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RBCE - A revista da




          Em diversas passagens, Trump airma que é um ree trader,  sete pontos prioritários da política comercial de Trump.
          mas que o problema é que os acordos já negociados pelos  O presidente eleito airmou que “direi aos parceiros do
          EUA (em particular o Nata, o acordo com a Coreia do Sul   Nata que pretendo renegociar imediatamente os ter-
          e a TPP) são ruins porque foram mal negociados. Para li-  mos daquele acordo para obter um melhor negócio para
          dar com isso, a intenção do presidente eleito é criar um one  nossos trabalhadores... E se eles não concordarem com a
          -stop-shop no Departamento de Comércio para defender os  renegociação, então eu submeterei uma notiicação sob o
          interesses dos EUA nas negociações comerciais. Isso signi-  Artigo  2205 do acordo do Nata” (Tani, 2016).
          icaria, todavia, um rearranjo institucional que depende do
          Congresso e que não parece tão fácil de ser alcançado.   De acordo com esse artigo, qualquer membro pode retirar-
                                                              se do acordo após notiicar os parceiros com seis meses de
                                                              antecedência. A legislação norte-americana permite que o
          •  TPP                                              presidente tome essa decisão sem consulta ao Congresso.
          Entre as medidas que o presidente eleito anunciou para   O que Trump deseja renegociar no Nata não está claro.
          o seu primeiro dia de governo está a retirada dos EUA da   A retórica presidencial sugere que ele pretende impor
          TPP. A saída da TPP é fácil do ponto de vista institucio-  tarifas de importação para produtos provenientes do
          nal, uma vez que o acordo ainda não foi aprovado pelo   México para reduzir/eliminar o déicit comercial bilate-
          Congresso americano e não se encontra vigente.      ral e taxar empresas que moveram ou pretendam mover
                                                              partes do processo produtivo para território mexicano.
          Para entrar em vigor, os países membros têm que comple-
          tar os respectivos procedimentos internos para a ratiica-  Para tanto, teria que reabrir complexas negociações tari-
          ção. O acordo entraria em vigor passados 60 dias da rati-  fárias com os parceiros do bloco, o que poderia reanimar
          icação pelo último de seus 12 membros.  Caso se passem   interesses protecionistas de todas as partes, tornando
          dois anos sem que esse processo tenha sido concluído, o   muito difícil a convergência para um acordo inal.
          acordo poderia entrar em vigência após o cumprimento   Nesse caso, diicilmente o presidente poderia cumprir sua
          dos seguintes requisitos: (i) ao menos seis membros de-  ameaça de campanha e elevar as tarifas de importação
          vem ter concluído o processo de ratiicação; e (ii) esses  de produtos mexicanos para 35%. As tarifas impostas ao
          membros devem responder por 85% do produto interno   México teriam que corresponder àquelas consolidadas na
          bruto (PIB) dos 12 países originalmente signatários.  OMC em bases de MFN, que são muito reduzidas para a
                                                              grande maioria dos produtos.  A menos que Trump decida
          Os EUA, sozinhos, respondem por 62% do PIB dos países
          da TPP, o que signiica que, sem a sua participação, haveria   recorrer aos atos de comércio que permitem a elevação de
          que mudar os termos do acordo para que este possa entrar   tarifas acima do consolidado na OMC em casos de emer-
          em vigência. Na atual coniguração da TPP, o Japão ocupa   gência nacional ou de tratamento desleal por parte dos par-
          a segunda posição no ranking dos países de acordo com o   ceiros comerciais. Muito mais problemático do que o des-
          PIB individual, representando 17% do total.         cumprimento das regras de comércio internacional seriam
                                                              as consequências para o setor produtivo e para os consumi-
          A decisão de retirar-se da TPP provavelmente será   dores norte-americanos de uma decisão como essa.
          mantida e estará entre as primeiras medidas adotadas
          por Trump. Essa decisão contrariará muitos interesses  Outra área temática do Nata alvo de críticas da campa-
          empresariais, mas não tem impactos imediatos sobre as   nha de Trump foi o sistema de solução de controvérsias
          condições de produção e de acesso a mercados dos EUA.   do capítulo de investimentos, que permite a um inves-
          É, portanto, mais fácil de ser tomada do que uma ini-  tidor estrangeiro acionar o governo nacional em uma
          ciativa desse tipo em relação ao Nata. Além disso, não   corte internacional. Esse mecanismo, que vem sendo
          é improvável que, passado algum tempo, o novo gover-  alvo de críticas crescentes por organizações não gover-
          no norte-americano busque reabrir as negociações para   namentais (ONGs) e analistas de comércio, talvez possa
          rever alguns dos dispositivos que incomodam o novo  ser revisto com menor resistência.
          governo, embora não haja clareza sobre quais sejam eles.  Outro alvo de uma possível renegociação do acordo po-
                                                              deria ser as cláusulas laborais e ambientais do acordo,

          •  Nata                                             que muitos críticos consideram insuicientes para pro-
                                                              teger os interesses norte-americanos e que foram sensi-
          A reabertura das negociações do Nata não consta da lista  velmente aprofundadas nos termos do acordo da TPP,
          de medidas do primeiro dia de governo, mas está entre os  tornando-se mais rigorosas.

          Nº  129 -  Outubro/Novembro/Dezembro de 2016                                                     49
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