Page 48 - RBCE131
P. 48

Estratégia de Integração






                     Mudança da orientação externa


                     da indústria brasileira no


                     período recente












                                                                             Samantha Cunha
                     Samantha Cunha   Renato Fonseca  é Doutora em Economia. Atualmente é Especialista de Desenvolvimento
                                                            Industrial na Gerência de Pesquisa e Competitividade da CNI
                                                                              Renato Fonseca
                                                         Phd em Economia. Atualmente é Gerente-executivo de Pesquisa e
                                                                           Competitividade na CNI

                 Nos últimos 15 anos, a indústria brasileira promoveu importante reformulação na sua estratégia de integração com
                 a economia mundial. Houve uma mudança signiicativa na estrutura de produção, com o uso mais intensivo de in-
                 sumos importados, ou seja, com maior integração com o comércio internacional. No que diz respeito ao mercado de
                 atuação, contudo, a mudança se deu no sentido oposto. Cresceu o foco no mercado doméstico e diminuiu a impor-
                 tância do mercado externo. O resultado merece atenção, pois para alguns autores o uso mais intensivo de insumos
                 importados teria como efeito o aumento da competitividade e, consequentemente, das exportações.

                 As alterações foram estimuladas pela intensidade e duração da apreciação do real no início deste século. Entre 2002
                 e 2011, o real acumulou uma apreciação, em termos reais, de 49,4% em relação à cesta de moedas de seus principais
                 parceiros comerciais.
                                   1
                 A mudança dos preços relativos causada pela apreciação do real estimulou, por um lado, a substituição de insumos
                 domésticos por importados. Por outro lado, tornou-se um entrave adicional à exportação, motivando as empresas a
                 concentrar o destino de sua produção no mercado doméstico.

                 A mudança de orientação externa intensiicou a dependência de insumos importados e no mercado doméstico,
                 sobretudo nos setores de alta e média-alta intensidade tecnológica. Esses setores importaram mais que exportaram.
                 Os setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica também seguiram no mesmo sentido, mas, na sua maio-
                 ria, continuaram a exportar mais que importar, sobretudo os setores baseados em recursos naturais.

                 A partir de 2011, há uma reversão na evolução da taxa de câmbio e, nos últimos dois anos, a participação de importados
                 no uso de insumos industriais – medida pelo coeiciente de insumos industriais importados – recua e a importância do
                 mercado externo para a produção industrial nacional – medida pelo coeiciente de exportação – cresce. Não obstante, tais
                 movimentos ainda não podem ser interpretados como uma reversão da mudança estrutural ocorrida na década anterior.
                 O movimento no coeiciente de insumos industriais ainda é muito incipiente, enquanto a variação do coeiciente de ex-
                 portação, ainda que mais intensa, deve-se mais à queda na demanda doméstica que ao crescimento das exportações.
                                               ............................................................................

                 1  Calculado com base em dado de taxa de câmbio efetiva real da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Os parceiros comerciais
                 são: Zona do Euro, Estados Unidos, Argentina, China, Japão, México, Chile, Reino Unido, Coreia do Sul, Rússia, Canadá, Paraguai e Uruguai.

              40                                                                          Nº  131 -  Abril/Maio/Junho de 2017
   43   44   45   46   47   48   49   50   51   52   53