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Política Industrial
DESEMPENHO DAS EMPRESAS deias globais de valor. Isto supõe empresas globalmente
competitivas, e “protegidas” não pela sua relação com o
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A instabilidade e a incerteza que caracterizam o ambiente Estado, mas pelas suas competências.
econômico, os elevados custos de transação de operar no
país, e as falhas de política – que geram isolamento, restrin- Há empresas brasileiras de grande proiciência e com pre-
gem acesso a mercados e recursos, e criam incentivos adver- sença global. E há igualmente aquelas que são competitivas
sos – direcionam as empresas para sobreviverem, em pri- o suiciente para defenderem seus mercados e responderem
meiro lugar, e apenas subsidiariamente a se aproximarem da às ameaças das importações, comumente apoiando-se no
fronteira inovação e de melhores práticas. conhecimento do mercado brasileiro, das características dos
clientes, e combinando produtos e serviços sem poder ser re-
Este o paradoxo vivido pelas empresas do país: são le- plicadas pelos importadores.
xíveis, adaptáveis e criativas o suiciente para viver em
ambientes instáveis e sujeitos a constante ruído. Mas ao Contudo, a evidência sugere que a “defesa do mercado” se
mesmo tempo, vivem numa “redoma”, isoladas, com aces- baseia menos na inovação, na adaptação de tecnologias de
so limitado a mercados e fatores, ruto de políticas “com- ponta, ou mesmo na excelência de gestão.
pensatórias” para o risco e custos que diuturnamente en-
rentam. Aprendem a sobreviver; mas não a crescer. • No âmbito da geração de inovações, denotado pelas pa-
tentes depositadas por nacionais, estas são responsáveis
O cerne desse paradoxo é que as empresas sobrevivem, por somente 0,18% das patentes mundiais, sem uma
mas a indústria progressivamente perde densidade, pois tendência clara de ampliação dos esforços inovadores
o contrário só seria possível com sua integração nas ca- (Gráico 4). Ainda que os indicadores de depósito de pa-
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GRÁFICO 4
PATENTES DEPOSITADAS POR BRASILEIROS NO INPI (2000-2016)
9000 8082
8000 7564 7701 7346 7326 7711 7709 7797 7808 7974 7395 7344
6969 7052 7194 7244
7000 6449
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Fonte: Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Elaboração própria.
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5 Pode-se argumentar que esse padrão em parte resulta da qualidade das intervenções, com objetivos frequentemente difusos e por vezes contraditórios,
sem reconhecer o trade-of envolvido nas escolhas de políticas, como se fosse possível ter simultaneamente uma indústria competitiva e altamente diver-
siicada, sem referência ao tamanho do mercado, a coniguração global das cadeias de valor e os critérios que informam as decisões de investimento das
empresas. Uma estratégia industrial mira uma coniguração da indústria: ou bem se objetiva uma indústria competitiva e relativamente mais especializada,
com um número limitado de empresas de baixa produtividade; ou, inversamente, uma indústria mais diversiicada, mas que, na distribuição de empresas
ao longo do gradiente de produtividade, acomoda-se por longos períodos com empresas menos produtivas e que pouco crescem. Esta última coniguração
só se sustenta, contudo, numa economia protegida e empresas com operações subsidiadas.
34 Nº 131 - Abril/Maio/Junho de 2017