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Comentário Internacional
Nem com a ajuda do mago Merlin
George Vidor
é jornalista e economista
George Vidor
Políticas econômicas buscam alguns objetivos que geralmente se mostram inconciliáveis, ou se chocam entre si,
após algum tempo. O crescimento econômico acelerado, por exemplo. Uma economia que cresce muito, e rápido,
é capaz de mudar o patamar de desenvolvimento de uma sociedade, uma nação, uma região, em curto espaço de
tempo. Nos anos 1960 e 1970, teóricos como o americano W. W. Rostow chegaram a estabelecer etapas de desen-
volvimento usando como parâmetro a renda per capita. Naquela época, a renda média por habitante no Brasil não
ultrapassava os US$ 1.500 anuais. Chegaríamos ao clube das economias desenvolvidas quando atingíssemos os US$
10 mil anuais. Hoje não estamos mais tão distantes disso, porém...
O crescimento depende de uma conjunção de fatores. O sueco Gunnar Myrdal (de tendência social-democrata),
que dividiu em 1974 o Prêmio Nobel de Economia com o austríaco Friedrich Hayek (liberal), chamava esse processo
de “causação circular acumulativa”. Um processo em forma de espiral.
O mundo havia passado por experiências bem-sucedidas de crescimento acelerado. Os milagres econômicos no
Japão e na Alemanha, nos anos 1950, do pós-guerra, por exemplo. O próprio Brasil ao fim dos anos 1960 e início de
1970. Já beirando o atual século, foi a vez dos “tigres asiáticos”, com destaque para Coreia do Sul, Taiwan e Hong
Kong. Os tigres acabaram despertando a República da China de um atraso quase secular, e, inicialmente com as
zonas econômicas especiais, o país mergulhou com todas as forças no comércio internacional. A China vai, assim,
recuperando um papel no qual se destacou em dezessete séculos da era cristã.
Muitos teóricos vinculam o crescimento acelerado a altas taxas de poupança e investimento. Por definição, pou-
pança é a parte da renda não consumida. Mas aí esbarramos no primeiro dilema: como poupar se a renda ainda se
encontra em patamar que só garante um subconsumo? Sociedades pobres tendem a comer as sementes que seriam
usadas para ampliar a produção futura. Então, uma das saídas – nem sempre claramente defendidas por economistas,
por ser uma questão politicamente incorreta – seria uma concentração de renda, ainda que temporária. Nas mãos
privadas ou do Estado? Outro dilema.
Poupar é a forma de viabilizar investimentos. Uma economia não cresce sem que a oferta de infraestrutura (energia,
transportes, comunicações) ande na frente. Geralmente investimentos de maturação em longo prazo, que podem
se frustrar se a demanda em potencial projetada não se concretizar por fatores que surpreendam negativamente o
caminho traçado. Para atenuar os riscos, investimentos e/ou financiamentos públicos (como os realizados pelo BNDES,
8 Nº 154 - Janeiro, Fevereiro e Março de 2023