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Política Comercial

  (PT), com a ênfase no fortalecimento das relações “Sul-        tria e as contas externas não melhoraram, mas as contas
  Sul” e o questionamento dos regimes e das instituições         públicas e a competitividade internacional das manufa-
  internacionais identificadas com os interesses do “Norte”.     turas brasileiras se deterioraram.
  Como resultado, o Brasil tem hoje poucos acordos, e de         A crise atual é propícia à revisão dessa fracassada estra-
  baixa relevância econômica: além do Mercado Comum              tégia. A derrocada fiscal força o fim da “farra” de incen-
  do Sul (Mercosul) e dos países andinos, há acordos com         tivos, e o árduo combate às pressões inflacionárias torna
  três parceiros pouco relevantes - Egito, Israel e Palestina -  menos provável a distribuição de proteção pela via do
  e dois com parceiros importantes (Índia e África do Sul),      aumento de tarifas e de medidas antidumping. A desva-
  mas que são irrelevantes pelo seu alcance parcial.             lorização cambial e a retração da demanda interna, por
                                                                 sua vez, criam um ambiente favorável para uma nova
  Política industrial                                            concepção de políticas comercial e industrial, voltada à
  Após a desmobilização parcial de instrumentos de po-           maior inserção internacional da economia brasileira.
  lítica industrial na década de 1990, os governos Lula e
  Dilma reintroduziram com força este tipo de ação go-           INSERÇÃO INTERNACIONAL,
  vernamental com vários planos: Política Industrial, Tec-       PRODUTIVIDADE E CRESCIMENTO
  nológica e de Comércio Exterior (Pitce) em 2004, Polí-         - EVIDÊNCIAS DA LITERATURA
  tica de Desenvolvimento da Produção (PDP) em 2008              ECONÔMICA
  e Plano Brasil Maior (PBM), em 2011.
  A dimensão setorial, já presente na Pitce, em áreas            A teoria econômica clássica das vantagens comparativas
  como software, fármacos e biotecnologia, entre outras,         indica que os países que se integram ao comércio inter-
  foi reforçada na PDP, que elegeu 24 setores produtivos         nacional usufruem da especialização produtiva, que leva
  para serem contemplados com incentivos e medidas de            ao aumento da produtividade e da renda. Medir esses
  fomento. Já o PBM trouxe medidas de estímulo às ex-            benefícios é tecnicamente desafiador, mas a maior dis-
  portações e aos investimentos, adoção de preferências          ponibilidade de dados e capacidade computacional têm
  para produtos nacionais nas compras governamentais             levado a um número cada vez maior de trabalhos empí-
  de bens e serviços e intensificação da exigência de conte-     ricos que buscam detectar e medir estes efeitos. Algu-
  údo nacional em produtos nacionais para a concessão de         mas dificuldades típicas são a de “filtrar” o impacto da
  incentivos fiscais e creditícios.                              liberalização comercial de outras reformas estruturais
  Paralelamente, com vastas transferências de funding do         que frequentemente ocorrem conjuntamente, e não
  Tesouro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-            confundir tendências preexistente com as consequên-
  mico e Social (BNDES) transformou-se em outro polo             cias da maior abertura.
  de política industrial, com maciça expansão das opera-         A abertura comercial tende a acelerar o crescimento
  ções de crédito e políticas para consolidar grandes gru-       econômico. Frankel e Romer (1999) mostram que um
  pos nacionais e tentar aumentar a taxa de investimento.        maior nível de comércio internacional tem impacto po-
  Em setembro de 2011, anunciaram-se medidas de apoio            sitivo e relativamente alto na renda do país. A magni-
  ao setor automobilístico, que levariam, em 2012, ao            tude do benefício depende, naturalmente, da severidade
  novo regime automotivo. Outras iniciativas incluíram           das restrições pré-liberalização.
  a desoneração da folha de pagamento de setores mais            A onda de liberalização comercial e de regimes de in-
  intensivos em mão de obra e a elevação de um ponto             vestimento nos anos 1980 e 1990 levou à realização de
  percentual nos encargos do Programa de Integração So-          diversos estudos, com muitos resultados positivos sendo
  cial/Contribuição para o Financiamento da Seguridade           registrados em relação aos efeitos da abertura na produ-
  Social (PIS/Cofins) dos produtos importados.                   tividade e no crescimento. A maior parte deles focou no
  Nota-se, na pletora de intervenções do período 2008-           impacto da liberalização sobre o crescimento no perío-
  2014, uma tentativa de “microgerenciar” o setor produ-         do que se seguiu às reformas comerciais. Entretanto, as
  tivo. A ênfase no conteúdo nacional e no “adensamento”         conclusões desses trabalhos foram criticadas por Rodri-
  de cadeias produtivas aumentou o custo de produção de          guez e Rodrik (2001), que apontaram problemas meto-
  bens finais. Uma das marcas da política industrial desse       dológicos.
  período foi a total desatenção com os custos. A indús-
                                                                                          Nº 128 - Julho/Agosto/Setembro de 2016
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