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RBCE - A revista da




          Não poderia ser, porém, um programa totalmente aber-  de exportação e investimentos abertas, mas em decor-
          to, indistinto do impacto de acordos comerciais. Uma  rência de um melhor aproveitamento da indução aos
          opção seria predeinir os setores: (1) nos quais se preveja  ganhos de produtividade e competitividade a que pode-
          um maior impacto concorrencial em função do programa  riam levar estes acordos se acompanhados das políticas
          de liberalização comercial do acordo especíico que gera  adequadas. No desenho de tais instrumentos será, sem
          a necessidade de ajustes, e (2) que sejam identiicados  dúvida, preciso estar alerta para que não se tornem ins-
          como importantes para a dinâmica econômica por seus  trumentos de resistência a ajustes e prolongamento da
          impactos no tecido industrial ou para regiões geográi-  agonia, mas sim meios de incitação à ousadia e ao alcan-
          cas em que estejam concentrados. Dentro desses setores  ce de níveis de competitividade internacionais.
          predeterminados seriam então aceitos os projetos com
          características de ajuste competitivo, idealmente com an-
          terioridade ao início do processo de desgravação tarifária
          do acordo comercial em questão.

          Poucos anos após a delagração da corrida pelos acor-
          dos de livre comércio, a crise de 2008 colocou em
          questionamento o funcionamento da globalização
          desenhada nos anos 1990. Quase uma década depois,
          a oposição popular pode ter paralisado algumas das
          negociações de acordos de livre comércio mais am-
          biciosas, que se propunham inclusive a criar padrões
          diferenciados de regras no regime do comércio inter-
          nacional. Em contraste com esse cenário, no Brasil
          aumenta a convergência em torno da negociação de
          acordos de livre comércio com parceiros mais desen-
          volvidos como forma de ampliar a abertura da econo-
          mia ao comércio internacional em bases de reciproci-
          dade, quando não com o benefício de um tratamento
          diferenciado mais favorável. Essas negociações seriam
          uma maneira controlada de conduzir a abertura, com
          benefícios compensatórios pelo lado da abertura de
          mercados externos, atração de investimentos, cons-
          trução de parcerias empresariais. Trata-se porém de
          apenas um instrumento que precisa ser conjugado
          com outras medidas, algumas de natureza estrutural,
          incluídas algumas não mencionadas aqui, como a in-
          fraestrutura educacional do país, num conjunto de
          políticas que permita a elevação do crescimento da
          produtividade da economia brasileira, notadamente
          do setor industrial, e que também induza a transfor-
          mação do setor de serviços para além das atividades
          de baixa produtividade e baixo conteúdo tecnológico   “ Para que os programas sejam de assistência a
          que hoje inlam os dados do setor.                           ajustes e não de resistência a ajustes,
                                                                  deveriam estar dirigidos aos investimentos em
          Na discussão desse conjunto de políticas cremos haver    modernização, inovação e desenvolvimento
          espaço para considerar seriamente a criação de progra-   tecnológico, sendo também conjugados aos
          mas de assistência a ajustes ao comércio. Se for possível   programas de treinamento e qualiicação,
          levar a bom termo, no atual cenário internacional desa-  não para uma mudança dos trabalhadores de
          iante, as negociações de acordos de livre comércio com      setor, mas para permitir a elevação da
          países com setor industrial competitivo em nível global,      produtividade no setor desaiado
          esses programas ajudariam a maximizar seus benefícios.
          Benefícios que teriam que vir não só das oportunidades                                                “

          Nº  129 -  Outubro/Novembro/Dezembro de 2016                                                     67
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