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Acordos e Política Comerciais




          renciais têm sido predominantemente acordos de livre  PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA A
          comércio. Isto traz consequências muito diferentes em   AJUSTES AO COMÉRCIO
          comparação com o processo de liberalização comercial
          multilateral. Nas rodadas de negociação do GATT/    Programas de assistência a ajustes ao comércio diferen-
          OMC, os processos de liberalização foram marcados   ciam-se das tradicionais políticas industriais ou de apoio
          por grande lexibilidade, desde sua origem na técnica   setorial por estarem diretamente vinculados à conclusão
          da negociação por pedidos e ofertas país a país, com  de negociações de liberalização comercial, seja via acor-
          multilateralização posterior das concessões acordadas.   dos regionais, seja resultante de negociações multilate-
          Mesmo com a posterior utilização de fórmulas gerais de   rais. Há exemplos mais recentes de programas, como no
          redução tarifária como método central de negociação,   caso europeu, voltados para ajustes resultantes de realo-
          como na Rodada Tóquio do GATT (1973-1979), os       cação da produção, como consequência da expansão das
          processos de liberalização eram diferenciados por país   cadeias globais de valor.
          e por setor e não levavam necessariamente à exposição
          total ao comércio internacional, já que se negociavam   Independentemente do foco, desenho ou durabilidade,
          níveis máximos de alíquota das tarifas de importação,   programas de assistência a ajustes ao comércio têm por
          e não necessariamente a eliminação da proteção tarifá-  lógica principal buscar equilibrar custos de curto prazo
          ria. Nos acordos de livre comércio, mesmo que haja es-  enfrentados pelo eventual fechamento/realocação de
          paço para preservar a proteção de alguns setores ultras-  irmas e benefícios de longo prazo oriundos da maior
          sensíveis por razões econômicas ou políticas, a regra  abertura da economia, com impactos positivos na com-
          geral passa a ser a eliminação da proteção em relação ao   petitividade das irmas e na redução de preços ao con-
          parceiro preferencial. Embora isso não signiique um  sumidor.
          desaio importante para todos os setores, na medida
          em que a competitividade do parceiro não será elevada   Três justiicativas são comuns na defesa de esquemas de
          em todos eles, isso pode levar a mudanças estruturais   assistência a ajustes ao comércio: (i) necessidade de am-
          importantes e necessidade de ajustes, seja para enfren-  parar setores e trabalhadores mais afetados pela liberali-
          tar a nova situação de condições de competição, seja  zação comercial no curto prazo; (ii) percepção de que os
          para que o eventual desaparecimento de um setor se dê   custos econômicos desses programas são inferiores aos
          de forma ordenada.                                  custos do protecionismo; e (iii) interesse em facilitar e
                                                              agilizar a redistribuição de recursos, dada a rigidez do
          Nesse contexto, alguns países criaram programas direta  processo de ajustes, matizando a perda de produtividade
          ou indiretamente relacionados à necessidade de ajustes ao   e de recursos públicos.  A estes três soma-se o objetivo
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          comércio gerado por acordos de liberalização comercial.   político de angariar apoio nas diferentes esferas da so-
          Esses programas respondem basicamente aos desaios dos   ciedade para negociações comerciais.
          processos de liberalização ampla dos acordos de livre co-
          mércio, ou, de maneira mais geral, aos desaios da globali-  Os EUA foram os primeiros a desenhar e implementar pro-
          zação resultantes dos efeitos acumulados de processos de  gramas deste tipo, a partir de 1962, vinculado às rodadas
          liberalização comercial multilaterais e preferenciais.  de liberalização comercial do GATT, ou, posteriormente,
                                                              à implementação do Nata. De acordo com J. F. Hornbeck,
          Uma pesquisa inicial sobre esses programas que com-
          partilharemos a seguir mostra que eles são menos co-   50 years of history suggest that the debate on TAA
          muns do que se poderia esperar, à luz da quantidade de   tends to return to congressional consideration of
          acordos de livre comércio em vigor. Aparentemente, a   broader trade liberalizing legislation—the granting
          maioria dos países, seja por opção ou por falta de recur-  of TPA. Congress oten takes this as the appropri-
          sos e instrumentos, deixa ao mercado os ajustes às novas   ate time to amend or extend TAA, in no small part
          condições de concorrência.                             because of the fundamental need to ind a balanced





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          4   Rosen, Howard F. Strengthening Trade Adjustment Assistance. Peterson Institute for International Economics, Policy Brief PB08-2. Jan
          2008. Disponível em: https://piie.com/publications/pb/pb08-2.pdf,

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