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Câmbio


          O próximo passo desta investigação seria o de descobrir  de mês por ocasião da rolagem dos contratos. PTAX é a
          por que os bancos em sã consciência assumiam uma po-  denominação da taxa o cial de câmbio de referencia do
          sição tão alavancada na moeda brasileira? A resposta es-  Banco Central do Brasil, a qual é utilizada em contratos
          tava numa operação de arbitragem de taxas de juros entre   nanceiros  e  comerciais,  inclusive  como  referencia  nos
          o Real e as moedas estrangeiras, já que as taxas de juros   contratos de mercado futuro na B3. Por isto sua impor-
          no Brasil eram de dois dígitos, eventualmente entre 10%  tância nesta negociação dos contratos de “carry trade”.
          e 15% enquanto nos países desenvolvidos eram próximas
          á  zero.  Sempre  criativos  no  aproveitamento  de  arbitra-  De  repente  percebia-se  a  hipertro a  do  mercado  futuro
          gens  de  taxas  de  câmbio  e  de  juros,  os  bancos  logo  se  de  câmbio  em  relação  ao  mercado  primário  à  vista.  O
          aperceberam  desta  mega-oportunidade  oferecida  a  eles  mercado futuro tornara-se cinco vezes maior em valor di-
          de  bandeja  pela  anômala  política  monetária  brasileira.  ário transacionado, e portanto sua in uência na formação
          Sendo  o  mercado  futuro  de  câmbio  brasileiro  bastante  da  taxa  PTAX  era  cada  dia  maior.  Os  dealers do  Banco
          desregulado e de razoável dimensão e liquidez, ali estava   Central, quando consultados pela autoridade monetária
          o palco perfeito para a introdução de uma lucrativa ope-  sobre a taxa vigente naquele dia, apontavam a referencia
          ração  nanceira que no jargão dos bancos é denominada  predominante do mercado futuro na B3. Diante da con-
          “carry trade”, ou seja, uma operação contínua de rolagem  centração das operações do mercado de câmbio nas mãos
          e carregamento daquelas posições de arbitragem. Por ro-  de poucos bancos, e dos expressivos ganhos especulativos
          lagem e carregamento entende-se a renovação periódica  pelos agentes que empreenderam operações de “carry tra-
          de contratos futuros de câmbio de curto prazo, digamos  de”  nesse  período,  milhares  de  investidores  pelo  mundo
          de  30,  60,  ou  90  dias,  sem  que  fosse  necessária  a  troca  afora eram aconselhados pelos seus banqueiros a aplica-
          física de moedas, mas somente a cobertura da diferença  rem parte de seus investimentos de curto prazo no “highly
          entre as taxas de câmbio de entrada e de saída destes con-  pro table Brazilian carry trade market.”
          tratos no momento da rolagem ou renovação periódica.
                                                              Para preservar os ganhos da arbitragem de juros, as taxas
          Com a posição exposta em Reais no mercado futuro, os  de  câmbio  de  entrada  e  de  saída  dos  contratos  de  curto
          Bancos, em nome próprio e de seus clientes em carteira de   prazo tinham de ser iguais ou muito próximas. Uma des-
          investimentos, atuavam no mercado de juros, usufruindo  valorização do Real no período lhes causaria um prejuízo
          do  diferencial  entre  os  juros  aplicados  no  Brasil  e  os  ju-  e uma sobrevalorização do Real um lucro adicional. Daí
          ros  no  país  de  origem  do  capital  investido.  A  cada  perí-  resulta as evidências a partir do segundo semestre de 2009
          odo  contratual  de  curto  prazo  rolavam  as  suas  posições  de um acirramento das “brigas por PTAX”, anormalida-
          e  seguiam  lucrando  nesta  arbitragem,  até  que  diante  do  de do mercado que provoca uma valorização cambial ex-
          volume acumulado de operações de “carry trade” no mer-  cepcional no último dia do mês. Esta conhecida disputa
          cado futuro, as “brigas de PTAX” se acirraram a cada  nal  entre comprados e vendidos em dólar ocorre usualmente
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          VARIAÇÃO    MÉDIA   DIÁRIA  DA   TAXA  DE  CÂMBIO     ES UERDA     E  VARIAÇÃO   DIÁRIA   MÉDIA   DO
           MÓDULO DAS VARIAÇÕES CAMBIAIS DESCONTADAS A TENDÊNCIA  DIREITA  PARA O PERÍODO DE
          JANEIRO DE 2010 A DEZEMBRO DE 2012

























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