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Política Industrial




                ticos de política dos anos recentes, e a baixa eicácia e  vada qualidade das decisões discricionárias dos órgãos de
                elevado custo dos instrumentos utilizados. Obviamente,  Estado são bens públicos, que afetam a coletividade, con-
                se os resultados foram frágeis, as políticas ou têm sido  sumidos (necessariamente) por todos, pagos por todos.
                mal desenhadas ou executadas incorretamente. Devem,
                portanto ser avaliadas. Este é o ponto de partida.  Finalmente, o Estado deve prestar melhores serviços, ao
                                                                    deinir o que é essencial para o bem-estar da sociedade:
                Assim, entre os fundamentos de uma nova política in-  segurança coletiva; saúde pública; educação voltada à
                dustrial está, em primeiro  lugar, avaliar de forma rigo-  formação de excelência e em tempo integral, com foco
                rosa os subsídios, transferências e outros instrumentos  nos mais jovens.
                cujo custo iscal é elevado, para estabelecer se os benefí-
                cios econômicos são mais do que residuais, quando não   CONCLUSÃO
                contraproducentes. Avaliar um legado que continua im-
                pregnado no modus operandi das instituições – inclusive  O retrocesso da indústria de transformação no país não
                os bancos federais – e no orçamento iscal e de subsídios,  foi por falta de apoio dos instrumentos clássicos: não
                é o ponto de partida. Investir no que efetivamente fun-  faltou inanciamento ao investimento e à inovação;
                ciona e tem a melhor relação benefício-custo, levando  como não faltaram incentivos iscais; e tampouco prote-
                em consideração a magnitude das externalidades envol-  ção, para evitar que a demanda “vazasse” para o exterior.
                vidas. O uso de recursos do Estado, isto é, da população,
                para subsidiar alguma atividade deve ser feito de manei-  Faltou fundamentalmente um diagnóstico correto, o
                ra parcimoniosa, e desde que comprovada sua essencia-  que levou em anos recentes a um ativismo sem estratégia
                lidade e a magnitude das externalidades.            por um Estado fragilizado. Na realidade, ao mesmo tem-
                                                                    po em que as políticas tentaram compensar os elevados
                Segundo, é fundamental romper o isolamento, facilitando  custos de transação no país, implicaram a segmentação
                a mobilidade de bens, serviços, pessoas, conhecimento,  dos mercados e o isolamento das empresas, restringindo
                desfazendo a ampla e complexa cunha protecionista que se  o acesso aos mercados e recursos.
                construiu no país.  A importância desse movimento é múl-
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                tipla: é um incentivo aos ganhos de produtividade, tanto  O paradoxo central da política industrial é fruto deste as-
                por mudanças da estrutura da indústria, na organização da   pecto de compensação pelo ambiente de negócios adverso.
                produção, como no comportamento dos agentes; e é uma  De um lado, protegem e transferem recursos (subsídios e
                força transformadora no sentido de um Estado que absorve   incentivos) para as empresas; porém em simultâneo cons-
                menos recursos, provê bens públicos de forma mais eicien-  trangem as empresas, retiram sua capacidade de competir; e
                te, e entrega serviços de melhor qualidade.         geram incentivos adversos, amortecendo as forças de com-
                                                                    petição – direcionador essencial dos esforços das empresas.
                Terceiro, e nesta perspectiva, a coalização de forças que
                a abertura coloca em marcha irão pressionar por uma  O fundamento de uma nova política industrial é a refor-
                melhoria do ambiente de negócios, e uma redução dos  ma do Estado, com uma redeinição de seu papel: prove-
                custos de transação. Faz parte desta “agenda micro” uma  dor de bens públicos e serviços essenciais ao bem-estar da
                desburocratização (quase) radical, com a redução de  coletividade. Para tanto, não é necessário que o Estado
                procedimentos e custos extravagantes, e a eliminação de   absorva 43% ou mais do PIB – como o Estado brasileiro
                obrigações junto a instituições supérluas, ou no mínimo  o faz – mas que se institua uma reforma que reavalie suas
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                desatualizadas.  Igualmente crítico é a necessidade de re-  múltiplas atribuições, aumente a eiciência das suas funções
                forçar a garantia dos contratos; reduzir a incerteza jurídi-  essenciais, elimine normas burocráticas e as barreiras insti-
                ca e regulatória; e melhorar a qualidade das decisões das  tucionais que elevam os custos de transação, e se empenhe
                instituições de Estado. Estabilidade, previsibilidade, e ele-  no desenho de políticas que atendam ao interesse público.


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                10  Ver a respeito CDPP e Cindes, A integração internacional da economia brasileira: propostas para uma nova política comercial (Texto para Discussão, ju-
                nho de 2016), onde os autores fazem uma análise da literatura que provê evidência inquestionável dos ganhos da abertura, e detalham a agenda necessária
                para uma reforma profunda na política comercial do país. Aqui se sugere ir além da política comercial, e repensar a política de imigração e as normas que
                protegem as proissões das forças da competição.
                11  Um exemplo são os sindicatos proissionais, cujas funções se sobrepõem aos Conselhos proissionais, e cujos custos cobrados aos indivíduos e às empre-
                sas são arbitrários e sem nexo com a provisão de serviços.

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