Page 51 - RBCE 154
P. 51

RBCE - A revista da



          e) Cumpre observar que mesmo que esses supernavios  (f) que, com os elementos e os parâmetros da oferta e da
          viessem aportar – e os canais de atracação e bacias de  demanda por carga importada e exportada por porto, no-
          evolução permitissem – o volume de contêiner num país  tadamente de carga geral e por contêiner, verificar-se-á a
          como o Brasil não dinâmico de exportações de carga ge-  atratividade do porto para ser escalado pelas companhias
          ral por contêiner faria com que em poucas viagens toda a   de navegação; e dado que a competição entre as liner shi-
          carga anual produzida e manufaturada aqui no Brasil po-  pping é global, o preço do frete aqui é caro por estar longe
          deria ser transportada para o exterior. Isso em tese signifi-  do mundo, e não necessáriamente por ser anticompetitivo.
          caria mais custos para os exportadores para armazenarem
          essa carga no exterior até a entrega aos clientes.  Cumpre ainda destacar que em face da atual mudança ge-
                                                              opolítica do mundo; do contencioso comercial Estados
          f) Logo, o navio contêiner mais comum de ser escalado  Unidos-China; das querelas e escaramuças políticas e mi-
          no Brasil será o tipo Panamax (até 4.500 TEU), o que traz  litares entre Taiwan e China com o perigo de anexação
          implicações sobre a necessidade de investimentos públicos   da primeira pela segunda até 2049 – data do centenário
          a serem despendidos para aprofundar o calado dos canais  do triunfo da revolução chinesa – e a provável reação dos
          de atracação dos portos brasileiros.                Estados Unidos; e das tensões observadas no estreito de
                                                              Malaca, essa seria a hora de, no bojo das mesas executivas,
          g) Apesar desses aspectos gerais em termos de carga contei-  se iniciar a discussão de estabelecer uma liner shipping de
          nerizada descritos, urge que se tome cuidado e atenção com  bandeira brasileira associada preferencialmente com em-
          a cadeia de frio do contêiner (cold chain container) tendo em  presa de navegação chinesa – tipo COSCO – principal-
          vista a importância hoje e no futuro dos produtos alimentí-  mente especializada para o trade de container reffeer.
          cios da pauta brasileira. Logo, saber a demanda e sobretudo
          as características do transporte de bens perecíveis a longa dis-  A razão é simples: num contexto de conflito militar,
          tância será uma necessidade constante por que sempre se terá  além dos prêmios dos seguros aumentarem, vale lembrar
          de produzir esses bens e exportá-los do Brasil para o mundo.   que os navios mercantes norte-americanos, mesmo re-
                                                              gistrados em terceira bandeira, podem e, historicamen-
          Uma externalidade a ser ocasionada pela introdução e  te, sempre foram requisitados para voltar para o solo dos
          gestão das mesas executivas é que se poderá didatica-  Estados Unidos. E, muitos dos navios de contêineres que
          mente expor e ensinar:                              fazem a rota Brasil e China estão nessa situação. Logo,
                                                              essa medida prejudicaria o transporte por navio de carga
          (a) que o Brasil se encontra distante das regiões mais di-  conteinerizada, o que quebraria a linha de fornecimento
          nâmicas do comércio internacional;                  e suprimento do Brasil para a China atingindo em cheio
                                                              o fluxo e a receita de divisas de bens alimentícios do Brasil
          (b) que, por estar distante, transportar do Brasil para o  para a China. Como o Brasil está cada vez mais depen-
          exterior (e vice- versa) leva tempo, e o custo em tese é mais   dente das compras chinesas seria prudente começar a
          elevado que o observado em outras regiões do mundo;   analisar – a partir das mesas executivas – essa sugestão
                                                              com vistas a mitigar riscos e incertezas nas relações eco-
          (c) que há diferenças entre milha náutica – padronizada e usa-  nômicas e comerciais entre o Brasil e a China.
          da como medida na navegação aérea e marítima – e quilome-
          tragem (Km) – que é uma medida usada para medir distâncias   Isso mostra a externalidade positiva a ser ocasionada com a
          entre dois pontos físicos utilizada no transporte terrestre;   adoção das mesas executivas visto que a partir de um saudá-
                                                              vel confronto de ideias pode-se chegar a um acordo de co-
          (d) e o uso de medidas de Km para elaborar e analisar  operação entre os atores, de modo aa se reduzir as ações de
          projetos de logística de carga de regiões produtoras desti-  rent seeking existentes entre todos os atores que atuam dire-
          nadas à exportação seja via novos portos e/ou de corredo-  ta e indiretamente nos portos e ter como resultado melho-
          res bioceânicos leva a estimativas de custo-benefício que   rias contínuas nas operações de gestão portuária no Brasil.
          atendem a interesses privados e não a interesses sociais;
                                                              Do exposto até aqui esperamos que a recomendação
          (e) que a difusão e generalização de medidas de trade   para o estabelecimento das mesas executivas e a convo-
          facilitation ao comércio exterior levará a uma maior re-  cação e busca de apoio de instituições – como a Funcex
          sistência por parte dos operadores portuários, principal-  e a AEB – por parte do novo Ministério de Portos e Ae-
          mente porque os usuários do sistema OEA (Operador  roportos facilite a coordenação entre os atores públicos
          Econômico Autorizado) poderão desembaraçar suas     e privados para tornar a gestão portuária mais eficaz, efi-
          cargas com maior rapidez e os contêineres não ficarão  ciente e efetiva. De fato, nos portos esses são os desafios
          retidos nos pátios dos terminais; e                 e sugestões para o novo governo.


          Nº  154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023                                                       47
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56