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RBCE - A revista da




          aspirantes a se tornarem seus sócios em acordos comer-
          ciais, nos governos anteriores.                     “   O Brasil deveria aproveitar esse momento para

                                                                  identiicar sua agenda de interesses em relação
          •  Paralisação da agenda negociadora da OMC             aos acordos de comércio regionais já irmados,

          Para o Brasil, que tradicionalmente conferiu prioridade   investir na convergência e consolidação de um
          à via multilateral em suas estratégias de negociações co-  acordo comercial abrangente na América Latina
          merciais, a postura ameaçadora de Trump à OMC não         e identiicar seus interesses em relação aos
          é boa notícia. Na realidade, a agenda negociadora da      blocos comerciais que se consolidarem na
          OMC já se encontrava praticamente paralisada: o único             região da Ásia-Pacíico
          avanço relevante desde o lançamento da Rodada Doha
          há 15 anos, foi o Acordo de Facilitação de Comércio,                                                  “
          assinado em Bali em 2013.

          A eleição de Donald Trump deverá afastar ainda mais os  Para deinir estratégias que atendam aos interesses brasi-
          EUA das negociações multilaterais, diicultando qual-  leiros, é preciso, como primeiro passo, ter clareza sobre
          quer acordo relevante. No prazo mais curto, reduzem-se  o papel que os acordos preferenciais de comércio devem
          as esperanças de que seja possível obter qualquer avan-  assumir nos objetivos de política econômica domésti-
          ço signiicativo na questão dos subsídios agrícolas, tema  ca.  O principal desaio enfrentado pelo Brasil é voltar a
          considerado central na agenda da próxima reunião mi-  crescer e, para tanto, é crucial aumentar a produtividade
          nisterial da OMC, que será realizada em Buenos Aires  dos fatores de produção. A abertura comercial – pela via
          em 2017.                                            unilateral ou negociada – é uma das áreas de políticas
                                                              públicas mais relevantes para esse im. E os acordos co-
          Parece inevitável que o Brasil reveja o papel que a OMC   merciais podem contribuir para esse objetivo.
          desempenha na sua agenda de negociações comerciais.
          Embora o foro continue sendo o mais adequado para   Uma atualização da agenda brasileira de negociações
          negociar alguns dos temas prioritários para o país, como  comerciais aos tempos de Trump e Brexit exige seleti-
          os subsídios à agricultura, é inevitável voltar os esforços  vidade e ambição. O país deve apostar em iniciativas
          para iniciativas que possam, de fato, prosperar.    factíveis, mas que façam diferença, contribuindo efeti-
                                                              vamente para aumentar o grau de abertura da economia
                                                              brasileira. O hiperativismo desfocado que marcou a
          CONCLUSÕES                                          agenda econômica externa do Brasil nos últimos anos
                                                              não nos levou muito longe.
          Os eventos analisados neste artigo – Brexit e eleição de
          Trump – têm o impacto imediato de turvar o contex-
          to em que se formula a política comercial negociada no  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
          Brasil, aumentando o grau de incertezas sobre o já com-
          plexo cenário do comércio internacional. Entretanto,  BORGER, JULIAN. Transatlantic trade deal ‘not realistic’
          embora o desaio de entender e interpretar as tendências  under Trump, German oicial say. he Guardian. 15 de no-
          no comércio mundial tenha aumentado, surgem tam-    vembro de 2016. Disponível em: https://www.theguardian.
          bém novas oportunidades para a revisão das estratégias  com/world/2016/nov/15/germany-trump-ttip-trade-deal
          brasileiras no campo das negociações comerciais.
                                                              CIURIAK, D.; XIAO, J. he Trade-Related Impact of
          De um lado, reduz-se a pressão introduzida pela emer-  a UK Exit from the EU Single Market. Ciuriak Con-
          gência dos novos acordos megarregionais e seus impac-  sulting Inc., 25 de abril de 2016. Disponível em: http://
          tos negativos para as condições de concorrência dos  papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2620718.
          produtos brasileiros nos mercados internacionais. De
          outro, abre-se a possibilidade de que surjam novas coni-  EHRENFREUND, MAX. he worst-case scenario for the
          gurações de modelos de acordos comerciais (combinan-  economy under Trump just happened in another country.
          do novas áreas geográicas e escopo temático) que per-  he Washington Post, 21 de novembro de 2016. Dis-
          mitam uma aproximação mais suave do Brasil ao mundo  ponível em: http://www.cer.org.uk/insights/theresa-may
          dos acordos comerciais.                             -and-her-six-pack-diicult-deals.

          Nº  129 -  Outubro/Novembro/Dezembro de 2016                                                     53
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