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Política Comercial

  deles encontra relações positivas entre liberalização de    “ A modernização da política comercial
  importações e produtividade no Brasil.                                envolve, além de abrir a economia,
  Hay (1997) indicou que o choque da liberalização no               rever regulações domésticas para torná-las
  Brasil nos anos 1990 reduziu fortemente os lucros das              compatíveis com o padrão internacional
  empresas e seu market-share, estimulando-as a aumentar             em áreas como propriedade intelectual,
  dramaticamente sua eficiência. Ferreira e Rossi (1992);           regulamentos técnicos, medidas sanitárias
  Muendler (2004); Firpo e Pieri (2013), assim como ou-                 e fitossanitárias e proteção ao IDE
  tros autores, também encontraram resultados positivos                        “
  e relevantes para a relação entre abertura comercial e
  produtividade no Brasil.                                    exportam para os Estados Unidos (EUA), mercado mais
  Já Menezes-Filho e Muendler (2011), estudando os im-        competitivo que a média mundial, são superiores aos
  pactos da reforma comercial sobre a alocação do emprego     daquelas que exportam para outros destinos - embora o
  no Brasil, concluíram que menores tarifas de importação     efeito aprendizado nas exportações para o mercado nor-
  para insumos, seja pela redução da pressão competitiva,     te-americano não apareça como significante. De qual-
  seja pelo aumento de eficiência, contribuem para a reten-   quer forma, esses resultados sugerem que o tamanho e o
  ção de trabalhadores nas firmas, permitindo o aumento       grau de competição dos mercados dos potenciais parcei-
  da produção. Johansson e Olaberria (2014) mostram que       ros devem ser levados em conta na estratégia de acordos
  as exportações brasileiras de produtos eletrônicos pode-    preferenciais.
  riam crescer até 26% se as tarifas sobre o mesmo segmen-    Araújo e Flaig (2016), usando o modelo de equilíbrio
  to (que usa fortemente insumos do próprio setor) fossem     geral computável da OCDE, testaram no Brasil o efei-
  reduzidas à média de uma amostra de 54 países.              to da eliminação das exigências de conteúdo local, da
  Resultados de testes econométricos de Fraga e Bacha         redução das tarifas de importação e da eliminação dos
  (2013) indicam que, para um aumento de 1% no nível          tributos indiretos incidentes sobre a exportação. O re-
  de abertura comercial, há elevação da taxa de crescimen-    sultado indica que a atual política comercial e industrial
  to do PIB per capita dos estados brasileiros entre 0,09 e   prejudica o crescimento das exportações, da produção e
  0,13 p.p., mais que o impacto do aumento de um ano          dos investimentos.
  no nível médio de escolaridade dos trabalhadores. Firpo     Em termos de emprego e salário, a evidência é de que os
  e Pieri (2013), partindo de conclusões de Mcmillan e        efeitos da abertura comercial dependem da rigidez do
  Rodrik (2011), mostram que o avanço da produtivida-         mercado de trabalho e da estrutura da economia. Com
  de no Brasil esteve ligado a mudanças estruturais entre     mais rigidez, o impacto se dá mais sobre os salários do que
  setores até 1970, mas posteriormente o vetor principal      sobre o nível de emprego setorial. Ainda assim, fatores
  tornou-se a abertura comercial dos anos 1990, cujo re-      institucionais e tecnológicos explicam mais a diferença
  trocesso é um risco para a eficiência econômica.            salarial entre setores do que a estrutura de proteção.
  Lopez-Córdova e Moreira (2003) detectaram ganhos            A literatura econômica tem resultados favoráveis à aber-
  de produtividade e learning-by-exporting entre 1996 e       tura comercial, mas é importante deixar claro que não
  2000 no Brasil, associados à desgravação do Mercosul,       se trata de uma panaceia. Há ganhadores e perdedores,
  mas a liberalização multilateral simultânea à época difi-   embora a evidência seja de que os primeiros superam
  culta separar as causas.                                    em muito os últimos, e existe benefício agregado para a
  Na verdade, há fortes indicações de que a abertura mul-     sociedade. Mas é virtualmente impossível desenhar uma
  tilateral teve maior efeito positivo sobre a produtividade  abertura comercial sem perdedores. Além disso, apesar
  no Brasil do que o Mercosul, que no seu auge represen-      de todos os ganhos apontados pela literatura econômi-
  tou apenas 17% do total do comércio exterior brasileiro.    ca, nenhum país tornou-se desenvolvido apenas por li-
  Lopez-Córdova e Moreira sugerem que uma estratégia          beralizar sua economia para o comércio internacional.
  mais agressiva de negociações preferenciais pelo Brasil,    Por outro lado, nenhum país entrou para o grupo das
  como perseguir a implementação da Alca, poderia ter         nações adiantadas no pós-guerra sem se integrar signifi-
  trazido maiores ganhos de produtividade.                    cativamente à economia global.
  A propósito, Hidalgo e Mata (2009) confirmam a hi-
  pótese de que os níveis de produtividade das firmas que                              Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016
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