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RBCE - A revista da



          e promovendo o desenvolvimento sustentável do setor. “        A transição para uma matriz mais
          ses mecanismos, a Aneel reforça seu compromisso com a
          transparência e a accountability, bene ciando a sociedade

                                                                     limpa, com maior participação de fontes
                                                                     renováveis, deve ser planejada de modo a
          DESAFIOS E BARREIRAS PARA A                                    garantir a segurança energética e
          GOVERNANÇA E TRANSPARÊNCIA                                 minimizar os impactos ambientais. Isso

          NO SETOR ELÉTRICO                                         exige não só a adoção de novas tecnologias,
                                                                       mas também a criação de políticas e
          A governança regulatória no setor elétrico enfrenta diver-
          sos desa os, entre eles a complexidade técnica inerente ao   incentivos que promovam a e ciência
          setor. A rápida evolução tecnológica, como a integração     energética e a redução de emissões de
          de energias renováveis, a digitalização e as redes inteligen-       gases de efeito estufa
          tes, exige que as agências reguladoras estejam constante-
          mente atualizadas e capacitadas para incorporar essas mu-
          danças  em  suas  diretrizes.  A  falta  de  expertise  adequada                                   ”
          pode  resultar  em  uma  regulação  que  não  acompanhe  o
          ritmo da evolução do setor, comprometendo tanto a e -  a pressões políticas que podem in uenciar suas delibera-
          ciência quanto a segurança do fornecimento de energia.  ções. Esse problema é particularmente grave em situações
                                                              em  que  políticas  governamentais  ou  interesses  econômi-
          Outro desa o importante é o equilíbrio de interesses entre   cos  poderosos  entram  em  con ito  com  as  necessidades
          os diferentes stakeholders do setor elétrico. As agências re-  técnicas e econômicas do setor elétrico. A politização das
          guladoras precisam harmonizar os interesses dos consumi-  decisões regulatórias pode resultar em decisões subótimas,
          dores, que buscam tarifas acessíveis e serviços de qualidade,   que priorizam interesses de curto prazo em detrimento da
          com os das empresas, que visam obter retornos  nanceiros   sustentabilidade e da e ciência de longo prazo.
          adequados para seus investimentos. Além disso, o governo
          tem  suas  próprias  metas,  como  a  promoção  de  políticas  As superposições ou inde nições de competências entre
          energéticas  sustentáveis  e  a  garantia  da  segurança  energé-  diferentes entidades, como o MME, a Aneel, a EPE, a Câ-
          tica nacional. Encontrar esse equilíbrio se torna ainda mais   mara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e
          complexo durante crises energéticas ou econômicas, quan-  o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), repre-
          do as pressões de diferentes grupos se intensi cam, tornan-  sentam outro desa o para a governança do setor. Embora
          do a tomada de decisões mais difícil e delicada.    essas  instituições  desempenhem  papéis  complementares
                                                              na regulação e operação do setor elétrico, a falta de clareza
          A transparência e a accountability são também desa os es-  nas atribuições pode gerar con itos, ine ciências e sobre-
          senciais para a governança regulatória do setor elétrico. A   posições de esforços. Assim, a de nição clara de compe-
          transparência é crucial para que consumidores e investido-  tências e a melhoria da coordenação entre essas entidades
          res con em no processo regulatório, mas a complexidade  são essenciais para uma governança mais e caz e coesa.
          das  decisões  e  dos  procedimentos  pode  di cultar  a  com-
          preensão e o acompanhamento das atividades regulatórias   Outro desa o signi cativo é a necessidade de fazer esco-
          pelos stakeholders.  A  accountability,  por  sua  vez,  implica  lhas estratégicas que estejam alinhadas com o desenvolvi-
          que  as  agências  reguladoras  sejam  responsáveis  por  suas  mento sustentável do país. Ao de nir as futuras matrizes
          ações e decisões, o que exige a implementação de mecanis-  energética e elétrica, é crucial considerar a sustentabilida-
          mos  robustos  de  monitoramento  e  avaliação.  Entretanto,  de ambiental e econômica. A transição para uma matriz
          resistências  por  parte  dos  atores  regulados  e  a  opacidade  mais  limpa,  com  maior  participação  de  fontes  renová-
          de algumas práticas podem comprometer esses princípios,   veis, deve ser planejada de modo a garantir a segurança
          afetando a legitimidade e a e cácia da regulação.   energética e minimizar os impactos ambientais. Isso exi-
                                                              ge não só a adoção de novas tecnologias, mas também a
          A interferência política é outro desa o relevante na gover-  criação de políticas e incentivos que promovam a e ciên-
          nança regulatória do setor elétrico. A independência das  cia energética e a redução de emissões de gases de efeito
          agências reguladoras é fundamental para que suas decisões  estufa. A tomada de decisões estratégicas deve, portanto,
          sejam baseadas em critérios técnicos e no interesse públi-  considerar desa os globais como as mudanças climáticas
          co. No entanto, essas agências muitas vezes estão sujeitas  e promover um desenvolvimento sustentável e resiliente.


          Nº  160 - Julho, Agosto e Setembro de 2024                                                         37
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