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Cadeias Globais de Valor









             Sugestões para Inserção de Empresas

             Exportadoras de Bens Manufaturados


             nas Cadeias Globais de Valor











                                                                                Thomaz Zanotto
                                                                 é membro do Conselho Superior da Funcex e da Fiesp

              Thomaz Zanotto



          Sob uma perspectiva histórica de longa duração, o período entre a década de 1980 e a Grande Recessão de 2008 foi ca-
          racterizado por níveis sem precedentes de liberalização do comércio e integração das economias no sistema de comér-
          cio mundial. Isso incluiu: (i) a queda da então chamada Cortina de Ferro e dos países que a compunham, e a transição
          associada desses países de economia planificada para sistemas econômicos capitalistas; (ii) a fundação da Organização
          Mundial do Comércio (OMC); (iii) a abertura da China e sua subsequente adesão à OMC; e (iv) a revolução de tec-
          nologia de informação e o declínio significativo nos custos de transporte. Todos esses marcos contribuíram para a forte
          tendência de avanço consistente da globalização entre os anos 1980 e a crise financeira global de 2008.

          Desde aquela época, as empresas multinacionais (MNEs) começaram a colher os benefícios de um processo de
          produção dispersa internacionalmente por meio da terceirização – fruto da prática de offshore de realocar alguns
          processos de negócios para outro país – com vistas a aproveitar os principais diferenciais de custo de mão de obra e/
          ou de produção – que prevalecem entre economias avançadas e em desenvolvimento. O resultado dessa dispersão
          foi a criação de uma teia complexa de fluxos de produção abrangendo países e fronteiras, comumente referida como
          cadeias globais de valor (CGVs). Hoje, em 2023, a maior parte do comércio internacional representa fluxos associa-
          dos a CGVs, caracterizados pelo deslocamento entre países de bens intermediários, serviços e tecnologia.

          Isso ocorreu porque desde o início dos anos 2000 tem havido uma nova conformação do padrão de especialização
          mundial das exportações visto que estas se tornaram mais orientadas para bens intermediários, sugerindo uma im-
          portância crescente das CGVs. Esse processo foi acelerado pelo aumento dos fluxos de capital de países desenvolvidos
          dirigidos para os países em desenvolvimento, que acabaram por impulsionar as atividades de offshoring de MNEs.
          Cabe destacar que as CGVs, em termos de estrutura organizacional de compartilhamento da produção, assumem
          duas formas principais: redes de produção dirigidas pelo comprador e redes de produção dirigidas pelo produtor.
          Essa distinção é importante para entender as opções de política para participação efetiva em CGVs e avaliar as impli-
          cações resultantes para o processo de desenvolvimento econômico. CGVs orientadas ao comprador são comuns em
          indústrias de bens de consumo baseados em tecnologia difusa, como roupas, calçados, artigos de viagem, brinquedos
          e artigos esportivos. Nessas redes, as “empresas líderes” nas redes de produção são compradores internacionais (grandes

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          Agradeço o apoio, o incentivo e os comentários de Mário Cordeiro da Funcex.

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