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Prática de Comex


         Em seu tratado de 1841 List argumenta em prol da edu-  como o poder produtivo de uma nação, sua força ima-
         cação para o bem comum no sentido de desenvolver     terial e material é o resultado de uma união de trabalho
         habilidades individuais e fornecer à indústria pessoas  contínuo por gerações. O poder produtivo de uma na-
         quali cadas. Ele, portanto, demanda por mais livros e  ção só é possível devido à educação das gerações mais
         professores, em particular dentro da matemática e das  jovens pelas gerações mais velhas, por meio de institui-
         ciências naturais. Para ele, a indústria é a mãe e o pai da   ções religiosas, sistemas de castas pro ssionais e guildas,
         ciência, da literatura, das artes, do esclarecimento, da li-  e mais tarde por escolas e livros. List frequentemente se
         berdade e das instituições úteis ao poder e independên-  refere a esse processo de aprendizado coletivo como ”a
         cia nacionais. Qualquer um que deseje se dedicar à ativi-  educação industrial da nação” (Cf. List, 1841).
         dade industrial – e à produção de bens manufaturados –
         deve aprender e entender algo de matemática e ciências   O descrito acima com base em List é uma con rmação
         naturais. Professores e livros são necessários para permi-  moderna da vida empresarial prática, e da importância
         tir que aqueles envolvidos em atividades industriais pro-  da educação. Em resumo, investir em educação e treina-
         gridam nessas disciplinas. Elas são necessárias para dar   mento em uma economia ou região em processo de se
         aos jovens que possuem a habilidade natural apropriada   abrir ao exterior pode potencializar de maneira dupla:
         e educação prévia, a oportunidade de se especializar em   “proporcionar aos países cujas possibilidades de produção
         matemática e ciências naturais (List, 1841, pp. 66-67).  eram mal exploradas a oportunidade de que se desencadeie
                                                              alguma forma de revolução industrial” como proposto
         List descreve como a Inglaterra convidou trabalhadores   por Mill; e ao ser associado a potencializar a educação
         quali cados do exterior, deixou que eles educassem os  ao máximo, no sentido de List, essa se torna o “Capital
         trabalhadores da Inglaterra e cuidadosamente nutriu a  Mental para ser Força Produtiva do Progresso”.
         nova habilidade. O reino insular tomou emprestado de
         todos os países do continente sua habilidade em ramos   Partindo dessa visão, o desenvolvimento econômico e
         especiais da indústria e os plantou em solo inglês, sob a   social e os frutos advindos de uma maior inserção no
         proteção de seu sistema alfandegário. Veneza teve que  mercado internacional deve ser medido não só pelo
         ceder (entre outros negócios em artigos de luxo) a arte   que as pessoas realizam, ou não, mas pelas reais liber-
         da fabricação de vidro, enquanto a Pérsia teve que desis-  dades que possuem de cultivar um estilo de vida digno
         tir da arte da tecelagem e tingimento de tapetes. Uma  e adequado para viver e usufruir simultaneamente dos
         vez possuidora de qualquer ramo da indústria, a Ingla-  benefícios da globalização econômica e de um mundo
         terra concedeu a ele cuidados e atenção diligentes, por   multipolar, onde o Brasil atua como global trader.
         séculos tratandoo como uma árvore jovem que requer
         suporte e cuidado (List, 1841a, p. 39).              A liberdade e as oportunidades advindas deste novo
                                                              processo de transformação estrutural em curso, fruto da
         O ponto crucial para entender as políticas comerciais  globalização de mercados num mundo multipolar, não
         de List é que os fundamentos mentais da economia tor-  pode ser valorizada apenas no seu papel instrumental,
         nam o aprendizado necessário e possível. List o explica   de ser um meio, contingente, para atingir determinado
                                                               m, que é acompanhar o desenvolvimento das forças
         “                                                    produtivas.

                                                              Importa ressaltar que o desenvolvimento das forças pro-
                   A vertente SHE4TRADE visa
                  empoderar as jovens mulheres a              dutivas num ambiente e com o propósito de potencia-
                                                              lizar a abertura e inserção no comércio internacional,
                      saberem obter ganhos de                 permite que os ganhos de comércio gerem e incentivem
                     produtividade, aumentar a                a inclusão produtiva, e mudem as vidas e as condições
                                                              de jovens mulheres, ao incentivar que as mesmas bus-
               lucratividade, e incentivar a inovação         quem e saibam capturar as oportunidades abertas pela

               de produto e processo, além de gerir           inserção das empresas exportadoras nas cadeias de valor
                os aspectos de produção, câmbio e             globais e adquirindo cultura exportadora.
                    trade  nance, e logística nas             Mas, para que se possa expandir a base exportadora das
                     atividades de exportação                 empresas, diversi car os produtos e serviços por regiões,
                                                              setores e aumentar a inserção nas cadeias globais de va-
                                                        ”     lor, além de internacionalizar as empresas é preciso in-


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