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RBCE - A revista da



                                                              verticalmente, como eletrônicos, produtos elétricos, au-
                                                              tomóveis e dispositivos científicos e médicos. Nesses ca-
                                                              sos, a empresa líder é uma MNE (como Intel, Motorola,
                                                              Apple, Toyota e Samsung). O compartilhamento global
                                                              da produção ocorre predominantemente por meio da
                                                              rede global de filiais das empresas líderes e/ou de seus
                                                              vínculos operacionais estreitos com fabricantes contra-
                                                              tados estabelecidos (como Foxconn, Flextronics) que
                                                              realizam a montagem para essas corporações globais.

                                                              Nessas indústrias, a tecnologia de produção é específica
                                                          Imagem de Monika Neumann por Pixabay  tar as imitações. Além disso, a produção de bens finais
                                                              para a empresa líder e é fortemente protegida para limi-
                                                              nessas indústrias requer peças e componentes altamente
                                                              personalizados e especializados cuja qualidade não pode
                                                              ser verificada ou garantida por terceiros. A maior par-
                                                              te do compartilhamento da produção global, portanto,
                                                              ocorre por meio de vínculos intrafirmas, e não de ma-
                                                              neira distante. Este é particularmente o caso quando se
                                                              trata de estabelecer unidades de produção em países que
                                                              são recém-chegados às redes globais de produção. No
                                                              Brasil, muitas empresas que utilizam o regime aduanei-
                                                              ro do Recof, mormente localizadas no círculo concên-
          varejistas internacionais como Walmart, Marks & Spen-  trico à cidade de Campinas, em São Paulo, são exemplos
          cer, H&M) ou fabricantes de marcas (como Victoria’s  de como ingressar em redes de produção de GVCs cen-
          Secret, Gap, Zara, Nike). O compartilhamento da pro-  tradas no produtor, e é também um exemplo promissor
          dução nessas redes ocorre predominantemente através  para a industrialização voltada para a exportação.
          da rede de network e de relacionamentos em que empre-
          sas especializadas em sourcing (intermediários nessa ca-  Vale observar que à medida que as unidades de produ-
          deia de valor) desempenham papel fundamental forne-  ção – centradas no vendedor ou no produtor – se tor-
          cendo o design do produto, às vezes a matéria-prima e, em   nam bem estabelecidas no país e estabelecem vínculos
          alguns casos, o financiamento pré-embarque ligando e  comerciais com agentes do setor público e privado, po-
          cimentando a relação entre os produtores e as empresas   dem desenvolver acordos de subcontratação indepen-
          líderes.                                            dentes para aquisição de componentes, mas isso depen-
                                                              derá muito do clima de negócios doméstico.
          Portanto, sempre há espaço para empresas locais situadas
          em países em desenvolvimento, como o Brasil, se enga-
          jarem diretamente na exportação por meio de vínculos
          estabelecidos com compradores estrangeiros, sem en-
          volvimento direto de investimento estrangeiro direto
          (IED). Os investidores estrangeiros estão envolvidos,  “
          geralmente, por meio de joint-ventures com empresários      Sempre há espaço para empresas
          locais (não pela formação de subsidiárias integrais). A
          aquisição de insumos é monitorada pela empresa líder,         locais situadas em países em
          mas há espaço para a utilização de insumos nacionais       desenvolvimento, como o Brasil, se
          que atendam aos padrões de qualidade exigidos. Como      engajarem diretamente na exportação
          indica a experiência brasileira dos clusters  de calçados
          femininos e masculinos, ingressar em redes de produção     por meio de vínculos estabelecidos
          voltadas para compradores é um começo promissor para      com compradores estrangeiros, sem
          a industrialização voltada para exportação.               envolvimento direto de investimento

          Por sua vez, redes de produção centradas no fabricante              estrangeiro direto
                                                                                                            ”
          também são comuns em indústrias globais integradas

          Nº  154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023                                                       11
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