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RBCE - A revista da



          agradecendo a contribuição e dizendo que iria falar a respei-  le  momento,  havia  mais  de  R$  1  bilhão  em  caixa,  e  esses
          to com a equipe econômica e com o secretário executivo da   recursos  poderiam  ser  usados,  pelo  menos  em  parte,  para
          então recém-criada Câmara de Comércio Exterior da Presi-  promover as exportações brasileiras em mercados externos,
          dência da República (Camex), embaixador Sérgio Amaral.  organizando missões comerciais, participação de empresas
                                                              brasileiras em feiras e exposições internacionais, pesquisas
          O pouco que havia sobrado de quadros burocráticos e ins-  de mercado e propaganda institucional da imagem do Bra-
          trumentos de ação da Cacex, principal agência de formu-  sil como país exportador con ável, competitivo e de pro-
          lação  da  política  comercial  desenvolvimentista  nos  anos  dutos de qualidade, entre outras atividades.
          1970 e 1980, era um arcabouço institucional pulverizado,
          com  sobreposição  e  partilha  de  competências  e  ausência  A  reação  positiva  dele  foi  espontânea  e  imediata.  Ligou
          de um organismo coordenador das ações dos ministérios e  na mesma hora para o então presidente do Sebrae, Sérgio
          agências. A debilidade institucional foi ainda mais acentua-  Moreira, conferiu com ele que a liquidez  nanceira daquela
          da, porque o comércio exterior não era uma das prioridades  instituição era mesmo enorme naquele exercício e chamou-
          do governo de Itamar Franco, no qual toda a atenção fora  -o imediatamente ao Palácio do Planalto. Poucos dias de-
          destinada para a questão da estabilidade monetária.  pois, estava pronto um decreto da presidência da República
                                                              criando a Agência de Promoção de Exportações – Apex –,
          No  início  do  governo  FHC,  havia  três  ministérios  que  vinculada inicialmente ao Sebrae, até que, em 2003, já na
          dividiam entre si as principais incumbências do comércio   gestão petista, se obteve para ela um orçamento próprio, e a
          exterior  brasileiro,  e  não  havia  nenhuma  atividade  de  co-  Apex se estabeleceu de nitivamente como órgão de apoio
          ordenação  nem  de  intermediação  para  resolver  questões  à promoção das exportações e de atração de investimentos
          que  envolvessem  competências  partilhadas.  Foi  logo  no
          seu primeiro ano de mandato que surgiu a Camex. Em sua   externos  para  a  economia  brasileira.  Seu  primeiro  presi-
          concepção original, a Camex seria um conselho de minis-  dente, Frederico Alvarez, tomou posse dias depois daquele
          tros relacionados ao comércio exterior – órgão que, além de   meu  encontro  com  o  ministro  Clóvis  Carvalho  e  logrou
          ser ligado diretamente à presidência da República, estaria   dar existência à Apex que até hoje conhecemos.
          sediado no Palácio do Planalto, o que lhe conferia grande   Apesar  desses  espasmos  esporádicos  de  atenção  ao  co-
          poder convocatório. Nesse formato, as reuniões da Camex   mércio  exterior  brasileiro,  prevalecia  ainda  na  política
          possuíam a simbologia presidencial, sendo prestigiadas pe-
          los ministros que a compunham, mesmo sem possuir com-  macroeconômica  introduzida  pelo  Plano  Real  um  forte
          petências operacionais que lhes permitissem deliberar. A Ca-  viés antiexportação, resultante principalmente da política
          mex foi criada em 1995, para exercer o papel de catalisador   monetária de juros elevados e de intencional sobrevalori-
          institucional do comércio exterior brasileiro, como também   zação  cambial,  que  tornava  nossas  exportações  mais  ca-
          de coordenador de políticas públicas relativas a ele.  ras e menos competitivas no mercado internacional. Por
                                                              outro lado, estimulava as importações, criando forte con-
          Foi numa dessas visitas ao Palácio do Planalto, em setem-  corrência dos produtos importados com a produção na-
          bro  de  1995,  para  conversar  sobre  a  criação  da  Camex,  cional no mercado doméstico. Como resultado, a balança
          que  estive  com  o  ministro-chefe  da  Casa  Civil,  Clóvis  comercial apresentava um saldo crescentemente negativo,
          Carvalho,  engenheiro  paulista  com  marcante  passagem  que  agravava  o  dé cit  em  contas-correntes  externas,  o
          pelo setor privado e que exercia com empenho sua função  qual  já  atingia  em  1997  um  nível  alarmante,  superior  a
          na presidência da República. Expus a ele minha opinião  4,5% do PIB nacional.
          sobre a necessidade de revigorar a cambaleante atividade
          exportadora brasileira e, entre outras medidas em discus-  Foi  quando  ocorreu  a  surpreendente  crise  cambial  dos
          são, perguntei: “Por que não criarmos no governo federal   países chamados Tigres Asiáticos, levando pânico ao sis-
          uma agência brasileira de promoção das exportações no   tema   nanceiro  internacional.  Coreia  do  Sul,  Malásia,
          mesmo estilo das agências europeias?”               Tailândia, Indonésia, Filipinas, entre outros países daque-
                                                              la  região,  se  destacavam  pelas  altas  taxas  de  crescimento
          Ele  me  respondeu  que,  naquele  momento  de  austeridade  econômico  nos  anos  anteriores,  mas  apresentavam  tam-
           scal, era absolutamente impossível, não havia dinheiro no  bém  crescentes  dé cits  no  balanço  de  contas-correntes
          orçamento para isso. Lembrei a ele que poderia haver uma  externas, e de repente se viram em grave risco de iliquidez
          alternativa: o Sebrae, que é uma entidade privada sem  ns  em moedas estrangeiras, maciça fuga de capitais e reação
          lucrativos e de interesse público, tinha sua função de apoio  em cadeia, em escala internacional. Até a poderosa e sóli-
          ao empreendedorismo nacional, especialmente dedicado à  da economia japonesa viu-se afetada por aquele solavanco
          promoção de pequenas e médias empresas. E que lá, naque-  que abalou a economia mundial. O FMI interveio, com


          Nº  156 - Julho, Agosto e Setembro de 2023                                                         13
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