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Momento Histórico
Exportar ou morrer
Roberto Giannetti da Fonseca
é economista e empresário
Roberto Giannetti
da Fonseca
Ao longo das décadas de 1970 e 1980, o Brasil havia aprendido a exportar. Ou melhor, havia aprendido a vender
para o mercado internacional, e não ser apenas comprado. Isso aconteceu não por mero acesso de voluntarismo nem
por súbita vocação exportadora, mas por urgente necessidade de sobrevivência econômica. A crise do petróleo, em
1973, promoveu repentino aumento dos preços dos combustíveis, de 2 dólares para cerca de 12 dólares o barril. Para
quem dependia de petróleo importado, era o prenúncio de uma crise econômica gigantesca. Naqueles anos, o Brasil
importava cerca de 80% de todo o petróleo que consumia e, com o choque de preço, sua balança comercial tornou-se
subitamente negativa. A situação das contas externas chegou a um ponto tão crítico que exigiu tratamento corretivo
drástico. No Banco Central, nossas reservas externas eram su cientes para cobrir apenas três meses de importações. A
primeira medida importante a ser tomada consistiria em restringir as importações, por meio de rígido controle admi-
nistrativo das licenças de importação, e, ao mesmo tempo, procurar ampliar de modo signi cativo nossas exportações
para o resto do mundo.
Ao assumir o comando do país em 1974, o presidente Ernesto Geisel anunciara que o Brasil não poderia prescindir do
contínuo crescimento de sua economia, e que, portanto, “seríamos uma ilha de prosperidade em meio ao turbulento
mar da economia mundial em profunda recessão”. Para agravar o quadro, lembre que, no início da década de 1970,
mais da metade do modesto valor exportado pelo Brasil era representado apenas por café em grão e café solúvel. De-
pendíamos da boa safra de café e da volatilidade de preços dessa commodity no mercado internacional. Poucas empresas
brasileiras aventuravam-se a vender seus produtos no exterior. A experiência e a cultura exportadora dos empresários
brasileiros ainda eram quase nulas.
O governo conseguiu estruturar um conjunto de políticas públicas de apoio e de incentivo às exportações, convocando
assim os empresários brasileiros para um grande “esforço exportador”, cujo objetivo maior era a geração das necessárias
divisas em moeda estrangeira, que garantiriam o normal uxo de importações. O comércio exterior brasileiro passou
a ser cirurgicamente controlado pela então poderosa Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (Cacex), que
agia como verdadeira agência do comércio exterior, tendo à frente de sua equipe o lendário diretor-geral, Benedicto
Fonseca Moreira, que a che ou de 1970 a 1983. No Ministério das Relações Exteriores ganhou destaque o Depar-
tamento de Promoção Comercial, sob a liderança de outro lendário personagem, o embaixador Paulo Tarso Flecha
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Nota: Este artigo é o Capítulo 2 do livro Penúltimas Memórias, publicado pela Editora Matrix em Agosto de 2023.
10 Nº 156 - Julho, Agosto e Setembro de 2023