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RBCE - A revista da



                                                              ajudá-los. Na falta do mago, podem recorrer a malaba-
                                                              rismos, artificialismos e experimentalismo.

                                                              Além do crescimento (emprego, desemprego, variação do
                                                              nível de renda) e da estabilidade monetária, a política eco-
                                                              nômica precisa ter faróis voltados igualmente para o equi-
                                                              líbrio nas contas externas. Um forte desequilíbrio nessas
                                                              contas pode travar uma economia de uma hora para ou-
                                                              tra. A economia se equilibra externamente exportando
                                                              mercadorias e serviços, e atraindo capitais de fora, sob
                                                              forma de investimentos diretos e indiretos ou financia-
                                                              mentos. A taxa de câmbio é essencial para esse equilíbrio.
                                                              Se o câmbio desvaloriza a partir de certo ponto, o obje-
                                                              tivo de controle da inflação é prejudicado. A população
                                                              perde poder de compra. A sensação de empobrecimento
                                                              se agrava. Insumos fundamentais encarecem (por serem
                                                              importados ou pelo atrativo da exportação). O câmbio
                                                              fora do prumo desarruma as cadeias produtivas.
                                                              São tantos dilemas, tantos conflitos entre os objetivos
                                                              principais de políticas econômicas, que, no século XX,
                                                              houve quem acreditasse – e ousasse por esse caminho –
                                                              que poderia resolvê-los pela planificação. Também não
          por exemplo) se fazem necessários em economias retar-  deu certo. A economia de mercado, com todos os seus
          datárias. Incentivos fiscais, idem.                 defeitos, tem se mostrado mais eficiente como ferra-
                                                              menta para busca desses resultados.
          Não apenas barreiras físicas podem dificultar o cresci-
          mento. Há também escassez de capital humano – nesse   A economia brasileira tem crescido menos do que o país
          caso, dependemos de educação, em todos os níveis, do   precisa para avançarmos socialmente, proporcionando
          básico à pós-graduação, passando pela capacitação pro-  razoável qualidade de vida a uma parte considerável da
          fissional.                                          população. Isso não significa que estamos condenados
                                                              ao atraso, que não há saída. Mesmo sem a ajuda do mago
          Entre os fatores que contribuem para a conjunção que  Merlin, é possível enfrentar os desafios em meio a pres-
          leva ao desenvolvimento está a estabilidade monetária.  sões políticas e sociais que são naturais em um ambiente
          Uma economia corroída pela inflação torna ainda mais  de democracia.  Uma boa dose de bom senso é, sem dú-
          difícil a formação de poupança e a sustentabilidade de  vida, necessária. Não são poucos os exemplos históricos
          investimentos de médio e longo prazos. No esforço pela  de sucesso. Ainda sou otimista de que também conse-
          estabilidade monetária deparamo-nos com mais um di-  guiremos, com algum esforço, que o bom senso prevale-
          lema. Países como o Brasil, com um histórico de inflação  ça, na maior parte do tempo.
          crônica elevada, recorrem a políticas monetárias restri-
          tivas, que apertam o crédito por meio de altas taxas de   “
          juros. Essas taxas, por sua vez, transformam dívidas (pú-
          blicas, empresariais e pessoais) em bola de neve. O serviço   Não apenas barreiras físicas podem
          da dívida aumenta o déficit do setor público, que, para fi-
          nanciá-lo avança sobre poupanças privadas. Mas se o cres-  dificultar o crescimento. Há também
          cimento depende de investimentos, de poupanças, como       escassez de capital humano – nesse
          fazer? O combate à inflação em certos momentos freia o     caso, dependemos de educação, em
          crescimento. Mas se a inflação corre frouxa, inviabiliza o
          crescimento capaz de se sustentar por anos seguidos.           todos os níveis, do básico à
                                                                       pós-graduação, passando pela
          Diante desse dilema, os formuladores de política eco-           capacitação profissional
          nômica ficam sonhando com a colaboração de algum
          mago Merlin, que tenha alguma poção mágica que possa                                              ”


          Nº  154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023                                                        9
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