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          rigidas a todos os setores da economia, especialmente  tadora, pode potencializar e intensi car ao máximo as
          àqueles com potencial exportador, e contemplarão as  capacidades e o acúmulo capital humano das mulheres.
          seguintes iniciativas: I - promoção das exportações e da
          disseminação da cultura exportadora; II - capacitação e   Isso pode ser obtido a partir do modelo exposto em
          treinamento para as empresas interessadas na atividade   qualquer livro texto de economia internacional que ex-
          de exportação; III - compartilhamento de boas práticas   ponha um modelo (2x2x2) – dois fatores de produção
          de exportação de produtos; IV - fomento à participação   (trabalho e capital); dois produtos (vinho e têxtil); e
          em eventos de promoção comercial; V - aproximação   dois países (poderia ser qualquer um, mas quase sempre
          entre empresas exportadoras e instituições ofertantes de   se fala de Inglaterra e Portugal). A partir de uma situação
          serviços relacionados à exportação; e VI - identi cação   inicial de não haver comércio entre os países, e de haver
          de oportunidades para fomento da cultura exportadora   dotações iguais de fatores de produção para se produzir
          e para exportação de produtos e serviços.           os dois bens nos países, se abre a economia ao comércio.

          Isso signi ca que hoje se pode implantar uma política de   Ao permitir uma variação – devido a possibilidade de li-
          comércio exterior estratégica para a inserção, inclusão  vre movimentação dos fatores de produção e arbitragem
          social e produtiva de mulheres nas atividades de expor-  entre os preços dos dois países, se inicia uma “abertura
          tação como uma das ações e atividades da PNCE. Esta   ao comércio internacional”. Esta, por sua vez, engendra
          política deve ser desenhada e implementada seguindo a   um processo de especialização produtiva tendo como
          sugestão de Cordeiro e Santos (2023) de que precisa-  base as fontes de vantagens comparativas que, nesse
          mos, a partir de hoje, expandir de forma perene nossa  caso, decorreria de uma maior quantidade e intensidade
          pauta de exportação de bens – agrícolas, semimanufa-  relativa do fator trabalho. Importa reter que ao se inse-
          turados, manufaturados e de serviços – com base numa   rir no comércio internacional se incentiva a de nitiva
          parceria de força público-privada, sugestão sempre pre-  transformação do padrão global de comércio exterior
          conizada pelo saudoso Dr. Benedicto Moreira, ex-dire-  entre as duas nações descritas nos livros textos.
          tor da Cacex, da AEB e da Funcex.
                                                              Mas, para aplicar esse princípio ao Brasil, temos de ge-
          Uma política de comércio exterior estratégica focada  neralizar os dois produtos para os N bens que constam
          na educação e no ensino e na exposição à cultura expor-  na nomenclatura comum de mercadoria, e do padrão de
          tadora pode potencializar e intensi car ao máximo as  comércio exterior para sugerir a aplicação do princípio
          capacidades e o acúmulo capital humano das mulheres   da visão econômica de John Stuart Mill, segundo o qual
          brasileiras, de modo que elas sejam demandadas para  “a abertura comercial pode proporcionar aos países cujas
          atuar como: a) mão de obra quali cada; b) quadro exe-  possibilidades de produção eram mal exploradas a oportu-
          cutivo júnior, médio e superior; c) líder e presidente de   nidade de que se desencadeie alguma forma de revolução
          empresas; d) partícipe e líder de Conselhos Empresa-  industrial” (traducao livre de “the opening of a foreign
          riais e associações de classe setoriais; ou, e) virem se tor-  trade... sometimes works a sort of industrial revolution in
          nar traders e empreendedoras com conhecimento ímpar  a country whose resource well previously undeveloped”),
          para gerir e implementar o processo de expansão das ex-  (apud Meier, 1968, p. 1).
          portações e de internacionalização de empresas.
                                                              Com a perspectiva de livro texto mais a proposição de
          Uma política desse porte pode simultaneamente expan-  Mill, se constata que ao se inserir a economia ao comér-
          dir a base de empresas brasileiras no comércio exterior,  cio internacional se produz e se gera ganhos de comér-
          e depois internacionalizar essas empresas, de modo a in-  cio. Mas resta explicar como se pode intensi car o acú-
          serí-las nas cadeias globais de valor para ganhar marke-  mulo e uma maior e melhor dotação do fator trabalho
          t-share, além do crescimento vegetativo e natural da ex-  para induzir a uma maior transformação do padrão de
          pansão observada no mercado internacional.          comércio de uma nação via educação.

          Para se atingir esses objetivos é necessário, de um la-  Para essa  nalidade – justi car investir em educação
          do,intensi car ao máximo as capacidades e o acúmulo  e quali cação no comércio exterior – se deve seguir a
          capital humano das mulheres como determinante ou    proposta de Frederich List. Para este, ao se abrir uma
          indutor da determinação do padrão de comércio entre  economia ou região ao exterior e se associar e fornecer
          as nações. Do outro lado, mostrar quais argumentos  educação ao máximo ao fator trabalho se mostrará que
          econômicos se pode apontar, de modo que a educação  se produzirá um tipo de “Capital Mental Como Força
          e o ensino num contexto de aquisição de cultura expor-  Produtiva do Progresso”.


          Nº 161 - Outubro, Novembro e Dezembro de 2024                                                      81
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