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RBCE - A revista da



                                                              atos de concentração e denúncias de práticas anticompe-
                                                              titivas no mercado de fretes no transporte marítimo de
                                                              contêineres. Inclusive, esse órgão está analisando tendên-
                                                              cias e questões para promover a concorrência no setor.

                                                              Isso tudo mostra a persistente tensão subjacente, no Bra-
                                                              sil, sobre a questão da gestão portuária. Pode-se até dizer
                                                              que foi correto o novo desenho de se criar no terceiro
                                                              mandato do presidente Lula um ministério só para cui-
                                                              dar e tratar de portos (e aeroportos). Isso porque exis-
                                                              tem 36 portos públicos organizados no país, compostos
                                                              pela administração direta das Companhias Docas, ou
                                                              delegadas a municípios, estados ou consórcios públicos.

                                                              Em função da inerente e persistente tensão relacionada à
                                                              gestão portuária agora é hora de o novo ministério reali-
                                           Imagem de postcardtrip por Pixabay   zar rápidos diagnósticos para subsidiar um planejamen-
                                                              to participativo com os atores relevantes de cada porto
                                                              público. De fato, é preciso num primeiro momento, por
                                                              meio de eventos públicos virtuais/presenciais, mostrar
                                                              para a sociedade local de cada porto organizado a história
                                                              da movimentação das cargas transportadas, a especializa-
                                                              ção portuária em termos de granéis sólidos, líquidos ou
         os que propunham formatos de tool port, service port e   em carga geral e o impacto positivo no desenvolvimento
         full privatize port, em que a inciativa privada teria uma   local do porto e do seu ecossistema de serviços.
         maior preponderância na gestão portuária.
                                                              Isso permitirá estabelecer uma racionalidade analítica entre
         Essa continuada e persistente tensão entre modelos de  atores que têm visões distintas sobre o funcionamento e a
         gestão e dificuldades de soluções levou a que o “problema   importância da gestão de um porto organizado. Os eventos
         portos” fosse – a partir de 2013 – tratado por uma secre-  subsidiariamente irão demonstrar, de um lado, que o que
         taria especial dentro da Presidência da República. Desse  determina a demanda por serviços portuários é a perma-
         modo, tentava-se dar uma racionalidade às ações de plane-  nência e a manutenção das atividades econômicas de ex-
         jamento e execução e evitar os efeitos de estadualização das   portação e importação no entorno de cada porto, e de ou-
         decisões portuárias e da gestão dos portos organizados, de-  tro, que é o volume e a regularidade de cargas de comércio
         vido ao presidencialismo de coalização que vigora no Bra-  exterior, notadamente de exportação, que determinarão a
         sil. A partir de 2016, com o deslocamento da Secretaria  escala e a atração dos navios nos portos brasileiros.
         de Portos para o Ministério de Infraestrutura, as intenções   Num segundo momento, mas quase que simultanea-
         de política adotadas foram no sentido de incentivar uma   mente, sugere-se que deveriam ser estabelecidas mesas
         maior presença do setor privado na gestão portuária.  executivas como as propostas pelo Banco Interamerica-
                                                              no de Desenvolvimento - BID (https://publications.
         Mais ainda, data dessa época o início da análise conforme   iadb.org/en/two-tango-public-private-collaboration-
         exposto no Cadernos do Cade nº 4 (https://www.gov.br/  -productive-development-policies-0) e também por
         cade/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes-institu-  Charles Sabel (https://charlessabel.com/papers/Pro-
         cionais/estudos-economicos/cadernos-do-cade) sobre a   logue%20Mesas.pdf ), adotadas no Peru como pode ser
         gestão dos portos organizados no Brasil. Foi feita uma  constatado em https://hacerperu.pe/mesas/.
         análise de processos de concentração e condutas anti-
         competitivas no mercado de serviços portuários. A ação  Implementar essas mesas executivas é uma resposta enge-
         do Cade se expandiu para o mercado de transporte marí-  nhosamente simples para se começar a resolver problemas
         timo de contêineres – conforme exposto no seu caderno  de  coordenação.  Que problemas são esses? São os pro-
         7 (https://www.gov.br/cade/pt-br/centrais-de-conteu-  blemas envolvendo atores públicos e privados — e tam-
         do/publicacoes-institucionais/estudos-economicos/    bém, geralmente, entre diferentes atores do setor público.
         cadernos-do-cade) em que foram lavrados e analisados  Mediante um diálogo franco e racional entre os atores


          Nº  154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023                                                       45
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