileiros homens
         foi efetivado.                                       para participar com ela das negociações – mesmo tendo
                                                              que dividir a sua comissão de agente com parceiro bra-
          uerer fechar uma venda internacional na primeira par-  sileiro. Além disso, ao receber telefonema de potencial
         ticipação em evento internacional mostra um desconhe-  cliente árabe no domingo – mesmo que esse informasse
         cimento da realidade e da arte de negociar e participar   que há diferenças devido ao calendário do Ramadã, esta
         de feiras internacionais. Por exemplo, a título de curio-  teve savoir faire para cortar a conversa ao dizer que do-
                                                              mingo é dia de descanso na tradição brasileira. Isso só
                                                              mostra a necessidade de dotar e expor todas as pro ssio-
         “                                                    nais mulheres a uma maior cultura exportadora.

                                                              Isso é extremamente relevante e possível no momento
                 Uma política de comércio exterior
                estratégica focada na educação e no           presente, pois agora Cultura Exportadora é uma política
                                                              de Estado, e não de Governo (Pitta, 2023). De acordo
                  ensino e na exposição à cultura             com este autor “no mês de julho de 2023, o atual gover-
                 exportadora pode potencializar e             no editou o Decreto nº 11.593 que instituiu, de acordo
               intensi car ao máximo as capacidades           com seu art. 1º, “a Política Nacional de Cultura Expor-
                                                              tadora [PNCE], com a  nalidade de difundir a cultura
                  e o acúmulo capital humano das              exportadora e ampliar o número de exportadores brasilei-
                        mulheres brasileiras                  ros, especialmente as micro, pequenas e médias empresas”.
                                                              De acordo com o decreto, o art. 3º informa que as ações
                                                        ”     da Política Nacional de Cultura Exportadora serão di-


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