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RBCE - A revista da



                                                              Para  comparar  a  diferença  entre  o  comércio  exterior  de
                                                              bens e o de serviços, podemos considerar que existem mais
                                                              de 10 mil despachantes aduaneiros para ajudar importa-
                                                              dores  e  exportadores  de  bens,  com  suas  operações,  mas
                                                              não existe essa  gura nas operações de serviços e intangí-
                                                              veis, cujos desa os estão muito distantes da logística e das
                                                              alfândegas. Outro exemplo é que em uma importação de
                                                              bens, ao registrar a operação no Siscomex, os tributos são
                                                              calculados e debitados da conta do importador, enquanto
                                                              na importação de serviços e intangíveis, as Darfs dos tri-
                                                              butos normalmente ainda são emitidas manualmente no
                                                              Sicalc, no site da Receita Federal do Brasil.

                                                              Há muito que ser feito e desenvolvido no país para elevar o
                                                              nível de maturidade do nosso comércio exterior de serviços.



                                                              EMPRESAS TRANSNACIONAIS


                                                              Como os serviços e intangíveis podem ser consumidos
                                                              de forma transfronteiriça, ou simplesmente acessados
                                                              ou consumidos em outros países, sem demandas logísti-
          Entretanto, no Brasil nós, simplesmente, não enxerga-  cas ou alfandegárias, surgiram empresas que chamamos
          mos a situação, o que tem impedido que a transforme-  de transnacionais, que são aquelas cujos modelos de ne-
          mos em uma oportunidade, e permitido que, na prática,   gócio podem ser expandidos para além de suas frontei-
          seja um problema que nos condene a sermos cada vez  ras nacionais e consumidos em diferentes países.
          mais de citários em nossa balança de exportação e im-  Como a tecnologia está quase sempre à frente dos regu-
          portação de serviços.                               ladores, os governos do mundo todo ainda se debatem
                                                              em busca da melhor forma de regular e tributar os servi-
          O Brasil ainda está olhando para o mundo do século
          passado. Podemos dizer que, salvo raras exceções, aí es-  ços e intangíveis. Basta ver as discussões sobre regulação
          tão incluídos todos, governo, universidades, entidades,  e tributação de serviços hoje corriqueiros, como Uber,
                                                              AirBNB, Net ix, Spotify e outros. Entretanto, nosso
          empresas e pro ssionais, que continuam discutindo coi-  maior desa o não é apenas regular ou tributar empresas
          sas que já deveriam estar resolvidas há muito tempo.
                                                              e tecnologias inovadoras, o desa o é criar ambiente para
          Por exemplo, ainda estamos discutindo o drawback para   que empresas inovadoras e disruptivas surjam no Brasil.
          “serviços”, mas somente para serviços destinados à ex-
          portação de bens tangíveis. Isso não só já deveria estar
          funcionando há muito tempo, como também devería-
          mos estar ao menos discutindo um drawback  para ex-
          portação de serviços e intangíveis.                 “


          Precisamos voltar nossa atenção para a servitização e a     Nosso maior desa o não é apenas
          intangibilização e não permitir que as pautas exclusiva-      regular ou tributar empresas e
          mente focadas em bens tangíveis e seus serviços conexos
          sequestrem praticamente 100% dos debates, das políti-       tecnologias inovadoras, o desa o
          cas públicas, dos investimentos e, principalmente, das     é criar ambiente para que empresas
          reformas estruturantes de que o país precisa, como a tri-    inovadoras e disruptivas surjam
          butária, que pode vir a desestimular ainda mais os seto-                 no Brasil
          res que produzem serviços e intangíveis, especialmente
                                                                                                            ”
          aqueles com capacidade de expansão internacional.


          Nº  155 - Abril, Maio e Junho de 2023                                                              17
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