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RBCE - A revista da
bona a célebre e contundente de nição do ex-presidente
Porfírio Diaz: “Pobre México, tão longe de Deus e tão
perto dos Estados Unidos”.
A Argentina, com viés inovador, resolveu equiparar o
peso ao dólar, por meio da adoção do plano de conversibi-
lidade do ministro Domingo Cavallo, cuja audácia mone-
tário- nanceira resultou no dafault de sua dívida externa
em 2001, trazendo malefícios econômicos e comerciais
internos e ao Mercosul que perduram até os dias atuais,
afetando o relacionamento com seus parceiros regionais.
O Brasil, por seu turno, aproveitou os anos 1990 para
renovar suas diretrizes governamentais, amenizou seus
problemas in acionários, que não surtiram efeito com
o Plano Cruzado, adotando o Plano Real em 1994. No
Imagem de Arek Socha por Pixabay
entanto, cometeu dois equívocos cruciais.
No primeiro deles, denunciou o acordo bilateral que
mantinha com o México, sob a alegação de aquele país
quebrar a hegemonia da integração regional. A retoma-
da comercial entre as duas maiores economias da Amé-
rica Latina só ocorreu em 2002 mediante a negociação
do acordo no setor automotriz e outro em 2004, extre-
ram negociações especí cas sobre importantes setores mamente modesto por incluir apenas 800 itens das res-
industriais. Os países de menor desenvolvimento relati- pectivas nomenclaturas e adotar preferências tarifárias
vo – Bolívia, Equador, Paraguai e Uruguai –, obtiveram recíprocas incipientes.
tratamentos preferenciais adequados às suas economias.
Não contente, inventou um Mercosul de trás para adian-
Não obstante o ambiente econômico nos anos 1980 ter te, mediante a apressada criação de uma tarifa externa
sido desfavorável à região, experimentando importantes comum como se a almejada união aduaneira já estivesse
contratempos no desempenho econômico prejudicado consolidada.
por surtos in acionários descontrolados na maioria dos
países – período conhecido como “a década perdida” –, Como resultado, o Mercosul passa, presentemente, por
o comércio regional foi recrudescendo paulatinamente. um processo crítico de estagnação institucional com re-
exos decrescentes na esfera comercial. A atual situação
Os acordos bilaterais negociados pela nova sistemática do bloco está merecendo uma consistente reavaliação,
da Aladi passaram a surtir efeitos comerciais relevantes, inclusive prevista pelo Capítulo 47 do Protocolo de
ainda mais pela via dos entendimentos setoriais abran- Ouro Preto, que deu legitimidade jurídica ao proces-
gendo ramos industriais importantes localizados nos so. Além dos percalços para alcançar uma efetiva união
países mais industrializados da região. aduaneira, inexiste no bloco sequer uma área de livre co-
mércio, exempli cando apenas algumas aberrações:
Os anos 1990, no entanto, revelaram de forma clara o
espírito irrequieto, antagônico e atropelado dos diri- • O Uruguai e a Argentina vivem às turras com as li-
gentes latino-americanos, sempre apressados e despre- beralizações comerciais, além de entraves na coor-
parados para reduzir, de forma racional, as diferenças denação logística nos respectivos portos e no trans-
conceituais e pragmáticas de seus países em relação ao porte marítimo, enquanto o primeiro sonha realizar
mundo mais desenvolvido. um acordo comercial com a China, desejo impedi-
o
do pela Decisão CMC n 32/2000.
O México aliou-se aos Estados Unidos e Canadá ao par-
ticipar do Na a, mais recentemente renovado com a de- • No comércio bilateral argentino-brasileiro, prati-
nominação United States–México-Canada Agreement camente metade dos trâmites está sujeito a licenças
(USMCA). O novo status econômico mexicano, agora não automáticas, além das di culdades da Argenti-
mais voltado comercialmente ao primeiro mundo, desa- na em autorizar importações com pagamento em
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