Page 29 - RBCE 156
P. 29

RBCE - A revista da



                                                              bona a célebre e contundente de nição do ex-presidente

                                                              Porfírio Diaz: “Pobre México, tão longe de Deus e tão
                                                              perto dos Estados Unidos”.
                                                              A  Argentina,  com  viés  inovador,  resolveu  equiparar  o
                                                              peso ao dólar, por meio da adoção do plano de conversibi-
                                                              lidade do ministro Domingo Cavallo, cuja audácia mone-
                                                              tário- nanceira resultou no dafault de sua dívida externa

                                                              em  2001,  trazendo  malefícios  econômicos  e  comerciais
                                                              internos e ao Mercosul que perduram até os dias atuais,
                                                              afetando o relacionamento com seus parceiros regionais.

                                                              O Brasil, por seu turno, aproveitou os anos 1990 para
                                                              renovar suas diretrizes governamentais, amenizou seus
                                                              problemas in  acionários, que não surtiram efeito com
                                                              o Plano Cruzado, adotando o Plano Real em 1994. No
                                               Imagem de Arek Socha por Pixabay
                                                              entanto, cometeu dois equívocos cruciais.
                                                              No primeiro deles, denunciou o acordo bilateral que
                                                              mantinha com o México, sob a alegação de aquele país
                                                              quebrar a hegemonia da integração regional. A retoma-
                                                              da comercial entre as duas maiores economias da Amé-
                                                              rica Latina só ocorreu em 2002 mediante a negociação
                                                              do acordo no setor automotriz e outro em 2004, extre-
          ram negociações especí  cas sobre importantes setores  mamente modesto por incluir apenas 800 itens das res-
          industriais. Os países de menor desenvolvimento relati-  pectivas nomenclaturas e adotar preferências tarifárias
          vo – Bolívia, Equador, Paraguai e Uruguai –, obtiveram  recíprocas incipientes.
          tratamentos preferenciais adequados às suas economias.
                                                              Não contente, inventou um Mercosul de trás para adian-
          Não obstante o ambiente econômico nos anos 1980 ter  te, mediante a apressada criação de uma tarifa externa
          sido desfavorável à região, experimentando importantes  comum como se a almejada união aduaneira já estivesse
          contratempos no desempenho econômico prejudicado  consolidada.
          por surtos in acionários descontrolados na maioria dos

          países – período conhecido como “a década perdida” –,   Como resultado, o Mercosul passa, presentemente, por
          o comércio regional foi recrudescendo paulatinamente.  um processo crítico de estagnação institucional com re-
                                                               exos decrescentes na esfera comercial. A atual situação

          Os acordos bilaterais negociados pela nova sistemática  do bloco está merecendo uma consistente reavaliação,
          da Aladi passaram a surtir efeitos comerciais relevantes,  inclusive prevista pelo Capítulo 47 do Protocolo de
          ainda mais pela via dos entendimentos setoriais abran-  Ouro Preto, que deu legitimidade jurídica ao proces-
          gendo ramos industriais importantes localizados nos  so. Além dos percalços para alcançar uma efetiva união
          países mais industrializados da região.             aduaneira, inexiste no bloco sequer uma área de livre co-

                                                              mércio, exempli cando apenas algumas aberrações:
          Os anos 1990, no entanto, revelaram de forma clara o
          espírito irrequieto, antagônico e atropelado dos diri-  •  O Uruguai e a Argentina vivem às turras com as li-
          gentes latino-americanos, sempre apressados e despre-   beralizações comerciais, além de entraves na coor-
          parados para reduzir, de forma racional, as diferenças  denação logística nos respectivos portos e no trans-
          conceituais e pragmáticas de seus países em relação ao  porte marítimo, enquanto o primeiro sonha realizar
          mundo mais desenvolvido.                                um acordo comercial com a China, desejo impedi-
                                                                                        o
                                                                  do pela Decisão CMC n  32/2000.
          O México aliou-se aos Estados Unidos e Canadá ao par-
          ticipar do Na a, mais recentemente renovado com a de-  •  No comércio bilateral argentino-brasileiro, prati-

          nominação United States–México-Canada Agreement         camente metade dos trâmites está sujeito a licenças

          (USMCA). O novo status econômico mexicano, agora        não automáticas, além das di culdades da Argenti-
          mais voltado comercialmente ao primeiro mundo, desa-    na em autorizar importações com pagamento em

          Nº  156 - Julho, Agosto e Setembro de 2023                                                         25
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34