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Acordos e Política Comerciais



          douro no cenário de formulação de política comercial.  O Brasil deveria aproveitar esse momento para identi-
          Assim, vale a pena arriscar a identiicação de alguns im-  icar sua agenda de interesses em relação aos acordos de
          pactos para o Brasil de possíveis tendências na política  comércio regionais já irmados (como a Aliança do Pa-
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          norte-americana para acordos comerciais.            cíico),  investir na convergência e consolidação de um
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                                                              tiicar seus interesses em relação aos blocos comerciais
          •  Rejeição aos mega-acordos regionais de comércio   que se consolidarem na região da Ásia-Pacíico.
             (TPP e TTIP)
          Para o Brasil, que permaneceu à margem da onda de   •  Renegociação do Nata
          acordos comerciais que ganhou espaço no comércio in-
          ternacional a partir dos anos 1990, a hibernação desses   Caso o Nata seja, de fato, reaberto e termine por impor
          acordos pode criar uma oportunidade para a atualização   piores condições de acesso para os produtos mexicanos
          de sua agenda de negociações comerciais.            ao mercado norte-americano, é possível que aumente
                                                              o interesse do México nas negociações em curso com o
          A paralisação do TPP e do TTIP traz algum alívio para  Brasil.   Isso não signiica que a conclusão de um acordo
                                                                    12
          setores exportadores de  commodities  agrícolas brasilei-  bilateral abrangente será fácil, mas poderá haver maior
          ros, que teriam que competir com preferências outor-  empenho do lado mexicano nas negociações.
          gadas a países exportadores agrícolas como os EUA na
          Europa (no caso do TTIP) e EUA, Austrália e Nova    Outra possibilidade é que o México venha a ter maior
          Zelândia em diversos mercados da Ásia no caso do TPP.   interesse geopolítico e econômico na promoção de um
                                                              espaço comercial integrado na América Latina. Nesse
          É possível, também, que os movimentos em favor da   caso, Brasil e México poderiam vir a coordenar esforços
          preservação de maior autonomia na capacidade de regular  para promover a formação de uma abrangente área de
          dos países imponham um freio de arrumação ao que    livre comércio na região, que incorporaria também a
          parecia ser uma  contínua expansão das agendas temáticas  Aliança do Pacíico. Essa não é uma evolução provável,
          dos acordos comerciais. Para o Brasil, que tradicionalmente  uma vez que depende de um amplo conjunto de fatores,
          resistiu a essa expansão, mantendo clara preferência  embora pudesse ser interessante para ambos os países.
          por circunscrever os acordos comerciais aos temas mais
          diretamente relacionados ao comércio de bens, esse freio  •  Preferências por acordos bilaterais
          de arrumação também pode propiciar uma oportunidade
          para que o país se aproxime do novo desenho de acordos  Donald Trump manifestou sua preferência por negociações
          comerciais que poderá prevalecer nos próximos anos.   comerciais bilaterais e tem sido crítico dos acordos já irma-
                                                              dos pelos EUA, com base em uma avaliação negativa da ca-
          O fato de que a TPP e a TTIP entrarão em modo de hiber-  pacidade negociadora das equipes de seus antecessores.
          nação não signiica que outros acordos geograicamente
          abrangentes não possam avançar. É possível, e mesmo  Essa postura pode vir a abrir espaço para uma negocia-
          provável, que a China aproveite esse contexto para avançar  ção bilateral entre Brasil (ou Mercosul) e os EUA. Cer-
          em seus projetos comerciais, concluindo, por exemplo, a  tamente essa seria uma negociação difícil tendo em vista
          Parceira Econômica Regional Abrangente  (RCEP).   os interesses mercantilistas que caracterizam as políticas
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          Muitos dos países que participam dessas negociações são  comercias de Trump e as posições tradicionalmente de-
          competidores importantes do Brasil, mas são também  fendidas pelo Brasil. Ainda assim, talvez seja possível
          mercados grandes e importantes, principalmente para  um acordo menos ambicioso do que o requerido pelo
          produtos em que o país tem vantagens competitivas.   template que os EUA costumavam apresentar aos países


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          10   São 16 os países que estão negociando a RCEP: os dez membros da Association of Southeast Asian Nations (Asean) – Brunei-Darussalam, Camboja,
          Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnam – mais os seis países com os quais a Asean tem acordos de preferências
          comerciais – Austrália, China, Índia, Japão, Coreia, e Nova Zelândia.
          11  A Aliança do Pacíico é formada por Chile, Colômbia, México e Peru.
          12   Brasil e México estão negociando a expansão do ACE-53, acordo de preferências comerciais bilateral no âmbito da Associação Latino-Americana de
          Integração (Aladi).

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