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RBCE - A revista da FUNCEX

A partir daí, surgiram novos estudos, levando em con-        Impactos positivos de acordos comerciais sobre a pro-
ta as críticas de Rodriguez e Rodrik, e que também en-       dutividade de empresas foram encontrados na Coreia
contraram efeitos positivos da liberalização comercial       do Sul por Jang e Kim (2013); na Argentina, no con-
sobre o crescimento. Uma boa síntese está em Winters         texto do Mercosul, por Bustos (2011); e no Canadá por
(2004), que destaca ainda que as contribuições positivas     Lileeva e Trefler (2010). O fator-chave por trás destes
da abertura estão condicionadas ao grau de consistência      resultados é a complementaridade entre exportação
entre a reforma comercial e o avanço em outras reformas      e adoção de novas tecnologias. Muitas vezes, só vale a
e no aprimoramento institucional.                            pena incorrer nos custos de exportar se a firma tem aces-
Alocação mais eficiente de recursos, ganhos de especia-      so a tecnologias modernas, e vice-versa.
lização e escala, aumento da variedade de bens e serviços    Também têm sido avaliadas empiricamente medidas que
intermediários à disposição dos produtores e acesso a        reduzem a incerteza sobre a política comercial futura.
novas capacitações e tecnologias são alguns dos princi-      Mesmo com pequeno impacto sobre o nível das restri-
pais canais pelos quais a liberalização comercial impacta    ções, a redução de incertezas tende a incentivar firmas
positivamente a produtividade.                               a se engajarem em negócios internacionais, a inovar e a
Há estudos, como os de Estevadeordal e Taylor (2013), e      adotar novas tecnologias, efeitos que se acentuaram com
de Goldberg e al. (2010) referente à Índia, que apontam a    as CGVs. Efeitos desta natureza foram apontados no caso
superioridade em termos de efeitos sobre a produtividade,    da redução das “tarifas-teto” da Austrália na OMC nos
da redução tarifária em bens intermediários e de capital,    anos 1990 (Handley, 2014) e de compromissos de libera-
na comparação com medida equivalente para bens finais        lização no âmbito da OMC (Tang e Wei, 2009).
ou de consumo. No caso dos intermediários, observava-se      No caso de acordos comerciais, ocorre fenômeno seme-
maior eficiência produtiva, e, no caso dos bens de capital,  lhante em termos de redução de incertezas, especialmente
indução de mais inovação. A ênfase recente nas cadeias       se forem com economias grandes e desenvolvidas, o que
globais de valor (CGVs) reforça este ponto, além de evi-     leva a um custo de reversão mais alto, como no caso de
denciar a relevância do setor de serviços para o aumento     Portugal e a então Comunidade Europeia (Handley e Li-
da produtividade do resto da economia.                       mao, 2015). No caso do Brasil, estes resultados sugerem
Outro conjunto de pesquisas identificou mecanismos           que a redução das tarifas-teto na OMC e a entrada em
de realocação de recursos, associados à liberalização        acordos de comércio podem ter efeitos semelhantes de re-
comercial, que operam essencialmente dentro de cada          duzir a incerteza, viabilizando a integração com as CGVs.
setor, na direção das empresas mais produtivas, e até        Johnson e Noguera (2014) demonstram empiricamente
mesmo dentro das firmas. Alguns destes trabalhos são         a relação entre acordos comerciais e inserção em CGVs.
os de Helpman (2013); Bloom e Van Reenen (2007);             Freund e Ornelas (2010), finalmente, indicam que nos
Pavcnik (2002), sobre o Chile; Muendler (2004), sobre        acordos comerciais a criação de comércio tende a ser a
o México; Lopez-Cordova (2003), Brasil; Bloom et al.,        regra, e o desvio de comércio, a exceção.
(2014), países da Organização para a Cooperação e De-
senvolvimento Econômico (OCDE).                              Investimentos diretos no exterior
                                                             Assim como os investimentos externos recebidos aumen-
Acordos comerciais                                           tam a produtividade via novas tecnologias e inputs im-
Em princípio, os riscos de desvio de comércio e os maio-     portados, também os investimentos diretos de um país
res ganhos de escala da liberalização multilateral indi-     no exterior têm impacto positivo sobre a produtividade
cariam que os acordos preferenciais são um second best,      doméstica, conforme demonstram Hufbauer, Moran e
quando se pensa nos impactos sobre a produtividade.          Oldenski (2013) sobre multinacionais norte-americanas.

Na verdade, porém, os impactos da liberalização preferen-    Abertura brasileira dos anos 1990
cial dependem de vários fatores, como a sua abrangência,     Desde o início da década de 1990, diversos autores têm
o grau de abertura anterior, o diferencial de produtividade  procurado estudar os impactos da abertura comercial
e tamanho entre os parceiros, etc. É até possível que haja   sobre a evolução da produtividade no Brasil. Embora
condições tais que o efeito sobre a produtividade de um      estes esforços tenham gerado resultados nem sempre
acordo preferencial, isoladamente ou em conjunto com         convergentes e algumas vezes contraditórios, a maioria
outros, se aproxime daqueles da abertura multilateral.

Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016                                                   9
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