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RBCE - A revista da
TABELA 7
BRASIL: QUE PROPORÇÃO DAS EMPRESAS DIZEM INOVAR? (EM %)
2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2011 2012-2014
Empresas que inovaram em produto e/ou
processos 33,5 33,6 38,4 35,9 36,3
Novo para a empresa 56,3 49,3 51,0 40 42,7
Produtos Novo no mercado nacional 4,8 9,1 8,5 7,6 10,6
Novo no mercado mundial 0,5 0,6 0,7 1,2 1,2
Novo para a empresa 78,5 75,7 79,2 83,1 95
Processos Novo no mercado nacional 1,8 4,4 4,7 5,3 8,0
Novo no mercado mundial 0,3 0,3 0,2 0,6 0,8
Fonte: Pesquisa de Inovação (Pintec)/IBGE. Elaboração própria.
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tentes sejam imperfeitos, seja por inovações não paten- cas, conforme os trabalhos conduzidos por Nick
teáveis, seja pelo não interesse da empresa em patentear Bloom e associados. De fato, as notas médias atri-
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(no caso de segredos industriais, por exemplo), ainda buídas aos gestores brasileiros estão abaixo ou mes-
assim os índices de patenteamento são amplamente uti- mo signiicativamente abaixo de países que com-
lizados para denotar a distância da fronteira de inovação. petem com o Brasil nos mercados globais (Gráico
5). O ambiente de gestão, por sua vez, não se oxi-
• A contrapartida dos dados de patenteamento se gena pelo próprio isolamento das empresas e por
relete na propensão à inovação das empresas no conta das barreiras à mobilidade impostas à vinda
país. Os resultados mais recentes da pesquisa Pin- de gestores e técnicos.
tec, conduzida pelo IBGE, sugerem que apenas um
terço das empresas na indústria de transformação O frágil desempenho das empresas brasileiras e de seus ges-
“inovam” no sentido lato do termo. Na realidade, tores só pode ser explicado pelas décadas de políticas pro-
dessas empresas, somente 1,2% e 0,8% introduzi- fundamente conservadoras; no âmbito empresarial, premia
ram produtos ou processos novos no plano mun- a proximidade na relação com o Estado e a procura por pro-
dial (Tabela 7). As demais que declararam inovar teção, subsídios e transferências. Quando o Estado encontra
estão na realidade adaptando e absorvendo inova- limites, as empresas já se fragilizaram, e resta se defender no
ções de terceiros. O que é particularmente preocu- mercado. No plano agregado, essas políticas levam ao esgar-
pante é que a maior parte das empresas está tecno- çamento dos laços de densidade do setor industrial, pela pro-
logicamente estagnada: nem de fato inovam, nem gressiva perda de competitividade dos atores.
adaptam e usam novas tecnologias.
É um imperativo mudar este paradigma de ação estatal
• O comportamento tecnológico conservador tem e a prática das políticas industriais tradicionais de alo-
motivos diversos, mas destacam-se a baixa qualii- cação de determinados privilégios (subsídios, incenti-
cação da mão de obra e práticas de gestão desatua- vos, proteção) como formas de promover uma indústria
lizadas. A evidência sugere que os gestores brasi- que há muito deixou de ser nascente, que por inércia ou
leiros, apesar da grande capacidade de adaptação considerações de economia política sobrevivem. Nesse
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à complexidade do ambiente de negócios, têm um sentido, uma nova política industrial requer outra lógica
baixo nível de conhecimento de melhores práti- do Estado, discutida a seguir.
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6 Ver, por exemplo, Bloom, Nicholas, Renata Lemos, Rafaella Sadun, Daniela Scur e John Van Reenen. 2014. he new empirical economics of manage-
ment, Journal of the European Economic Association, 12(4), p. 835-876.
7 De fato, pouco mudou: setores como automotivo e de informática, e uma miríade de outros, sobrevivem à base de “favores” do Estado, que compensam
a ausência de reformas introduzindo outras distorções.
Nº 131 - Abril/Maio/Junho de 2017 35