Page 17 - RBCE 156
P. 17
RBCE - A revista da
agradecendo a contribuição e dizendo que iria falar a respei- le momento, havia mais de R$ 1 bilhão em caixa, e esses
to com a equipe econômica e com o secretário executivo da recursos poderiam ser usados, pelo menos em parte, para
então recém-criada Câmara de Comércio Exterior da Presi- promover as exportações brasileiras em mercados externos,
dência da República (Camex), embaixador Sérgio Amaral. organizando missões comerciais, participação de empresas
brasileiras em feiras e exposições internacionais, pesquisas
O pouco que havia sobrado de quadros burocráticos e ins- de mercado e propaganda institucional da imagem do Bra-
trumentos de ação da Cacex, principal agência de formu- sil como país exportador con ável, competitivo e de pro-
lação da política comercial desenvolvimentista nos anos dutos de qualidade, entre outras atividades.
1970 e 1980, era um arcabouço institucional pulverizado,
com sobreposição e partilha de competências e ausência A reação positiva dele foi espontânea e imediata. Ligou
de um organismo coordenador das ações dos ministérios e na mesma hora para o então presidente do Sebrae, Sérgio
agências. A debilidade institucional foi ainda mais acentua- Moreira, conferiu com ele que a liquidez nanceira daquela
da, porque o comércio exterior não era uma das prioridades instituição era mesmo enorme naquele exercício e chamou-
do governo de Itamar Franco, no qual toda a atenção fora -o imediatamente ao Palácio do Planalto. Poucos dias de-
destinada para a questão da estabilidade monetária. pois, estava pronto um decreto da presidência da República
criando a Agência de Promoção de Exportações – Apex –,
No início do governo FHC, havia três ministérios que vinculada inicialmente ao Sebrae, até que, em 2003, já na
dividiam entre si as principais incumbências do comércio gestão petista, se obteve para ela um orçamento próprio, e a
exterior brasileiro, e não havia nenhuma atividade de co- Apex se estabeleceu de nitivamente como órgão de apoio
ordenação nem de intermediação para resolver questões à promoção das exportações e de atração de investimentos
que envolvessem competências partilhadas. Foi logo no
seu primeiro ano de mandato que surgiu a Camex. Em sua externos para a economia brasileira. Seu primeiro presi-
concepção original, a Camex seria um conselho de minis- dente, Frederico Alvarez, tomou posse dias depois daquele
tros relacionados ao comércio exterior – órgão que, além de meu encontro com o ministro Clóvis Carvalho e logrou
ser ligado diretamente à presidência da República, estaria dar existência à Apex que até hoje conhecemos.
sediado no Palácio do Planalto, o que lhe conferia grande Apesar desses espasmos esporádicos de atenção ao co-
poder convocatório. Nesse formato, as reuniões da Camex mércio exterior brasileiro, prevalecia ainda na política
possuíam a simbologia presidencial, sendo prestigiadas pe-
los ministros que a compunham, mesmo sem possuir com- macroeconômica introduzida pelo Plano Real um forte
petências operacionais que lhes permitissem deliberar. A Ca- viés antiexportação, resultante principalmente da política
mex foi criada em 1995, para exercer o papel de catalisador monetária de juros elevados e de intencional sobrevalori-
institucional do comércio exterior brasileiro, como também zação cambial, que tornava nossas exportações mais ca-
de coordenador de políticas públicas relativas a ele. ras e menos competitivas no mercado internacional. Por
outro lado, estimulava as importações, criando forte con-
Foi numa dessas visitas ao Palácio do Planalto, em setem- corrência dos produtos importados com a produção na-
bro de 1995, para conversar sobre a criação da Camex, cional no mercado doméstico. Como resultado, a balança
que estive com o ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis comercial apresentava um saldo crescentemente negativo,
Carvalho, engenheiro paulista com marcante passagem que agravava o dé cit em contas-correntes externas, o
pelo setor privado e que exercia com empenho sua função qual já atingia em 1997 um nível alarmante, superior a
na presidência da República. Expus a ele minha opinião 4,5% do PIB nacional.
sobre a necessidade de revigorar a cambaleante atividade
exportadora brasileira e, entre outras medidas em discus- Foi quando ocorreu a surpreendente crise cambial dos
são, perguntei: “Por que não criarmos no governo federal países chamados Tigres Asiáticos, levando pânico ao sis-
uma agência brasileira de promoção das exportações no tema nanceiro internacional. Coreia do Sul, Malásia,
mesmo estilo das agências europeias?” Tailândia, Indonésia, Filipinas, entre outros países daque-
la região, se destacavam pelas altas taxas de crescimento
Ele me respondeu que, naquele momento de austeridade econômico nos anos anteriores, mas apresentavam tam-
scal, era absolutamente impossível, não havia dinheiro no bém crescentes dé cits no balanço de contas-correntes
orçamento para isso. Lembrei a ele que poderia haver uma externas, e de repente se viram em grave risco de iliquidez
alternativa: o Sebrae, que é uma entidade privada sem ns em moedas estrangeiras, maciça fuga de capitais e reação
lucrativos e de interesse público, tinha sua função de apoio em cadeia, em escala internacional. Até a poderosa e sóli-
ao empreendedorismo nacional, especialmente dedicado à da economia japonesa viu-se afetada por aquele solavanco
promoção de pequenas e médias empresas. E que lá, naque- que abalou a economia mundial. O FMI interveio, com
Nº 156 - Julho, Agosto e Setembro de 2023 13