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Estratégia de Integração
Mudança da orientação externa
da indústria brasileira no
período recente
Samantha Cunha
Samantha Cunha Renato Fonseca é Doutora em Economia. Atualmente é Especialista de Desenvolvimento
Industrial na Gerência de Pesquisa e Competitividade da CNI
Renato Fonseca
Phd em Economia. Atualmente é Gerente-executivo de Pesquisa e
Competitividade na CNI
Nos últimos 15 anos, a indústria brasileira promoveu importante reformulação na sua estratégia de integração com
a economia mundial. Houve uma mudança signiicativa na estrutura de produção, com o uso mais intensivo de in-
sumos importados, ou seja, com maior integração com o comércio internacional. No que diz respeito ao mercado de
atuação, contudo, a mudança se deu no sentido oposto. Cresceu o foco no mercado doméstico e diminuiu a impor-
tância do mercado externo. O resultado merece atenção, pois para alguns autores o uso mais intensivo de insumos
importados teria como efeito o aumento da competitividade e, consequentemente, das exportações.
As alterações foram estimuladas pela intensidade e duração da apreciação do real no início deste século. Entre 2002
e 2011, o real acumulou uma apreciação, em termos reais, de 49,4% em relação à cesta de moedas de seus principais
parceiros comerciais.
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A mudança dos preços relativos causada pela apreciação do real estimulou, por um lado, a substituição de insumos
domésticos por importados. Por outro lado, tornou-se um entrave adicional à exportação, motivando as empresas a
concentrar o destino de sua produção no mercado doméstico.
A mudança de orientação externa intensiicou a dependência de insumos importados e no mercado doméstico,
sobretudo nos setores de alta e média-alta intensidade tecnológica. Esses setores importaram mais que exportaram.
Os setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica também seguiram no mesmo sentido, mas, na sua maio-
ria, continuaram a exportar mais que importar, sobretudo os setores baseados em recursos naturais.
A partir de 2011, há uma reversão na evolução da taxa de câmbio e, nos últimos dois anos, a participação de importados
no uso de insumos industriais – medida pelo coeiciente de insumos industriais importados – recua e a importância do
mercado externo para a produção industrial nacional – medida pelo coeiciente de exportação – cresce. Não obstante, tais
movimentos ainda não podem ser interpretados como uma reversão da mudança estrutural ocorrida na década anterior.
O movimento no coeiciente de insumos industriais ainda é muito incipiente, enquanto a variação do coeiciente de ex-
portação, ainda que mais intensa, deve-se mais à queda na demanda doméstica que ao crescimento das exportações.
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1 Calculado com base em dado de taxa de câmbio efetiva real da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Os parceiros comerciais
são: Zona do Euro, Estados Unidos, Argentina, China, Japão, México, Chile, Reino Unido, Coreia do Sul, Rússia, Canadá, Paraguai e Uruguai.
40 Nº 131 - Abril/Maio/Junho de 2017