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RBCE - A revista da



                                                              Brasil  nos  anos  1950,  bem  como  aquelas  que  puderam
                                                              privilegiar mais a expansão das exportações, como ocor-
                                                              reu  na  Coreia  do  Sul  ou  em  Taiwan,  foram  igualmente
                                                              intervencionistas, no sentido de pôr em prática medidas
                                                              de natureza tarifária, tributária e  nanceira, com esse ob-
                                                              jetivo  estratégico,  sendo  apenas  variantes  nacionais  da
                                                              industrialização tardia liderada e promovida pelo Estado.

                                                              A inadequação dessa taxinomia entre mercado interno e
                                                              externo se torna evidente quando notamos que os países
                                                              que adotaram uma estratégia de desenvolvimento lidera-
                                                              do  pelo  Estado  com  muito  intervencionismo  (logo,  de-
                                                              viam ser vistos como praticando “substituição de impor-
                                                              tações”) cresceram menos do que aqueles onde as expor-
                                                              tações tiveram uma participação importante na demanda
                                                               nal autônoma da economia (logo, todos também deve-
                                           Imagem de myUKhub2 por Pixabay  riam ser classi cados como “países com crescimento lide-
                                                              rado pelas exportações”). O aumento das exportações im-
                                                              plica maior ou menor escala no simultâneo crescimento
                                                              do mercado interno, mas o inverso não é necessariamente
                                                              verdadeiro. A existência de capacidade de escala de pro-
                                                              dução  doméstica  de  meios  de  produção  é  fundamental
                                                              para aliviar a restrição externa ao crescimento, visto que
          de Lima. Esses dois altos funcionários públicos foram os   permite  o  controle  da  propensão  marginal  a  importar,
          principais responsáveis pelo sucesso desse histórico turn   mesmo com crescimento da taxa de investimento. Assim,
          around do comércio exterior brasileiro.             quanto maior a proporção dos meios de produção, que já
                                                              é produzida internamente, menor é a propensão marginal
          O exportador brasileiro era então um cidadão prestigia-  a importar, associada a uma dada taxa de investimento, o
          do, respeitado e saudado como um herói nacional, e nesse   que permite gerar considerável folga na situação externa.
          ambiente as exportações brasileiras rapidamente começa-  Essa foi a lógica econômica que predominou em muitos
          ram a crescer e a se diversi car. A partir de 1973, o Brasil   países no período pós-guerra.
          passou  a  incluir  em  sua  pauta  de  exportações  especial-
          mente produtos manufaturados e a multiplicar o destino
          das  vendas,  incluindo  muitos  mercados  pioneiros,  tais
          como países africanos e asiáticos, que pela primeira vez re-
          eram outros benefícios dessa empreitada, que mobilizou  “  Todo plano deve ter uma meta, um
          cebiam produtos made in Brazil. A consequente geração
                  e
                    empregos
          de
            renda
                                           indústria
                                                   brasileira
                             quali cados
                                        na
          grande parte da economia nacional naquele período. “Ex-       propósito claro, com métrica
          portar é o que importa”, lembrava cotidianamente a pro-      de nida, e deve ser também de
          paganda o cial do governo federal.
                                                                      conhecimento e compromisso de
          A  observação  empírica  nos  ensina  que  nenhum  país  do  todos os envolvidos em sua execução,
          mundo  havia  se  tornado  moderno  e  se  desenvolvido    ou o plano  cará incerto quanto ao
          plenamente  sem  que  houvesse  ocorrido  antes  um  surto
          exportador,  resultante  de  sua  maior  competitividade  re-  seu desempenho e sua trajetória.
          lativa e de sua melhor e ciência econômica. Assim ocor-   Minha intenção era que houvesse um
          reu com a Alemanha, a Itália e o Japão no período logo       plano para expandir de forma
          após a Segunda Guerra Mundial. As estratégias bem-su-
          cedidas de países em desenvolvimento no pós-guerra não    signi cativa o coe ciente exportador
          eram tão diferentes nem exclusivas entre si. Tanto assim         da economia brasileira
          que as economias que tiveram que se concentrar mais no
                                                                                                            ”
          polo da substituição de importações, como foi o caso do

          Nº  156 - Julho, Agosto e Setembro de 2023                                                         11
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